Cacá, de berço, Ricardo Guilherme, dos programas e cartazes, R.G, como ele prefere, ou simplesmente o velhinho, como eu prefiro, de agora até sempre, tem assento na cadeira de número 33 da celebrada Academia Cearense de Letras (ACL). Ele passa a ocupar a vaga deixada pela morte da professora Noemi Elisa Soriano Aderaldo, membro da ACL por 36 anos, que tem como patrono o mais cearense de todos os baianos, Rodolfo Teófilo. Homem de teatro, o ator, dramaturgo e diretor chega à casa centenária trazendo olhares para outros textos e formas de expressão.
Fundada em 1894, nossa academia, a primeira do gênero no Brasil, nunca foi tacanha em seu recorte. Embora reúna sobretudo escritores em seu quadro, há ali um encontro de inteligências do mundo acadêmico, jurídico, político, artístico e empresarial. É o fórum mais simbólico que o Ceará dispõe para, no precioso campo do sensível, pensar suas grandes e pequenas questões. Pela força e tradição, a ACL funciona quase que como um parlamento informal a iluminar nossos desejos e ideias de futuro enquanto preserva o passado.
Pouco diverso, é verdade, composto em sua esmagadora maioria por homens brancos, o colegiado passa a dialogar com outros segmentos da vida social e cultural do Ceará a partir do ingresso de Ricardo Guilherme. Apesar de homem branco, como o poeta Geraldo Amancio, eleito para a Academia em 2022, ele oxigena, entretanto, os corredores do Palácio da Luz com uma força popular muito particular. À primeira vista um artista hermético, autor de uma poética central para o pensamento da teatralidade contemporânea, Ricardo se enxerga e reconhece como um palhaço, naquilo que o tipo tem de mais potente e sofisticado.
Referência para o teatro no Ceará há 50 anos, Ricardo Guilherme não é propriamente um novato na Academia Cearense de Letras. Ilustre representante daquela categoria que, como se diz, já nasce velho, ele construiu sua vanguarda dialogando com as nossas tradições. Onde o Ceará conseguiu preservar suas memórias, lá tem estado Ricardo Guilherme fazendo seu teatro. Do acervo da ACL, por exemplo, ele pinçou os originais do grande Carlos Câmara, publicados em coletânea em 1979 em parceria com Marcelo Costa. Por isso e por tudo, enfim, a atuação de Ricardo Guilherme há de ser das mais expressivas na nossa Academia. n