A nova rodada de tarifas anunciada por Donald Trump, em 2 de abril de 2025, reacendeu debates sobre protecionismo e suas implicações globais. Enquanto Ásia e Europa enfrentaram tarifas pesadas - até 145% para a China e 45% para a Alemanha —, a América Latina foi amplamente poupada, com tarifas mínimas de 10% na maioria dos casos. Por que essa diferença? Uma explicação está na relação comercial limitada da região com os EUA e na crescente influência da China.
Historicamente, os países latino-americanos mantêm déficits ou relações equilibradas com os Estados Unidos, ao contrário da China, cujo superávit comercial levou às tarifas mais altas. O Brasil, por exemplo, exporta apenas 2% do seu PIB para os EUA, e setores como energia e minerais foram amplamente isentos das novas taxas. Essa baixa exposição pode ter motivado o tratamento mais brando.
Outro fator importante é o avanço chinês na América Latina nas últimas duas décadas. Desde 2001, o comércio entre Pequim e a região cresceu vinte vezes, alcançando US$ 482 bilhões em 2022. Investimentos chineses em infraestrutura e recursos naturais consolidaram presença estratégica em países como Venezuela, Equador e Brasil. Para os EUA, evitar tarifas punitivas pode ser uma tentativa de preservar laços com seus vizinhos diante da crescente disputa com Pequim.
As novas tarifas aprofundam o protecionismo iniciado no primeiro mandato de Trump. Entre 2017 e 2021, ele impôs tarifas sobre US$ 380 bilhões em bens importados; agora, o valor ultrapassa US$ 1,4 trilhão. A retórica do "America First" foi reforçada com o anúncio das tarifas durante o "Dia da Libertação", marcando uma ruptura com o liberalismo econômico.
Apesar de menos impactada, a América Latina não ficou imune. O México enfrenta desafios no setor automotivo com a tarifa de 25%, e exportadores agrícolas brasileiros podem perder competitividade em um mercado saturado.
Mais que uma simples disputa comercial, o cenário atual revela uma batalha geopolítica por influência global. A China amplia sua presença na América Latina enquanto os EUA tentam manter sua relevância histórica. Caberá aos países da região equilibrar essas forças sem se tornarem reféns dessa rivalidade.