Ainda sob o impacto da morte recente do Papa Francisco, fica a reflexão sobre sua passagem não tão longa como pontífice e os horizontes que se desenham para a Igreja Católica. Um ponto que chamou a atenção foi a ênfase que promoveu na desinstitucionalização, descamando ritos seculares e priorizando posicionamentos de teor mais humanitário e até certo ponto engajado, sem, no entanto, contestar dogmas mais inegociáveis e intangíveis da doutrina cristã.
Pregou uma Igreja itinerante e fronteiriça, globalmente conectada e responsiva, fora do claustro. Uma instituição, portanto, permanentemente em crise, porque justamente não é única, mas plural e multifacetada, equilibrando-se ou esguiando-se entre uma inserção por vezes tímida na sociedade e um zelo permanente pelos seus preceitos curiais.
Uma Igreja ainda intramuros, com ligeiros ensaios em frestas abertas para o lado de fora. Francisco foi uma delas, com alguns discursos e posicionamentos enfáticos, destoantes e dissonantes, mas ainda alicerçado numa instituição masculina, branca e doutrinária. Esta mesma onde não se faz presente, a não ser em traços tênues, a ruptura e a desritualização, mas o rigor e o cerimonial.
A Igreja dos pobres e marginalizados não é a sua tônica e está muito mais nas suas franjas e em grupos minoritários do que no seu interior. Sendo assim, volto à pergunta: um Papa que se retira ou uma Igreja em saída? Só o tempo dirá... Apostaria que o Papa se retirou... O peso da tradição prevalecerá e manterá pequenas portinholas de descompressão e contestação, nada que faça frente à moderação e ao comedimento.
A permanência e a prudência como palavras mestras e norteadoras de sentidos e de práticas! Introspecção e endogenia, com aberturas calculadas e de certo modo vigiadas! As estruturas se moldam e se adaptam, numa oscilação temerosa, desconfiada e sem grandes abalos sísmicos, sem grandes reestruturações. Uma espécie de Revolução Francesa que plana tão alto que não abala a superfície terrena, um plano de fundo que não destoa e não compete com o eixo central.
O Papa saiu, mas a instituição permanece, porque ela traduz a segurança e a estabilidade, celebrando até a ousadia, mas santificando mesmo apenas os fiéis cumpridores do seu dever e do que lhes cabe.