A fauna política majoritária do Brasil talvez seja a mais contraditória e caricata do mundo. Temos, de um lado, liberais-sociais que vestem vermelho e agitam a retórica do socialismo enquanto administram a macroeconomia liberal com compensações sociais vendendo-as como revolucionárias. De outro, temos conservadores nos costumes, pseudo-nacionalistas, que são igualmente liberais em economia e criticam até mesmo as compensações mínimas que os seus meio-irmãos desejam oferecer.
Presenciamos, contudo, o potencial renascimento da direita anti-liberal entre nós, a partir da eleição de Trump e da política econômica antiliberal adotada pelos EUA. Trump assassina Paulo Guedes a cada dia de seu governo, e vai ficando cada vez mais constrangedora a filiação liberal-entreguista justamente entre aqueles que adoram os EUA e o Trump, agitam bandeiras do Brasil e falam em nacionalismo. Por uma ironia tremenda, é justamente esta filiação a Trump e aos EUA que pode funcionar, no Brasil, como a alavanca capaz de mudar tudo e subverter a hegemonia liberal entre nós.
A cada dia que passa Enéas Carneiro vai despertando do seu sono profundo, embalsamado no seio do bolsonarismo como um vírus que se multiplica, sob o exemplo chocante de Donald Trump: não há nacionalismo verídico sem nacionalismo econômico, sem protecionismo dos agentes econômicos nacionais. Desgraçadamente, falta o Político no Brasil que será capaz de reivindicar o conservadorismo de costumes e o antiliberalismo econômico de Enéas Carneiro, fazendo com que as contradições maduras explodam para fora do quadro instável e contraditório do bolsonarismo.