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Leonardo Fernandes: Papa Francisco: humano, demasiado humano
Opinião

Leonardo Fernandes: Papa Francisco: humano, demasiado humano

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Leonardo Fernandes. Cientista político, mestrando em Ciência Política pela Universidade Federal do Piauí. (Foto: Arquivo Pessoal)
Foto: Arquivo Pessoal Leonardo Fernandes. Cientista político, mestrando em Ciência Política pela Universidade Federal do Piauí.

Desde o início de seu pontificado, Papa Francisco se destacou como voz ativa e incansável em defesa da paz e dos mais pobres e marginalizados, tornando-se um verdadeiro exemplo dos ensinamentos de Jesus. Sua eleição, em 2013, marcou uma renovação profunda na Igreja Católica, não apenas por ser o primeiro papa latino-americano e jesuíta, mas também por sua postura humilde e compromisso com as causas sociais e humanitárias.

Francisco enfrentou um mundo marcado por conflitos, e sua trajetória foi pontuada por apelos constantes pelo fim da violência e pela busca do diálogo, especialmente em crises como a guerra na Ucrânia e o confronto entre Israel e Palestina. Sua voz ressoou além da Igreja e alcançou líderes mundiais, tornando-o uma figura relevante na diplomacia internacional. Para ele, a paz não era um ideal distante, mas uma meta tangível que exigia coragem, compromisso e ação concreta. A guerra, segundo Francisco, não era inevitável, mas um fracasso da humanidade em reconhecer a dignidade do outro.

O pontífice argentino promoveu uma Igreja mais aberta, inclusiva e misericordiosa, empenhada em acolher todos sem distinção e enfrentar temas urgentes como a crise dos migrantes, a pobreza extrema e os escândalos internos. Inspirado por São Francisco de Assis, cuja simplicidade e amor pelos pobres buscou imitar, e pelo espírito jesuíta de discernimento e justiça social, optou por uma liderança marcada pela humildade, recusando privilégios e aproximando-se dos mais vulneráveis.

Em sua encíclica Fratelli tutti, escreveu: "Construir a paz exige coragem, muito mais do que a guerra", sublinhando a necessidade de fraternidade universal e compromisso coletivo com a dignidade humana. Em discurso na ONU, reforçou: "A paz não é apenas ausência de guerra, mas compromisso incansável de reconhecer, garantir e reconstruir concretamente a dignidade dos irmãos e irmãs". Essa visão de paz ativa e humanizadora orientou seu pontificado e tornou sua mensagem ainda mais relevante em um mundo dividido.

A morte de Francisco representa uma perda irreparável para a humanidade, especialmente em um momento em que o mundo parece caminhar para novos confrontos entre grandes potências, como Estados Unidos e China, e a paz se torna cada vez mais ameaçada. Sua voz, tantas vezes erguida em defesa dos que não têm voz, silencia, deixando um vazio difícil de preencher.

Francisco foi, acima de tudo, humano, demasiado humano - não por suas imperfeições, mas por sua compaixão radical, capacidade de sentir e assumir as dores do outro e sua luta incansável por um mundo mais justo e fraterno.

Que sua memória inspire novas gerações a perseverar no caminho da paz, justiça e solidariedade. Que sua voz ecoe como um chamado para a construção de um mundo mais humano, fraterno e livre de desigualdades.

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