A implantação da República no Brasil teve suas peculiaridades no comparativo com seus vizinhos da América do Sul, e com os Estados Unidos. Neste, primeira república moderna, era a rebelião colonial contra a Inglaterra, no final do século XVIII, afirmando-se um modelo soberano com autonomia federativa, e amplas liberdades civis, mas mantida a escravidão de africanos. Já nas ex-colônias espanholas, após a independência implantaram-se repúblicas, no início do século XIX, fracionando territórios ao poder das elites (caudilhescas) locais.
O Brasil, favorecido com a vinda da Corte em 1808, proclama Independência com Monarquia. Sua República, em 1889, foi o resultado de um movimento republicano nascido no sistema partidário monárquico que reuniu fazendeiros, burguesia cafeeira, profissionais liberais e militares. Mas, sem ideia de revolução e mobilização popular. A queda da monarquia resultou de uma aliança entre fazendeiros paulistas interessados no federalismo e controle político do Estado, e um exército em luta por interesses corporativos após a vitória no Paraguai.
O desgaste monárquico provocado pelas demandas e agitações do exército serviu de impulso ao interesse golpista da burguesia paulista, que os utiliza na derrubada do Gabinete Ouro Preto. Não foi, propriamente, uma luta contra a pessoa de Pedro II, nem um ódio à Monarquia, mas um ajuste modernizador nas instituições políticas em prol de um regime ao seu talante.
Assim, o nada acidental golpe do 15 de novembro que levou os marechais à presidência da República, inaugurou o uso do militarismo a serviço das elites civis para a reprodução do seu poder e o bloqueio à cidadania. Passada a turbulenta República das Espadas, a oligarquia paulista impôs, com os três primeiros presidentes civis (paulistas), a nova rotina oligárquica que colocaria os militares de volta aos quartéis. Entretanto, viriam a profissionalização das forças armadas, o tenentismo e a construção das ideologias de suas futuras intervenções na política nacional.
Estava dada a senha na república brasileira: para as elites oligárquicas e reacionárias, o militarismo seria o antídoto às mobilizações populares e aos projetos de democratização e igualdade social. Só teriam que conviver com os excessos da caserna, de tempos em tempos.