Duas notícias envolvendo personalidades do showbiz cearense acusadas de agressão a mulheres marcaram a semana. A primeira, a decretação da pena de apenas oito meses de prisão ao DJ Ivis, cujas cenas de agressão à esposa, em frente à própria filha, em 2021, chocaram a todos. O segundo fato diz respeito à prisão, no domingo (9), do cantor de forró da banda Saborear, Francisco Elson Barbosa, que teria agredido sua companheira com uma faca, no Piauí.
No fim de semana passado, o clima era bem mais ameno. Nossos feeds e stories do Instagram, no último sábado (8), hospedaram uma proliferação de mensagens carinhosas dos homens às "suas" mulheres. Era o velho ritual dos dias 8 de março, quando postagens de fotos românticas, envio de bombons de chocolate, entrega de buquês de flores tentam maquiar o machismo, entranhado nos nossos gametas.
Machismo estrutural e indisfarçável, como o de Bolsonaro (que deu uma "fraquejada" ao ter uma filha mulher), o de Lula (que "escalou uma mulher bonita para melhorar relação com o congresso") e o do prefeito Romário Vieira, de Iúna-ES, que exaltou, na Câmara de Vereadores do Município, em pleno Dia Internacional da Mulher, a utilidade - pasmem! — de lavar louças de nossas meninas. "A gente vai dormir, a pia tá cheia. A gente acorda, tá tudo limpinho". Que patético!
E se você, ao se deparar com as cotidianas notícias de violência contra a mulher, também imagina que isso tem se banalizado, lamento dizer: não é só impressão! De acordo com dados da 5ª edição da Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e do Instituto Datafolha, ao menos 37,5% das mulheres brasileiras já sofreram algum tipo de violência física, sexual ou psicológica cometida por um parceiro íntimo nos últimos doze meses.
O principal autor das violências são o cônjuge, o companheiro, o namorado ou o marido (40%). Ex-cônjuges, ex-companheiros e ex-namorados foram citados por 26,8% das entrevistadas. E o pior: para 57%, a própria casa foi o local onde ocorreu a violência mais grave.
Enquanto isso, a gente vai relevando, relativizando, ignorando os fatos.
E mitigando o remorso a cada 8 de março.
Com bombons, buquês e outras insignificâncias. n