A Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza recém-firmada, a partir do esforço do presidente Lula junto ao G20, demonstra que ainda há muito a avançar na redução das desigualdades e na justiça social. Entretanto, para que esta proposta se efetive, os países e as organizações signatárias precisam estar dispostas a envolver em suas ações, os aprendizados dos movimentos de luta por reforma agrária, pelos territórios indígenas, quilombolas e das populações tradicionais, sobre o modo de pensar e praticar a produção de alimentos. Como já foi dito pela FAO, o problema não é a falta de alimentos. Há um contingente de 733 milhões de pessoas ainda subnutridas, em um mundo que produz quase 6 bilhões de toneladas de alimentos por ano.
Na estratégia da Aliança Global já está a construção de planos de trabalho, programas de transferência de renda e outras ações. Experiências que trazem resultados, e o governo Lula têm muita propriedade para encampar. Mas, também queremos discutir o modelo de produção e comercialização dos alimentos a partir dos fundamentos da agroecologia e do cooperativismo. É preciso que essas experiências sejam massificadas por meio de políticas públicas, que mostrem o potencial do já feito pela agricultura familiar.
O MST está travando esse debate com os bons resultados das iniciativas promovidas em seus assentamentos. São os saberes tradicionais sendo aprimorados com a utilização de maquinários e implementos agrícolas junto com técnicas de agrofloresta. Na comercialização, o beneficiamento dos produtos e a difusão das feiras revelam o potencial e a riqueza do trabalho feito nos territórios de reforma agrária. É dignidade para quem produz e domina toda a cadeia produtiva. É saúde e justiça ambiental para os povos e na mesa de quem consome os alimentos.
Nosso mandato na Assembleia Legislativa do Ceará tem se dedicado a esses temas, temos vários projetos e iniciativas de incidência junto ao Governo do Estado e ao Governo Federal. Queremos contribuir com o debate de políticas públicas. Acabar com a fome é uma urgência, mas devemos aproveitar essa agenda para afirmar toda uma discussão sobre o projeto de sociedade que queremos. Essa é a minha pauta e a do MST.