Parece até ironia iniciar um artigo com esse tipo de pergunta quando, há menos de uma semana, Juazeiro do Norte viu, mais uma vez, suas ruas serem iluminadas por velas e candeeiros de mais de 90 mil romeiros que participaram da procissão luminosa no encerramento da Romaria de Candeias. No entanto, faço esse questionamento levando em consideração as recentes transformações na forma de fazer romaria - o método já não é mais o mesmo de 40 anos atrás, pelo menos não para todos.
Paus-de-arara, longos trajetos a pé, pagamentos de promessas e ex-votos são elementos que não deixaram de existir. Com exceção do pau-de-arara, proibido por lei, os demais aspectos ainda são traços marcantes da romaria tradicional, considerada por líderes religiosos da região como sendo a "verdadeira romaria".
Em vida, a Ir. Annette Dumoulin, protagonista do trabalho pastoral dos romeiros em Juazeiro, afirmava que era necessário fazer uma distinção entre romeiro e turista. Na perspectiva da freira, o primeiro vem a Juazeiro com o intuito de reabastecer sua fé, expressar sua gratidão a Padre Cícero por alguma graça alcançada e enxerga Juazeiro como uma "Cidade Santa", uma "Nova Jerusalém"; já o turista, embora muitas vezes visite os mesmos lugares que o romeiro, não só possui outro ponto de vista da cidade, como também pode pertencer a outra classe econômica.
O turista não vem a pé, não paga promessa, não entra de joelhos na igreja. Compreender isso é fundamental, porque, desde que as romarias começaram nas terras de Padre Cícero, o romeiro nunca precisou ser bem acolhido para fazer romaria, nem pela Igreja, nem pelo poder público. No entanto, a dinâmica da romaria mudou e, embora Juazeiro tenha crescido usufruindo da injeção econômica desse fenômeno, a cidade ainda peca na infraestrutura que oferece aos seus visitantes.
Transtornos no trânsito por conta do uso irregular das calçadas pelos comerciantes, falta d'água em alguns bairros, preços abusivos no comércio, falta de fiscalização e de segurança - problemas comuns na pauta jornalística durante o período. Até onde a fé do romeiro suporta? As próximas gerações, os netos e bisnetos dos romeiros de agora, seguirão a tradição de seus pais?
A romaria está longe de acabar, mas, se Juazeiro do Norte anseia chegar ao futuro sendo referência em turismo para o Nordeste e para o Brasil, deve começar a aprender, desde já, como melhor acolher seus co-fundadores, já que a cidade deve a eles, aos romeiros, sua construção.