Jamais será normal a morte de um homem ou de uma mulher em cumprimento ou em razão de cumprir atividade em órgão de segurança pública. Tolerar como natural a perda de uma vida nessas circunstâncias é o mesmo que admitir dois fracassos numa mesma realidade: o poder constituído está em guerra contra um poder paralelo que detém condições bélicas iguais ou superiores.
Em Fortaleza, somente no primeiro mês do ano, dois casos puseram os holofotes sobre a violência contra as forças policiais. No chamado Grande Pirambu, de modo cruel, foi executado um subtenente da Polícia Militar. Já no Centro, sem chance de defesa, a vítima foi um policial penal.
É fato que o sacrifício da própria vida é um risco da profissão. O que não é factível é tratar exceção como regra. No Donbass, onde o leste europeu assiste a uma guerra, as baixas de russos e ucranianos já não são mais contabilizadas ou noticiadas. Afinal, eis um confronto aberto e declarado. Será esse o próximo passo nos arredores da avenida Leste Oeste e nos demais territórios de Fortaleza e do Interior?
Dados do Governo Federal evidenciam que o Ceará é o estado nordestino com maior número de mortes - assassinatos e suicídios - entre policiais militares, civis, penais, bombeiros militares e outros servidores ligados à segurança pública.
A blindagem de viaturas é uma necessidade que se torna cada vez mais urgente, não somente para que se forneça proteção aos agentes públicos, mas para que seja concedida uma maior sensação de segurança para o bom desempenho das funções. Apontar como "caro" esse investimento é o mesmo que reduzir a pouco ou nada o valor de diversas vidas.
Essa é apenas uma entre centenas de prioridades.
Também é fato que a morte se dá de fora para dentro dos órgãos de segurança. Por várias razões, profissionais se tornam pacientes, apesar de pouco procurarem suporte psicológico ou psiquiátrico. Em sã consciência, quem acredita que uma categoria acorda e dorme tranquila trabalhando em clima de guerra? Infelizmente, como mostram as estatísticas do Governo Federal, o suicídio é outro problema a ser discutido e tratado.
Rússia e Ucrânia podem resolver suas diferenças com um acordo de paz. No Ceará, porém, há signatário somente pelo poder constituído. O poder paralelo não é legítimo para assinar a própria existência, mas escreve com sangue o seu diário de guerra.