É inadequado que um deputado federal expulse um cidadão a pontapés e empurrões das dependências da Câmara. Mas ele agiu dessa maneira depois de ser provocado por um integrante do Movimento Brasil Livre (MBL), cuja especialidade política é o esculacho.
O indigitado xingou a mãe do deputado Glauber Braga (Psol-RJ), ex-prefeita de Friburgo (RJ), de “corrupta”, perguntando “onde está a mamãe”, no momento em que ela estava hospitalizada, devido a uma doença grave, que a levou à morte, menos de um mês após o episódio. Mesmo sem relação, os dois casos ajudam a explicar o impacto psicológico sofrido por Glauber, ao ver a mãe doente implicada em uma situação que nada tinha a ver com ela.
Mas é difícil justificar comportamento assim, mesmo quando se reconhece que a vítima do pé na bunda é um ser humano de péssima qualidade. Gláuber deveria tê-lo ignorado ou chamado a segurança da Câmara para resolver o problema.
A perda do mandato é a pena mais grave pela chamada “quebra de decoro parlamentar”. Em uma agressão física, sem atenuantes, até poderia caber nessa categoria.
Acontece que, durante toda a sua história, a Câmara nunca cassou um deputado por agressão.
O relator do processo contra Glauber, Paulo Magalhães (PSD-BA), que agora acha grave um chute nas nádegas, absteve-se, no ano passado, quando comissão votou pela perda de mandato de Chiquinho Brazão, um dos mandantes do assassinato de Marielle Franco, segundo a Polícia Federal. O processo ainda não foi a plenário.
Além do mais o sujeito é hipócrita. Em 2001, ele desferiu socos e pontapés em uma jornalista dentro da Câmara, sem sofrer consequências.
Braga ainda acusa Arthur Lira (PP-AL) de atuar pela sua cassação, devido às críticas que fez às emendas secretas, quando Lira comandava esse mecanismo como presidente da Câmara.
Dito isso, é obrigatório verificar que a Comissão de Ética tomou a decisão mais grave permitida pelo seu código como vingança contra Braga, por revelar mecanismos que muitos parlamentares preferem deixar ocultos. Afora sua combatividade no enfrentamento à extrema direita e seus partidos auxiliares.
Portanto, só haverá um nome se a cassação for aprovada: injustiça.