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Gláucio Gomes: A fragilidade das mudanças sociais
Opinião

Gláucio Gomes: A fragilidade das mudanças sociais

É espantoso assistir à fragilidade da conquista de direitos, quando o pêndulo político pode fazer a iniciativa privada retroceder bruscamente, influenciada pela confusão entre o que é democracia e o que é ditadura da maioria
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Gláucio Gomes

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Mudança social que não é estruturante, é sempre passageira. Para haver transformação, é preciso que a mudança aconteça na cultura, que seja apropriada e promovida pelas pessoas, no dia a dia, como parte de suas vidas. Algo que só pode ser feito por meio da educação.

Uma demonstração disso é o que está acontecendo agora nos EUA, com o início do governo Trump e o recuo assustado e subserviente das big techs e de outras grandes empresas americanas sobre as políticas de diversidade, igualdade e inclusão e o movimento ESG.

É uma evidência de que essas empresas estavam atuando superficialmente nessas agendas, que seus executivos as aceitaram por oportunismo político e estratégia de marketing. Não houve, portanto, transformação em seus processos de governança e gestão, e sim mudanças artificiais, forjadas para gerar engajamento e ganhos de reputação.

É espantoso assistir à fragilidade da conquista de direitos, quando o pêndulo político pode fazer a iniciativa privada retroceder bruscamente, influenciada pela confusão entre o que é democracia e o que é ditadura da maioria.

Mas é verdade que mesmo mudanças superficiais deixam um legado positivo, quando são apropriadas pelas pessoas, no cotidiano, e repercutem em legislação e políticas públicas. Nesse sentido, houve avanços efetivos em conquistas relacionadas à diversidade, igualdade e inclusão.

Muitas pessoas realmente se educaram e mudaram suas opiniões e comportamento, passaram a ver com olhos mais bem informados e conscientes a realidade discriminatória imposta a grupos não-tão-minoritários, com menor influência nos espaços de poder, menos acesso a oportunidades e que vivem em situações de maior vulnerabilidade.

Tornaram-se mais conscientes de que liberdade pressupõe um ambiente justo e democrático, em que todos e todas encontram espaços e direitos para serem aquilo que aspiram ser, de acordo com suas escolhas e identidades. É verdade também que investimentos e articulações por empresas contribuíram para o fortalecimento da sociedade civil, de organizações e grupos que vão seguir trabalhando por essas agendas.

Esses são resultados que irão gerar repercussões por anos. Mudanças que não serão facilmente revertidas.

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