Desde o início de seu segundo mandato como presidente americano, Donald Trump adotou uma política comercial marcada por tarifas sobre produtos de diversos países, incluindo aliados estratégicos dos Estados Unidos. Justificadas como parte de uma reestruturação das dinâmicas de poder global, essas medidas desencadearam uma crise mundial com efeitos em cadeias produtivas, padrões de consumo e relações diplomáticas. A resposta de países como a China, com retaliações tarifárias, intensificou a chamada "guerra comercial", cujos reflexos extrapolam o campo econômico e afetam também a agenda climática e ambiental internacional.
A respeito de tais agendas, o tema da energia merece destaque. As tarifas sobre fontes fósseis, como petróleo e gás natural, geram incertezas quanto ao futuro dessas cadeias. Para alguns analistas, essas barreiras podem desacelerar a produção de energia fóssil, em especial a norte-americana, abrindo maior espaço para a expansão produtiva das fontes renováveis. Porém, a ameaça de recessão global tem pressionado negativamente os preços internacionais dessas matrizes, tornando-as ainda viáveis para países menos afetados pelo conflito, o que pode prolongar sua dependência e dificultar metas de descarbonização.
Paralelamente, a indústria de energia limpa também enfrenta obstáculos. A elevação de custos de painéis solares, baterias e turbinas eólicas pode comprometer a expansão do setor e desestimular investimentos. Contudo, tal possibilidade é um desafio que afeta principalmente os Estados Unidos, que podem ver parceiros estratégicos migrarem para alternativas tecnológicas mais baratas oferecidas por países asiáticos, como a China.
Nesse contexto, o Brasil surge como alternativa importante para as cadeias energéticas e produtivas mundiais. Com abundantes recursos naturais, o país pode se beneficiar da reorganização dos fluxos comerciais, ganhando espaço tanto na exportação de petróleo e gás natural quanto no fornecimento e expansão produtiva de matrizes energéticas limpas ou verdes. No entanto, esse movimento também traz riscos. A manutenção da produção fóssil e o avanço do agronegócio - intensificado por acordos e negociações recentes para comercialização de carne brasileira com Vietnã e China, respectivamente - aumentam a pressão sobre biomas como a Amazônia, ameaçando compromissos ambientais e climáticos nacionais.
Em um cenário global marcado por disputas e incertezas, a guerra tarifária iniciada pelos Estados Unidos coloca em risco avanços importantes nos campos climático e ambiental. Para o Brasil, tal cenário representa tanto oportunidade quanto responsabilidade: ao passo em que pode ocupar espaços estratégicos nos mercados globais, o país precisa evitar a armadilha de repetir modelos extrativistas que comprometem seus biomas e suas metas ambientais. O desafio, portanto, é trilhar um caminho que alie protagonismo econômico à liderança climática, contribuindo de forma sustentável para um novo equilíbrio global. n