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Raquel Aquino: A privação do ao vivo
Opinião

Raquel Aquino: A privação do ao vivo

Assisti a um show de Caetano Veloso com os filhos, em 2018. Eu estava na primeira fileira do teatro e aproveitei para gravar o espetáculo inteiro. Lamento esse episódio todos os dias da minha vida desde então
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Raquel Aquino (Foto: O POVO)
Foto: O POVO Raquel Aquino

Há alguns anos, existia um bom motivo para frequentar shows ou espetáculos musicais no geral: a vontade de viver aquele momento. Mas, com as nossas vidas cada vez mais “instagramáveis”, os eventos culturais passaram a ser quase como um encontro de criadores de conteúdo. Imagine a cena: o artista chega ao palco e todos os braços sobem, mas não com a intenção de reverenciar aquela pessoa, e sim para fazer o registro em vídeo daquela cena.

Para assistir a esse momento, somente através das telas dos celulares alheios, já que seu campo de visão fica bloqueado. Após, alguns braços abaixam, outros permanecem porque estão produzindo uma live do show.

Fui ao show da Maria Gadú, que aconteceu no Pirata Bar, no dia 10 deste mês. A expectativa para o show era a maior possível, pois já conhecia a performance da artista no palco. No entanto, quase não a vi, ainda que estivesse a 3 metros da artista.

Foi em 2017, que, no Cineteatro São Luiz, vi Gadú em um dos melhores shows da minha vida. Foi intenso e sensível.

Neste ano, ela estava distante em, pelo menos, 20 telas na minha frente. A exposição luminosa e o bloqueio de visão fizeram daquele momento uma experiência fria.

Isso me lembra que, em 2018, assisti a um show de Caetano Veloso com os filhos. Eu estava na primeira fileira do teatro e aproveitei para gravar o espetáculo inteiro. Lamento esse episódio todos os dias da minha vida desde então, já que não tenho sequer uma memória daquele dia além do que consta em meu perfil no Facebook.

Desde então, trato shows como uma sessão de cinema: com celular no modo avião para viver o momento intensamente.

É uma pena, entretanto, que a minha experiência sofra com a decisão alheia. Em novembro, pude ir novamente ao show de Caetano Veloso, que cantava com Bethânia.

Infelizmente, assisti ao momento pelas telas o tempo inteiro, como em 2018, mas, desta vez, por celulares que não pertenciam a mim. Vivi as inteiras 2 horas de apresentação com profundo incômodo pela prioridade que os fãs deram à produção de conteúdo.

O pensamento que predomina é: o que fazem com tantos minutos de vídeo do show? Apagam? Assistem novamente? Vendem… como um DVD?

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