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Mariana Barros: Como funciona o cérebro bilíngue?
Opinião

Mariana Barros: Como funciona o cérebro bilíngue?

.As crianças que aprendem mais de uma língua desde cedo tendem a apresentar uma maior capacidade de alternância entre tarefas, de manutenção da atenção em meio a distrações e de gestão de informações constantes
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Mariana Barros. Pedagoga e sócia-diretora pedagógica da TreeHouse. (Foto: Arquivo Pessoal)
Foto: Arquivo Pessoal Mariana Barros. Pedagoga e sócia-diretora pedagógica da TreeHouse.

O bilinguismo vem atraindo a atenção de neurocientistas, psicólogos e educadores ao redor do mundo. Por isso, cada vez mais crianças aprendem duas ou mais línguas desde cedo, propiciando uma rica oportunidade para a ciência explorar os mistérios do cérebro bilíngue.

Desde a década de 60, diversos estudos investigam o desenvolvimento cognitivo
das crianças bilíngues. Marina Bialystok, renomada pesquisadora na área, argumenta que o bilinguismo confere vantagens significativas, especialmente no que diz respeito às habilidades de controle executivo. As crianças que aprendem mais de uma língua desde cedo tendem a apresentar uma maior capacidade de alternância entre tarefas, de manutenção da atenção em meio a distrações e de gestão de informações constantes. Tal fenômeno deve-se à contínua necessidade de alternar entre duas línguas, fortalecendo os mecanismos de controle executivo do cérebro.

Outro destaque é a exibilidade cognitiva das crianças bilíngues, que são mais resolutivas e adaptáveis a novas regras. Expostas a múltiplos sistemas linguísticos e culturais, essas crianças desenvolvem uma habilidade notável em considerar múltiplas perspectivas, facilitando o aprendizado de novas línguas e aprimorando o raciocínio lógico-matemático.

A neuroplasticidade é um ponto-chave. Pesquisas indicam que o cérebro bilíngue de crianças apresenta uma maior densidade de matéria cinzenta em áreas relacionadas ao processamento linguístico e ao controle executivo. Estudos de neuroimagem, como a ressonância magnética funcional (fMRI), mostram que crianças bilíngues utilizam ambos os hemisférios cerebrais para processar a linguagem, uma ativação mais ampla que sugere maior conectividade neural e resiliência cognitiva ao longo da vida.

O bilinguismo aprimora o controle inibitório, concentração, exibilidade mental, resiliência, e previne o declínio cognitivo na velhice, retardando possivelmente o Alzheimer em até quatro anos.
A exposição precoce a múltiplos idiomas molda e fortalece a mente humana. Vivemos em tempos onde o bilinguismo não só é uma habilidade valiosa, mas também uma janela fascinante para entender a complexa e maravilhosa plasticidade do cérebro humano.

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