Há duzentos anos, um conjunto de operários temerosos, frente à ascensão de um novo arranjo social, decidiu destruir as máquinas, manifestando resistência às inovações tecnológicas. Esses indivíduos, conhecidos como ludistas, sustentavam que as máquinas eram culpadas pela miséria e, consequentemente, pelo aumento da fome.
O decorrer dos acontecimentos mostrou que os trabalhadores não compreenderam a complexidade da situação, pois a culpa pelo agravamento das questões sociais não poderia ser atribuída a um objeto inanimado. As máquinas, por si só, não eram responsáveis. A verdadeira responsabilidade estava na maneira como as tecnologias foram utilizadas, favorecendo o acúmulo de riquezas através da exploração da força de trabalho.
Atualmente, observamos situação parecida. Levando em conta as particularidades do contexto histórico, testemunhamos um objeto sem vida sendo responsabilizado por problemas sociais. Para o governo do Brasil, os aparelhos de celular são artefatos prejudiciais para os jovens e precisam ser excluídos das escolas.
Estamos vivendo uma época caracterizada pela abundância de dispositivos digitais. Pesquisas indicam que os impactos negativos dessa realidade não podem ser ignorados. Contudo, será que a resposta para esse desafio está na restrição do uso de celulares nas escolas? Penso que não. É fundamental educar os indivíduos a utilizarem as tecnologias de forma responsável. Os processos de aprendizagem requerem reflexão, estímulo ao pensamento autônomo e emancipado, não proibições. Nada é mais antieducativo do que a proibição.
Os celulares não surgem por geração espontânea; muitas vezes, são dados por parentes. Se a intenção da medida é limitar o tempo de tela, o que faremos fora do ambiente escolar? Ao evitarmos educar os indivíduos estabelecendo uma medida proibitiva, criamos uma solução que não traz eficácia e não será capaz de reduzir o uso desmedido desses dispositivos.