Como amante do rádio, desde a época da extinta Rádio Uirapuru, que eu frequentava como um adolescente curioso pela comunicação, no final dos anos 70 e início dos anos 80, senti uma prazerosa sensação de conviver com grandes radialistas como Cid Carvalho, Will Nogueira, Carlos Fred e Júlio da Imperatriz Sales, como era chamado pelos mais íntimos.
Nessa época, já acompanhava as narrações esportivas, seja do Júlio Sales, Tom Barros e Vilar Marques, pelo rádio. Com a notícia do falecimento de Júlio Sales, que, como a maioria dos narradores da época, narrava os jogos com o coração, extravasando emoção na narração dos gols, principalmente do seu Fortaleza, fiquei bastante tocado.
Júlio era diferente, parece incrível, mas o Júlio tinha essa premonição em alguns jogos e normalmente apostava nas suas intuições e vivência no futebol. Fico sempre imaginando um profissional do rádio que consegue transmitir, em uma narração, a emoção de um jogo de futebol, basquete ou futsal, somente com sua voz forte, onde parece que estamos juntos, vivendo a mesma emoção.
O Júlio Sales era assim: quando gritava no momento dos gols do Fortaleza, o seu 'mata-leão', pois a sua paixão transcendia a lógica das coisas, empolgando até quem não era torcedor do tricolor. Em sua trajetória profissional, ainda batizou vários jogadores, como o Capivara, a Maravilha Negra, o Pantera e até o Homem Raio, o preferido nas suas narrações de gols.
Trazer para a nossa realidade atual o exemplo de profissionalismo e paixão de Júlio pelo que fazia deve servir de inspiração. Com mais de 80 anos, ele atuava sempre, seja às 6h da manhã ou às 11h da noite, e tinha fôlego para comandar programas esportivos como se fosse ainda um iniciante.
Admiro pessoas que, com trabalho, paixão e determinação, conseguem ocupar espaços e continuar produtivas, com milhares de seguidores. Esse é o papel de um líder, que, além de liderar pelo exemplo no que faz, consegue representar uma camada do público que o acompanha. Portanto, que apareçam outros profissionais como ele, que, independentemente da missão, fazia do seu trabalho um instrumento de entretenimento e emoção para os que o acompanhavam.