Norberto Bobbio, no ensaio Compreender antes de julgar, lembra uma passagem da Constituição Apostólica do Concílio Vaticano II, promulgada em 1965, no papado de Paulo VI: "O respeito e o amor devem se estender também àqueles que pensam e operam diferentemente de nós nas coisas sociais, políticas e até mesmo religiosas, pois com quanto mais humanidade e amor entrarmos em seu modo de sentir, tão mais facilmente poderemos iniciar com eles um diálogo."
Essa mensagem ressoa com força nos tempos atuais, marcados por polarizações crescentes. A diferença é frequentemente vista como ameaça, não como oportunidade de aprendizado. Redes sociais intensificam essas divisões, criando bolhas que reforçam discursos de ódio. Em vez de buscar compreender, prefere-se destruir o outro. Nesse contexto, o chamado do Concílio Vaticano II por respeito e amor é mais necessário do que nunca. São eles que nos permitem transcender julgamentos imediatos e cultivar o diálogo genuíno.
A tolerância é um ato de fé na humanidade. É um gesto que reconhece a complexidade do mundo e a inevitável interdependência que nos une. Como ensinou Paulo VI, o diálogo não é apenas um instrumento de convivência, mas uma expressão de amor, uma ponte entre diferenças aparentemente intransponíveis.
Quando nos abrimos ao outro com "humanidade e amor", reconhecemos que, apesar das divergências, compartilhamos um destino comum. Essa consciência, tão urgente em nossos dias, pode ser a chave para superar as divisões que ameaçam a paz e a solidariedade no mundo.
A tolerância, longe de ser uma concessão, é uma virtude que eleva a condição humana. Ela nos desafia a sair de nós mesmos, a abraçar a diversidade como fonte de riqueza e a transformar o confronto em diálogo.
A passagem do Concílio Vaticano II precisa nos inspirar a superar um presente tão hostil ao diferente: que o respeito e o amor sejam a base sobre a qual construamos um futuro mais harmonioso e compassivo. Somente assim poderemos viver à altura do que significa, verdadeiramente, ser humano.