Nesta semana, nós celebramos o que constitui o núcleo da fé cristã: a morte e a ressurreição de Jesus. O objetivo é penetrarmos, com um olhar novo, o enigma da existência humana. Isso significa que a festa da Páscoa nos convida a descermos aos porões da vida humana e apreendermos que há aí poderes capazes de extinguir tudo ao que se aspira como bom nos projetos humanos.
Muitos interpretam a vida humana, hoje, no horizonte de "perda de sentido", o que significa captar o peso da vida dilacerada que se revela dolorosamente nas situações de violência de todos os tipos: milhões de pessoas vivendo em extrema pobreza, fome, o massacre de crianças e adolescentes, a situação humilhante nos presídios, a discriminação de raças, as diferentes formas de opressão das mulheres, a intransigência cultural, a negação sistemática da diversidade, a rejeição da alteridade, a perseguição de minorias de raça, sexo, etnia, de dissidentes aos regimes autoritários, a sistemática destruição da natureza, a economia das drogas, a presença escandalosa de todos os negados por uma economia configurada em torno do lucro ilimitado de minorias, marcada por discriminações de todos os tipos, guerras criminosas etc.
A finitude e a morte não escancaram a falta de sentido de tudo? A experiência da realidade humana se revela plena de sofrimento, de opressão, de infelicidade. Longe de qualquer fundamento, tudo parece caminhar para o puro vazio, o nada.
Que é, então, fé para os cristãos? Acolhida livre de que os eventos da Páscoa são sinais da chegada da efetivação do que constitui o mais profundo da esperança humana. O grande sinal é a ressurreição: no seio da experiência da cruz ocorre o anúncio da vitória de Cristo sobre o mal e a morte como interpelação a um olhar novo sobre a vida humana e a posturas novas capazes de redirecionar a vida. No fundo da história está em jogo algo fundamental: a busca de realização do ser humano e a convivência respeitosa com a natureza. O anúncio da ressurreição é a afirmação de que essa busca não é vã: abre-se uma possibilidade para uma vida com sentido.
Falar de ressurreição significa falar de uma comunhão radical com Deus, que nem a morte consegue extinguir. Essa palavra começa a ter credibilidade quando gestos de ressurreição começam a fazer declinar mortes sofridas, gestos que possuem a força de ir reconquistando a vida humana e fazendo experimentar, nesta conjunção de alegria e dor, as marcas de vida nova, de recuperação da justiça, da ternura, do gosto de viver e conviver. Certamente o pecado mais perigoso do nosso tempo, como diz o papa Francisco, é a ruptura entre humanidade e natureza, como se fôssemos dominadores de todas as criaturas, como se cada uma delas não tivesse valor intrínseco. Embora o tempo esteja se esgotando, diz o papa, temos um potencial de resistência que nos permite propor e buscar, mediante um processo sério de mudança de postura, medidas sustentáveis para superar o impasse existencial e ambiental em que vivemos. n