O mundo assiste perplexo à chegada de Trump ao poder. Medidas comerciais extremas, que abalam os mercados mundiais, são uma pequena amostra do que pode acontecer em seu segundo mandato. O isolacionismo subjacente à apologia do "Faça a América Grande Outra Vez" (Make America Great Again) se associa a perseguições de diversas ordens, a começar pelos imigrantes. O cerco às universidades é outro componente desses tempos de crescente intolerância, onde convive-se com reedições de racismos e ameaças à diversidade de um passado que permanece insepulto.
Conhecidas por se constituírem como ilhas de liberdade intelectual, ao longo de sua história, as universidades norte-americanas se tornaram celeiros de excelência, sobretudo por abrigarem cérebros de todas as nacionalidades, o que veio a contribuir para a pujança intelectual expressa em prêmios Nobel em todas as áreas do conhecimento. Este cenário começa a mudar perante a disseminação de uma "ideologia anti-intelectual" que se expressa em um duplo movimento: gigantescos cortes financeiros e supressão da liberdade acadêmica e individual. Universidades de grande prestígio da chamada Ivy League, como Columbia, Princeton, Harvard e Pensilvania, estão perdendo recursos incalculáveis de seu orçamento. Em tempos de caça às bruxas, estudantes com manifestações pro-Palestina estão sendo presos até mesmo na rua e sob risco de deportação iminente, caso da estudante turca Rumeisa Osturk, aluna de doutorado na Universidade Tufts.
Embora tenha havido protestos de rua contra essas medidas, a reação pública ainda parece tímida face à envergadura do que ocorre. Poucos são os que se posicionam contrários a tais extremismos, como fez Christopher Eisgruber, reitor de Princeton, em entrevista à Bloomberg, ao afirmar que "temos de ter a disposição de dizer não a um financiamento se isso vai restringir nossa capacidade de buscar a verdade". Afinal, como dizia Karl Jaspers, filósofo alemão e importante pensador desta instituição: "a universidade é o lugar da busca da verdade sem constrangimentos". E se isso não pode ser, não faz sentido existir. n