Dados recém-divulgados pelo Ministério da Previdência Social expõem grave e preocupante quadro relativo à saúde mental dos trabalhadores no Brasil: foram 472.328 mil afastamentos (licenças médicas) do trabalho por transtornos mentais em 2024. O número supera o dobro dos registros de 2014 (221.721 casos) e é 68% maior que o de 2023 (283.471). No Ceará, foram 12.202 afastamentos do trabalho que tiveram, entre outros motivos, ansiedade (4.095) e depressão (3.024).
Não se tratam de meros números. São cidadãos que, após terem sobrevivido (com cicatrizes) a um tormentoso, mas necessário, período de isolamento social (lockdown) durante a pandemia de Covid-19, encontram no mercado de trabalho tratamentos costumeiramente degradantes e desrespeitosos à sua dignidade, com pressões exacerbadas para cumprimento de metas que extrapolam limites do poder diretivo do empregador, chegando a configurar assédio moral.
A estas estatísticas somem-se familiares e amigos que padecem com as vítimas, os impactos desta tragédia sobre o clima nas empresas (reflexo nos demais empregados, colegas de trabalho das vítimas) e a repercussão nos cofres públicos com o pagamento de benefícios previdenciários e os atendimentos destes pacientes na rede pública de saúde. Apesar disso tudo, pouco esforço efetivo se vê para reverter tão catastrófico quadro.
Byung-Chul Han, em sua clássica obra Sociedade do cansaço, constatou que a "paisagem patológica do começo do século XXI" é determinada por doenças como depressão, transtorno de déficit de atenção com síndrome de hiperatividade-TDAH, transtorno de personalidade limítrofe- TPL e síndrome de burnout, do inglês, burn (queima) out (exterior), que reflete completa exaustão (física e mental) decorrente do excesso de trabalho e, por isso, reconhecida em 2022 pela Organização Mundial de Saúde-OMS como doença ocupacional.
Em números brutos (alguns trabalhadores com mais de um afastamento), foram 141.414 afastamentos por ansiedade no País em 2024, 113.604 por depressão e 52.627 por depressão recorrente. Completam a estatística casos de transtorno bipolar, vício em drogas, alcoolismo, esquizofrenia, vício em cocaína, psicose, reação ao stress grave e transtornos de adaptação. A tragédia retratada requer ações urgentes. n