Mais um início de ano. Tempo de renovação, de revisitar antigos desejos e de planejar o ciclo nascente. No ritmo cada vez mais acelerado e volátil da vida que levamos, muitos estão estabelecendo como meta viver o presente, num movimento de valorização das pequenas coisas e dos encontros face a face. E isso muitas vezes implica na decisão da diminuição do tempo de tela, através da redução do uso do celular, redes sociais e afins. Decisão complexa, já que os smartphones tornaram-se extensões de nossos corpos.
Segundo a Pnad, cerca de 90% dos brasileiros acima dos 10 anos de idade possuem celulares, que é o principal meio de acesso à internet. Pesquisas revelam dados assustadores: a nossa média diária de uso de internet é de mais de 9 horas, sendo que mais de um terço deste tempo é dedicado ao uso de redes sociais, especialmente o Instagram, o WhatsApp e o Tik Tok. Isso significa que mais de 20% do tempo em que ficamos acordados é gasto (ou perdido) com redes sociais.
Em seu livro Nação Dopamina, Anna Lembke explora uma perspectiva marcante de nossa época: a ideia de que temos que ser felizes e ter prazer em tudo que fazemos. Fonte inesgotável de dopamina, substância conhecida como um dos hormônios do prazer, o celular seria, segundo Lembke, uma droga potente e passível de provocar dependência em qualquer pessoa.
Notificações, visualizações, likes, são estímulos e recompensas viciantes ao ponto de que muitos acabem achando que não conseguem viver sem isso, desenvolvendo a nomofobia, dependência do uso do celular. Exagero? Certamente não.
Cada vez mais ligados nas redes e menos conectados com a vida que nos cerca. Creio que seja o tempo de buscar uma nova forma de relação com a realidade que o mundo virtual nos traz. Uma relação pautada no equilíbrio, em que possamos aprender a usar com sabedoria as possibilidades que a realidade virtual nos traz, harmonizando com as pessoas, relações e coisas presentes em nosso cotidiano, que existem, se mantém e que nos alimentam com afetos que independem da internet.