Por mais de três décadas, acreditei na escola como espaço de encontro e transformação. Hoje, vejo uma educação capturada por uma lógica empresarial que cobra resultados e silencia afetos. A missão de ensinar foi relegada às sombras, sufocada por metas, marketing e modelos padronizados.
Mesmo no Ceará — referência nacional em alfabetização —, o esvaziamento avança. Em escolas privadas de Fortaleza, professores enfrentam rotinas extenuantes: produção incessante de conteúdo, presença em múltiplas plataformas, vínculos precários e salários defasados. A escola virou cenário de sobrevivência, com turnos corridos e alunos dispersos pelas telas.
Apesar da nova lei que limita celulares (Lei nº 14.846/2024), a luta por atenção e respeito persiste. A autoridade do professor, como advertiu Hannah Arendt, dissolve-se numa sociedade que idolatra a velocidade e banaliza a experiência. A escola, que deveria formar cidadãos críticos, muitas vezes se limita a entregar "produtos".
Que humanidade estamos formando? Quando a educação se curva apenas ao mercado, rompe-se o elo com a vida. A "pedagogia do cuidado", como propôs Leonardo Boff, cede lugar à pedagogia da cobrança. E o adoecimento docente torna-se norma.
Escrevo como quem se despede, mas também como quem resiste: a vocação que me moveu ainda pulsa. Se quisermos cidadãos — não apenas consumidores —, precisamos devolver às escolas sua humanidade e aos professores sua dignidade. Sem eles no centro, não há futuro.