Desde quando foi eleito pela terceira vez, em 2022, o presidente Lula, seus aliados mais próximos e seus eleitores mais atentos tinham consciência de que o avançar da idade e a saúde dele exigiam esforços para identificar um sucessor político minimamente à altura dos desafios agravados pelo crescimento da ultradireita no Brasil (embalado, ainda, pelo êxito eleitoral obtido em outras nações).
Metade do mandato passou e o que resta é a certeza de que, para não impor riscos maiores ao País, o jeito será buscar uma nova reeleição.
Indiscutivelmente, Lula é referência máxima não apenas do petismo, mas da esquerda brasileira. Mas a missão de escolher bem um sucessor continua em aberto. Onde então falham nesta tarefa o presidente e os que o cercam?
A impressão é que a dificuldade pode estar em insistir que o ungido deva sair necessariamente das fileiras do PT ou do governo atual. Com todo respeito e admiração a nomes como o vice-presidente Geraldo Alckmin, os ministros Fernando Haddad, Camilo Santana e Simone Tebet, que podem, sim, contribuir como vices em uma nova chapa, o cenário político pede, na escolha principal, mais ousadia, garra, muito carisma e identificação sobretudo com o eleitorado jovem.
Experiência administrativa não conta? A verificar pelo resultado da eleição de 2018, parece que não tanto.
A mesma negativa se aplica a nomes como o do apresentador Luciano Hulk e do cantor Gustavo Lima e ao desempenho assustador de candidaturas como as do coach Pablo Marçal, em São Paulo, e de André Fernandes em Fortaleza.
Por que, então, não unir carisma, vigor da juventude, capacidade de comunicação com diversos segmentos etários do eleitorado com experiência administrativa e política?
No contexto atual, esse nome é o do prefeito de Recife (PE), João Campos (PSB). Reeleito com 77,48% dos votos válidos em primeiro turno, carrega no DNA a herança política do pai, Eduardo Campos (potencial presidente da República, não fosse a tragédia aérea que o vitimou em 2014) e do avô (Miguel Arraes), identificados com bandeiras históricas da esquerda e da resistência à ditadura, o que também os aproxima do presidente Lula, além da origem pernambucana.
Formado em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Pernambuco, foi chefe de Gabinete do governo em 2016 e, em 2018, eleito deputado federal mais votado no Estado, tornando-se, em 2020, aos 27 anos, o mais jovem prefeito de Recife. Em 2028, quando concluirá o novo mandato, terá 35 anos, idade mínima para a disputa presidencial.
Cabe, portanto, a Lula, ao PT e seus aliados enxergarem que o nome pode estar mais perto do que se imagina (mesmo partido de Alckmin), aproximá-lo ainda mais, valorizar as conquistas e lições de sua administração ou, por falta de ousadia, insistir no erro de não enxergar além do próprio umbigo e facilitar o caminho da oposição.