Li recentemente que o neurocientista Sidarta Ribeiro, curador da exposição “Sonhos”, disse que a vida moderna está matando os sonhos.
Sendo os sonhos o ponto de contato com a matéria onírica de nossas mentes, de acordo com o neurocientista os sonhos são nossa principal fonte de ideias. Ele acrescenta a informação de que, ao nos afastarmos deles, estaríamos fadados “a uma existência estéril, literal e sem muito espaço para metáforas”.
Sidarta expõe dados da diminuição do tempo médio de sono dos brasileiros, relacionando-a ao uso indiscriminado das telas, compilando importantes conceitos e teorias que demonstram a relação desse fenômeno social com nossa “capacidade de sonhar”.
Ele afirma: “[as novas gerações] serão extremamente literais porque o espaço da metáfora, da alegoria, da poesia, da filosofia está sendo drasticamente reduzido”.
Pai de adolescente e advogado militante, encontro de um lado a preocupação com a (IN)capacidade de sonhar que a humanidade tem apresentado e do outro a preocupação com a ameaça do ocaso das figuras de linguagem, do gênero literário e da ciência humana mencionada. Preocupam-me mais ainda as imbricações que têm com o Direito, em cujo exercício seu conhecimento e aplicação mostram-se essenciais.
Acreditava eu que a falta de interesse pela leitura e as ferramentas tecnológicas de produção de texto da atualidade fossem os únicos algozes das ciências humanas. Entretanto, o neurocientista apresenta mais uma preocupação e nos lança outro desafio: estimular os sonhos.
Que fique claro que não advogo em favor de que as ferramentas tecnológicas de produção textual devem ser refutadas a todo custo, por significarem, como pensam alguns, uma ameaça aos profissionais do Direito, mas repilo quaisquer tendências de desumanizar as ciências humanas.
Sei bem que a obra do cearense Belchior não traz consigo essa simples mensagem, mas ouso valer-me do famoso verso de sua conhecida música para encerrar minha manifestação com o questionamento:
Viver é melhor que sonhar?