A queda de Bashar al-Assad, no último 8 de dezembro, marcou o fim de um dos regimes mais autoritários do Oriente Médio. A dinastia al-Assad, que durou mais de 50 anos, deixou um legado de guerra devastadora e opressão.
Após a morte de Hafez al-Assad, em 2000, seu filho Bashar assumiu o poder prometendo reformas políticas, mas entregou mais autoritarismo, como na brutal repressão aos protestos pacíficos em 2011, iniciando uma guerra civil que ceifou cerca de 500.000 vidas, forçou milhões a se tornarem refugiados e gerou uma disputa entre grupos rebeldes pelo controle do território.
Por muito tempo, Bashar al-Assad parecia consolidado no poder, controlando dois terços do território sírio, incluindo as maiores cidades. Sua permanência foi sustentada por aliados como Irã, Hezbollah e Rússia. Contudo, a ofensiva iniciada em 27 de novembro, com a captura de cidades-chave como Aleppo e Hama, culminou na tomada de Damasco em menos de duas semanas pelas forças de oposição lideradas pela milícia insurgente islâmica Hayat Tahrir al-Sham (HTS), selando o fim do regime.
Fatores como a retirada das tropas russas, envolvidas no conflito com a Ucrânia, e o enfraquecimento do Hezbollah, em guerra com Israel, contribuíram para essa derrocada. O otimismo e esperança inicial com a queda de Assad não podem, no entanto, ocultar a dura realidade do futuro da Síria, marcada por uma crise humanitária e pela incerteza política. Quem assumirá o controle?
Milhões de civis terão que lidar com os desafios de um país em ruínas, e o vínculo do HTS com a Al-Qaeda levanta dúvidas sobre o tipo de governo que será estabelecido. Além disso, os grupos opositores, até então unidos com o objetivo comum de destituir o regime de Assad, possuem ideologias, ambições e aliados internacionais com interesses distintos.
A reconstrução da Síria demandará um esforço imenso, tanto econômico quanto social. A transição para a paz será longa e dependerá não só da capacidade dos sírios de encontrar um caminho comum, longe das disputas sectárias, mas também de como as potências internacionais reagirão ao novo equilíbrio de poder da região. Os próximos passos serão decisivos, não apenas para o povo sírio, mas para a estabilidade do Oriente Médio.