O Governo Federal anunciou a redução de impostos de importação sobre alguns alimentos como forma de combater a alta da inflação. No entanto, essa medida tem um efeito limitado e incerto sobre os preços praticados no Brasil, especialmente no curto prazo.
É necessário ressaltar que o impacto da decisão está diretamente ligada ao tempo que esses produtos importados chegam ao país, pois processos de negociação, embarque e transporte levam meses, o que dificulta a redução imediata de preços. Além disso, em alguns casos, como o do café, o Brasil já é o maior exportador mundial, o que torna a importação irrelevante. No setor de carnes, as vendas e compras já são realizadas com antecedência, reduzindo ainda mais o impacto.
Produtos como azeite, massas e biscoitos também apresentam efeito irrisório - isso por falta de competitividade internacional ou pelo baixo peso que a redução tarifária teria no custo final. Já o milho pode trazer alívio nos preços, pois sua importação mais barata beneficia tanto o consumidor direto, como o setor de produção de proteínas, reduzindo custos em cadeia. Porém, para que haja vantagem significativa, a isenção precisaria ser prolongada, o que não parece estar nos planos do governo.
Outra questão que destaco é a incerteza sobre a redução dos preços finais. Por exemplo, os supermercados e outros estabelecimentos podem não sofrer inicialmente a diminuição dos impostos. Agora, caso o mercado financeiro reaja negativamente à medida, poderá haver desvalorização do real, reduzindo ou até anulando o efeito positivo esperado.
Com isso, concordo que a inflação alimentar seja um problema complexo e que depende de diversos fatores como produção interna, logística e outras políticas. Mas um ponto que o Governo não se atentou é que 33% dos gastos com alimentação dos brasileiros ocorrem fora de casa. Mesmo assim, nós, que representamos o setor de alimentação fora do lar, não fomos convidados para a discussão sobre essas medidas, uma vez que teríamos contribuições relevantes a oferecer, considerando nossa expertise no setor alimentício.
Portanto, reduzir impostos de importação parece mais uma tentativa de demonstrar ação do que uma solução eficaz para a inflação dos alimentos. O histórico mostra que medidas desse tipo têm pouco efeito duradouro e, se não forem acompanhadas de outras iniciativas estruturais, podem acabar sendo apenas um paliativo temporário.