O bullying tem se tornado uma das maiores preocupações das autoridades brasileiras em virtude dos expressivos casos de violência escolar noticiados na impressa nacional. Segundo dados do IBGE, quase um quarto dos estudantes brasileiros dizem já ter sido alvo de ataques desta natureza. Trata-se, portanto, de um problema urgente, cuja solução deve ser pensada para além dos muros das escolas.
Se por um lado, no plano legal, já se tem regulação através da lei Nº 13.185/2015, bem como a recente inovação trazida pela Lei nº 14.811/2024, que tipifica como crimes hediondos práticas de bullying e cyberbullying; por outro, é preciso, no plano prático, implementar ações e políticas públicas efetivas, sobretudo na perspectiva da prevenção, a fim de conscientizar a população sobre os riscos destas práticas.
Engana-se quem pensa que o bullying é uma temática, unicamente, de ordem educacional. Para compreender este fenômeno, é preciso considerar, além do contexto escolar, a dimensão econômica, social, física, cultural, emocional e intelectual das vítimas, agressores e o núcleo familiar. Neste contexto, a série "Adolescência", retrata bem essa complexidade ao escancarar, em sua narrativa, a vulnerabilidade das famílias frente ao desafio de educar os jovens da atual "geração do quarto".
E o que se pode fazer diante deste cenário? O primeiro passo, é reconhecer que as escolas — sozinhas — não darão conta de resolver essa questão; sendo assim, é importante pensar na utilização de estratégias pautadas nos princípios da gestão intersetorial, cujas bases se sedimentam através da mobilização institucional de múltiplos atores da coletividade, como por exemplo, Secretarias de Governo — educação, saúde, assistência social, cultura —, Conselhos de Educação, Conselho Tutelar, Ministério Público, associações, ONG'S e setores da iniciativa privada.
Ademais, é fundamental que as instituições de ensino revisitem seus projetos políticos pedagógicos (PPP) e reflitam sobre a elaboração de um plano preventivo de combate à violência e fomento à cultura de paz, tendo como base o compartilhamento de responsabilidades com os agentes sociais, através de intervenções diretivas e alinhadas, contribuindo desta forma para a mitigação do processo de institucionalização/naturalização da violência no âmbito educacional. n