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Rodrigo Chaves de Mello: Trump e a Doença Infantil da Política
Opinião

Rodrigo Chaves de Mello: Trump e a Doença Infantil da Política

O cenário internacional mudou, mas os desafios aos países e aos governos permanecem: erradicar a fome, cumprir as metas da ODS-ONU, conter a crise climática, frear as guerras, diminuir desigualdades, entre outros
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Rodrigo Chaves de Mello. Cientista Social, professor da Universidade Estadual Vale do Acaraú e pesquisador do Conselho Latino-americano de Ciências Sociais (Clacso). (Foto: Arquivo Pessoal)
Foto: Arquivo Pessoal Rodrigo Chaves de Mello. Cientista Social, professor da Universidade Estadual Vale do Acaraú e pesquisador do Conselho Latino-americano de Ciências Sociais (Clacso).

Em 1920, no 2º Congresso da Internacional Comunista, Lenin apresentou o texto "Esquerdismo, Doença Infantil do Comunismo". Em sua análise, criticava alas ultra-radicais do movimento comunista que, em nome de um sectarismo tolo e de uma pureza ideológica imberbe, afastavam a luta proletária da tão almejada revolução.

Passado um século, uma nova patologia emerge na política, desta vez no outro extremo do espectro ideológico. A posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos não deixou dúvidas. Como uma caricatura d'O Poderoso Chefinho, franze a testa, faz cara de mal e dispara impropérios com a naturalidade de uma criança mimada: "Nós somos os maiores!", "Perfure, Baby, Perfure!", "Você terá seu carro a gasolina!", "Vamos tomar o país deles!", "Vamos expulsar os imigrantes!", "É tudo culpa da China!".

Bravata após bravata, Trump avança: ameaça o planeta ao ignorar as urgências reais do nosso tempo. Imerso em sua egotrip, despreza as cadeias globais de produção, os tratados internacionais, os direitos humanos e, sobretudo, o fato de que o ecossistema da Terra está à beira do colapso. É desolador assistir à maior economia do mundo abdicar de sua responsabilidade na governança global, trocando cooperação por chantagens e ameaças.

Ante a tragédia climática e a brutalização das desigualdades sociais, o mundo esperava adultos realistas no comando. Em vez disso, recebeu um infante histérico, perverso e delirante, mais preocupado com seu ego do que com soluções para a vida coletiva.

A doença representada por Trump e seu movimento "Make America Great Again" é mais perigosa do que aquela que Lenin criticava. Enquanto o "esquerdismo" buscava, ainda que ingenuamente, construir alternativas futuras, o delírio trumpista ameaça pura e simplesmente implodir o presente.

O cenário internacional mudou, mas os desafios permanecem: erradicar a fome, cumprir as metas da ODS-ONU, conter a crise climática, frear as guerras, diminuir desigualdades, entre outros. Se a liderança global falha, cabe a nós, cidadãos do mundo, resgatar nosso futuro das mãos de políticos cínicos que usam o colapso como moeda de poder.

Respostas céleres e corajosas serão indispensáveis; elas passam pelo fortalecimento de organismos multilaterais, pela retomada da cooperação Sul-Sul, a mobilização de setores organizados da sociedade civil global (incluindo a norte-americana) e pela defesa incondicional da democracia, dos direitos humanos e do meio ambiente.

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