Os editoriais de todos os grandes jornais do Brasil se deslocaram para uma questão civilizatória, a saber: a violência policial. Subitamente, parece que o governador Tarcísio de Freitas (Pepublicanos-SP) e seu Secretário de Segurança, Guilherme Derrite (PL-SP), evocaram magicamente um estado paralelo de violência policial, em São Paulo. Penso que não seja uma erva daninha crescendo em terreno árido. Esse tem sido o caso, no Brasil todo, governo após governo, e Tarcísio só levou tudo ao paroxismo.
Desde a operação escudo, a política de segurança de Derrite tem se demonstrado conivente com a violência desproporcional de sua polícia. Em paralelo, revela-sea associação de longo prazo das polícias de São Paulo com o PCC. O diagnóstico, portanto, parece estar errado. O governo Tarcísio de Freitas não criou o estado de coisas, mas é produto objetivo dessas coisas. Não digo que o governador tenha se aliado subjetivamente ao crime organizado, mas sua política objetivamente tem corroborado com a milicianização da PM-SP.
Mas esse não é o caso somente de São Paulo. A milicianização das polícias do Brasil é um fato consumado, de forma mais ou menos desenvolvida, em diversos recantos do nosso território. O controle político-civil das forças militares é um sonho distante, escrito num texto antigo chamado Constituição.
De fato, nenhum governador do Brasil controla sua política; nenhum dirigente político governa aqueles que portam as armas públicas. As forças policiais, especificamente, saíram do controle e hoje sequestraram a pauta pública. Os governos, de esquerda e direita, são flácidos ao tratar da violência policial que toma conta do Brasil – quando não são coniventes e incentivadores.
De São Paulo à Bahia e do Rio de Janeiro ao Ceará, o interesse político eleitoral, somado ao corporativismo, fazem com que a segregação urbana e a gentrificação ganhe contornos de filme de terror. E não há panaceia. Câmeras corporais não serão a resolução do problema. Quando muito, serão um dispositivo de controle precário e facilmente fraudável. Mas acima de tudo, é preciso coragem para revertero que está em curso.