Logo O POVO+
Germana Belchior: Cadê o propósito público na política?
Opinião

Germana Belchior: Cadê o propósito público na política?

Agir com propósito público exige mais do que intenções: requer coragem para romper privilégios, ouvir a sociedade e tomar decisões que beneficiem o coletivo, mesmo que essas escolhas não sejam politicamente convenientes
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Germana Belchior. Pós-doutorado em Direito pelo Centro Universitário de Brasília (Uniceub). Doutora em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). (Foto: Arquivo Pessoal)
Foto: Arquivo Pessoal Germana Belchior. Pós-doutorado em Direito pelo Centro Universitário de Brasília (Uniceub). Doutora em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Propósito público é mais do que um discurso de campanha. É a essência do trabalho de quem assume a responsabilidade de liderar pelo coletivo. Mas a pergunta é inevitável: as pessoas que ocupam cargos políticos realmente atuam com propósito público? Ou estão servindo a interesses privados, grupos privilegiados ou projetos de poder?

A política deveria ser um espaço de diversidade e representatividade, refletindo a pluralidade e demandas sociais urgentes. Contudo, ainda vivemos em estruturas de poder marcadas pela exclusão, onde a presença de mulheres, pessoas negras, indígenas e LGBTQIA+ é mínima, e onde questões cruciais como a proteção ambiental recebem menos atenção do que deveriam. Como construir políticas públicas pautadas na diversidade se muitas destas vozes seguem silenciadas ou distantes das cadeiras ocupadas pelo poder?

Agir com propósito público exige mais do que intenções: requer coragem para romper privilégios, ouvir a sociedade e tomar decisões que beneficiem o coletivo, mesmo que essas escolhas não sejam politicamente convenientes. A liderança política não deveria ser focada em aplausos e garantia da reeleição, mas no enfrentamento dos desafios reais, com empatia e compromisso com quem mais precisa.

Sendo assim, a quem nossos líderes estão servindo? Aos cidadãos que buscam equidade, dignidade e sustentabilidade? Ou a si mesmos, perpetuando estruturas excludentes? A resposta está no impacto - ou na ausência dele. Ainda assim, não podemos perder a esperança: política não é sinônimo de desilusão, mas de transformação quando alinhada ao propósito público.

É hora de exigirmos lideranças que representem a pluralidade da sociedade, que promovam a justiça social e ambiental, e que compreendam que ocupar um cargo público é servir e não ser servido. Como cidadãos, temos a responsabilidade de escolher nossos representantes e de cobrar políticas e decisões que respeitem o bem comum e a preservação do nosso futuro. Talvez, assim, o tal propósito público se torne prática cotidiana da política.

O que você achou desse conteúdo?