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Sandino Moreira: Quais cores queremos nos nossos céus
Opinião

Sandino Moreira: Quais cores queremos nos nossos céus

Existe um movimento natural de retorno dos animais a áreas conservadas. Esse fluxo devolve habitantes das florestas que são afugentados pelas nossas roças, queimadas e mudanças no uso da terra
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Sandino Moreira

Articulista

A Associação Caatinga trabalha com manejo e conservação na Reserva Natural Serra das Almas (RNSA) há 25 anos. Sempre sonhamos alto com o manejo de fauna.

Existe um movimento natural de retorno dos animais a áreas conservadas. Esse fluxo devolve habitantes das florestas que são afugentados pelas nossas roças, queimadas e mudanças no uso da terra.

Nos enchíamos de satisfação quando, nas nossas armadilhas fotográficas, capturávamos uma espécie rara ou nova. Mas sabemos que há um teto. Algumas espécies provavelmente nunca retornarão pela fragilidade de suas populações naturais. Começamos então, junto com o Weber Girão e Fábio Nunes, da AQUASIS, a articular projetos de reintrodução e manejo de fauna, a começar pelo periquito-cara-suja (Pyrrhura griseipectus).

Havíamos submetido algumas propostas para atores internacionais quando tivemos a enorme surpresa de um parceiro inesperado, ousado e idealista que estava aqui do nosso lado. Era o Arvorar! A ideia deles era criar um espaço de imersão com a natureza para marcar os afetos, gerar vínculo com as pessoas e, em contrapartida, promover o retorno da biodiversidade aos céus cearenses.

Quantas cores teríamos de volta? Jandaias, maracanãs, periquitos-caras-sujas, papagaios, araras e, porque não urus, emas, guarás, flamingos?

Foi realmente especial encontrar uma iniciativa que desejava se conectar com a tarefa da conservação desde sua gênese. Mas sonho tem de se materializar com trabalho. Para isso, precisávamos começar por um objetivo concreto e uma das cores tinha uma sonoridade especial.

Era a nossa jandaia! Aprendi com o Weber que o nome do nosso estado provavelmente era uma onomatopeia para o canto das jandaias. Uma ave com esse nível de simbolismo não podia desaparecer do Ceará. Seria um destino sarcástico demais.

O projeto Refauna-Arvorar acontecerá e a jandaia será, nos próximos anos, um abre-alas capaz de atrair mais aliados para a tarefa de refaunar o estado.

Somos pedreiros bem pequenos. Gosto quando encontramos outros pedreiros interessados nessa tarefa. Vai ser interessante essa empreitada com o Arvorar. Será um mural colorido, sólido e bonito. A boa sorte nos acompanhe!

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