Em março de 2020, a humanidade foi afetada de forma inimaginável pelo pavor da morte por covid-19 e pelas gravíssimas implicações que esta pandemia nos impôs durante longuíssimos meses — o medo diante do desconhecido, a dor perante s milhares de mortes, a angústia diante da suspensão da vida cotidiana pela necessidade de isolamento social, os impactos socioeconômicos são apenas alguns dos aspectos que podem ser mencionados.
Você se lembra daqueles tempos? Ou melhor: como você lembra do que foi vivido naquele período tenebroso? Para as pessoas que perderam entes queridos, as recordações certamente devem ser pungentes e dolorosas. Para mim, as lembranças são associadas à aflição e impotência diante daquele cenário, e muita indignação diante das ideologias e atitudes negacionistas, que tornaram ainda pior aquilo que, por si só, já era terrível.
A história tradicional é contada por meio de acontecimentos muitas vezes apresentados como algo distante, coisas feitas por pessoas "importantes". Assim, esquecemos ou não temos consciência de que nós, pessoas comuns, fazemos história, tanto por nossas ações quanto pelas nossas memórias, que permitem que o passado não seja esquecido; desta forma, o uso da memória pode se tornar uma importante arma política, pois não permite esquecer aquilo que, por questões de poder, pode acabar sendo apagado, distorcido ou esquecido.
O antigo ditado iorubá diz que "Exu matou um pássaro ontem com uma pedra que só jogou hoje". É importante manter vivas as memórias do que aconteceu durante a pandemia, não no sentido de remoer as dores, mas de não nos deixar esquecer das inúmeras vezes em que o sofrimento do outro foi tratado com irresponsabilidade, deboche e pouco caso pelo então presidente. Bolsonaro está sentado no banco dos réus por tentativa de golpe. Que essa pedra jogada hoje seja um acalento para as famílias dos setecentas mil brasileiros que se foram. n