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Glauciria Mota Brasil: Violência policial: educação e gestão
Opinião

Glauciria Mota Brasil: Violência policial: educação e gestão

Apesar dos avanços civilizatórios trazidos pela redemocratização do Brasil, a prática violenta e letal de um alto número de policiais contradiz a gramática do Estado de Direito, na sua defesa, garantia e promoção
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Glauciria Mota Brasil

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No Brasil, é comum, policiais fazerem uso da suspeição discriminatória como estratégia de abordagem e mais comum, ainda, ter como público-alvo homens jovens, pretos e moradores de periferias. Na atual conjuntura, o que mudou nesse cenário? Não foi o fato dessas abordagens serem marcadas por altos índices de violência policial letal, mas o fato de terem sido mostradas em tempo real nas redes sociais e nos meios de comunicação.

Como explicar um policial matar um suspeito pelas costas ou já algemado e alegar legítima defesa? Que pessoas inocentes em suas casas sejam mortas por “balas perdidas”? Apesar dos avanços civilizatórios trazidos pela redemocratização do Brasil, a prática violenta e letal de um alto número de policiais contradiz a gramática do Estado de Direito, na sua defesa, garantia e promoção.

Diante dessa realidade, muitas vozes se levantaram e me chamaram atenção as que propuseram mudar a “formação policial” para solucionar o problema da violência policial. Como pesquisadora, posso dizer que a “formação policial” é apenas um rito de passagem que garante a entrada na profissão, mas não garante ao longo do tempo aperfeiçoamento e qualificação.

As academias policiais podem mudar oficialmente seus currículos de formação e não mudar nada em seus conteúdos práticos. Mais do que “formação”, a educação continuada das forças de segurança durante toda carreira é uma exigência sine qua non para pensar e fazer segurança pública e por que?

Um policial não pode passar 10 anos sem voltar à academia, o que possibilita, ao “saber-fazer” policial, não ser determinado apenas pelo “saber das ruas” ou pelas práticas arbitrárias e autoritárias dos comandos e/ou chefias imediatas, mas pela mediação entre saberes práticos, técnicos, éticos, informacionais e estratégicos ao longo da profissão mas, sem uma gestão qualificada para pensar e fazer políticas de segurança pública, nos marcos do estado democrático de direito, isso não ocorrerá.

De certa maneira, podemos afirmar que 50% do pensar e fazer segurança pública é gestão de pessoal e carreira para execução da política pública de segurança. Sem esquecer que “o exemplo vem de cima” e como ouvi em muitos depoimentos de policiais: “delegado toqueiro não pode exigir nada dos seus policiais”, “um comandante humano tem todo o nosso respeito, mas aquele comandante autoritário e perseguidor é odiado pela tropa”.

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