"Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia" (Leon Tolstoi)
Em junho acontecia a grande comemoração em nome do padroeiro de Acarape: São João Batista. Durante os nove dias ocorriam as novenas na matriz, ladainhas e o canto Salve Salve São João Glorioso era cantado pelos fiéis no final. Dali íamos todos para a pracinha acompanhados por uma banda de música que aguardava já no patamar tocando os benditos. Na avenida, como chamávamos a pracinha, as duas barracas rivais, representadas pelo partido azul e encarnado, faziam jus aos enfeites nas cores que representavam. E tinham as rainhas representantes! E ali se dava o leilão com prendas doadas pelos fiéis, venda de todo tipo de guloseimas para arrecadar dinheiro para a barraca e diante do maior resultado uma das duas seria vencedora. Tudo em prol da paróquia. A banda ficava no coreto (que foi demolido), e em intervalos do leilão tocava alguma música.
No meio da praça, havia uma pequena e interessante construção circular com portinholas de madeira que davam acesso para a praça (também demolido). Do alto desta, nessas noites de quermesses, a voz do saudoso João Bosco Pontes (in memorian) na radiadora, emitia as mensagens amorosas "de alguém para outro alguém", "para você que está de vestido amarelo", outro alguém oferece essa música. Noites ingênuas e encantadoras! Outra festa de destaque era a coroação de Nossa Senhora no mês de maio, dia 31. Algumas vezes acontecia no altar da matriz, e em outras era campal, no patamar da igreja. Tinham os ensaios dos cânticos, um cântico especial para o anjo escolhido para coroar Nossa Senhora e no dia do acontecimento, a arrumação do altar e o local de cada anjo já determinado anteriormente. Era uma festa bonita, emocionante, onde os anjos em trajes de cetim longos e bem compostos, cabelos cacheados, queriam todo o ano estar ali fazendo parte daquela representação religiosa. Aquela escolhida para coroar a Santa se sentia dedicada e devota para a missão. Era um acontecimento bonito, místico, de amor e respeito ao Cristianismo. Permanece na memória. Hoje, acredito, acontece de modo bem diferente.