Você sabe, eu sou poetisa e sendo movida pela poesia da ponta da língua até os dedos, eu vejo o mundo à minha própria maneira.
Eu vejo o que nem todo mundo vê, o que costuma passar despercebido pelos olhos de quem tem pressa. Vejo para além das fronteiras, vejo através das cores e por cima dos muros. Vejo por entre as frestas, vejo apesar da pele e ouço.
Eu vejo
e ouço.
Eu ouço o que o silêncio diz, o que os olhos confidenciam e o que os braços suplicam e imploram. Ouço o que o colo diz sem dizer, o que o abraço precisa e o que a curvatura das extensões de ossos bem organizadas de cada espécie me informa através da ausência de sua oratória.
Eu irradio e danço na rua, canto alto e canto mal, sendo honesta. Corro de um lado para o outro, vou ao céu e mergulho profundo, ciente ou não da existência de um fundo.
Seria eu um risco?
Arrisco.
Risco o céu, o oceano e corpos. Risco e assino em sua pele se deixar, me marco em sua alma independente de consentimento porque eu sou imensa e me faço lembrar.
Eu sou a sua lembrança doce… ou amarga. Eu sou a lembrança que você manuseou com cuidado - ou sem nenhum.
Eu sou a mão que afaga,
o colo que acolhe,
a boca que berra e beija.
Eu sou o corpo desnudo
para além do corpo.
E a melodia que nem todos ouvem,
o verso não entendível.
Eu sou o quadro exposto
na parede do museu
que poucos sabem ler.
E eu sou a chuva que a maioria
evita para evitar se molhar.
Eu sou o muito no meio de tantos sendo pouco e por isso, sou demais.
Mas eu vejo a vida,
o mundo,
as cores
e todas as coisas.