O dia 02 de abril marca o Dia Mundial da Conscientização do Autismo e debater o tema significa de forma inevitável revelar a verdadeira face de questões de saúde, educação, rede de apoio e as mais profundas mazelas socioeconômicas. A provocação que intitula esse texto é um chamado de indignação para algo que parece não nos servir mais. A inclusão, o acolhimento exigem prática. E indago por mais quantos e quantos anos vamos ter que ser os "docentes da inclusão" para explicar alguém aquilo que transcende as práticas da ética e cidadania.
O Jornal O POVO, no ano passado, exibiu como capa uma matéria que abordava "Como o autismo se tornou tema central das eleições" em Fortaleza, "Praticamente todos os candidatos a prefeito da capital cearense têm propostas", "Parece que agora todo mundo quer levantar a bandeira do autismo, só aparecem em época de eleição, vislumbram os votos da comunidade. Depois somem".
Os desafios são muito maiores do que meros discursos, o TEA não escolhe raça, gênero ou classe econômica, mas esses aspectos são influências determinantes para ter acesso a um diagnóstico e um tratamento digno. Enquanto o poder aquisitivo permite o acesso a informações e atendimento especializado, outros são condicionados ao descaso do subdiagnóstico. O Transtorno do Espectro Autista não se encerra aos 18 anos de idade, mas a maioria das leis de proteção aos autistas preveem cuidados apenas na infância, essa é outra preocupação que assola as famílias atípicas, "queria que meu filho morresse minutos antes de mim" o forte relato de uma mãe atípica, que prefere levar seu filho junto no seu último dia de vida do que o deixar sozinho ou sob o cuidado de terceiros.
Nesse último parágrafo transformo todo esse texto em uma carta aberta, ao Mateus meu irmão de 13 anos, não verbal, por quem eu dedico os dias de minha vida a ser sua voz, ao Arthur meu primo, notório pelo seu conhecimento, ao Samuel querido amigo, habilidoso no esporte e na arte... isso para dizer que não estamos falando de dados, números ou gráficos estamos falando de amor, cuidado e carinho, como diz os versos de Djavan "Um amor tão puro que ainda nem sabe a força que tem".