Li com uma atenção imensa sobre o novo Café Java recém inaugurado na Praça dos Leões e que ficará sob a responsabilidade da Academia Cearense de Letras. Aliás, lembro que um café na ACL é prometido desde a última reforma no prédio, um dos mais bonitos de Fortaleza e que ficaria na área externa com uma bela vista no final da tarde. Ali, ocorreriam saraus e outras programações. Agora, surgiu uma réplica do Java, cujo nome remete ao charmoso Movimento da Padaria Espiritual que surgiu quando jovens de classe média resolveram sacudir Fortaleza da “pasmaceira” reinante, isso em 1892, às vésperas da chegada do século XX.
O Café Java original ficava num dos quadrantes da Praça do Ferreira entre as ruas Floriano Peixoto e Guilherme Rocha. Além do Java, o Café Elegante, o Café do Comércio e o Iracema formavam o quarteto de locais ocupados exclusivamente por homens e reuniam, entre outros, os intelectuais da cidade. O Java era frequentado por uma classe média mais para baixa do que para a alta. O próprio Antônio Sales, criador da Padaria, era um jovem poeta, comerciante, antes de ir embora para o Rio de Janeiro. Praticamente todos os “padeiros” saíram de Fortaleza durante ou ao final do movimento literário, que foi muito mais influenciado pela maçonaria do que por um modernismo nascente no Ceará, como comprovou Rodrigo Marques, escritor e pesquisador.
Também se destacou no dia da inauguração do novo Java a fala do prefeito Evandro Leitão sobre um “marco da nova restauração do Centro”. Confesso que acho nostálgica esta frase. Todos os últimos prefeitos de Fortaleza prometeram restauração do Centro e uma Avenida Monsenhor Tabosa 24 horas. Verdade que de tanto sonho, alguns deles se materializaram como, por exemplo, o Passeio Público, que funciona muito bem, graças à ex-prefeita Luizianne Lins.
Mas, ao fim e ao cabo, o que o Centro de Fortaleza precisa é segurança para as mulheres. Não adianta bibelô nem nostalgia. Há três domingos, quis tomar café da manhã com a minha filha, no restaurante Raimundo dos Queijos, no Centro. Meu marido declinou do convite. Ela estacionou o carro a dois quarteirões do local. No primeiro, duas pessoas nos alertaram para ter cuidado com a bolsa e o celular. No segundo, mais um alerta. Retornamos ao carro e nos recolhemos numa padaria na Aldeota. Não faz muito tempo, duas amigas que encontramos no Theatro José de Alencar pediram apoio ao meu marido para ir até o carro delas, após uma peça.
Ou seja, caso a Prefeitura de Fortaleza realizasse um plebiscito para saber o que é preciso fazer no Centro, veria que, talvez, não precisasse de nada, apenas que nós, as mulheres, nos sentíssemos seguras para frequentarmos o que já existe no Centro. Que pudéssemos ir tranquilas ao TJA, à Estação das Artes, ao Passeio Público, aos restaurantes e cafés que já funcionam, que pudéssemos visitar e levar visitantes à própria ACL, sem medo.
Tornar o Centro um lugar que se possa frequentar com sensação de segurança é a maior requalificação que pode acontecer. Quanto à avenida Monsenhor Tabosa 24 horas, por todos os santos do Céu, há coisa mais importante a se fazer nesta cidade pelo comércio e pelo turismo.