Três pesquisas de diferentes institutos foram divulgadas nesta semana com os índices de aprovação do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Os números não foram muito diferentes. Mas, os movimentos sim. Na pesquisa MDA, a aprovação do presidente cai e a desaprovação sobe. Na Quaest, há oscilações dentro da margem de erro. Na Atlas, a aprovação subiu e a desaprovação teve oscilação negativa. Para onde, afinal, está indo a avaliação de Lula?
As pesquisas que podem parecer mais contrastantes são as de MDA e Atlas, divulgadas no mesmo dia. Porém, há uma explicação para a diferença nos movimentos. Os dois institutos realizaram pesquisas em janeiro. A Atlas fez novo levantamento em março. E ambos voltaram a campo agora. A MDA não realizou pesquisa entre as de janeiro e maio. Aí está uma possível explicação para a diferença dos movimentos: A Atlas captou um movimento entre janeiro e maio que não está na MDA.
Em janeiro, Lula tinha 52% de aprovação na Atlas e 55% na MDA. Em março, caiu cinco pontos na Atlas e foi a 47%. Agora em maio, o MDA capta a queda de 4 pontos da aprovação do presidente, que vai a 51%. Na Atlas, houve uma alta de 4 pontos. A aprovação do presidente ficou nos mesmos 51%.
Pelos números do Atlas, Lula teve uma queda, sim, e chegou em março ao número mais baixo da série do instituto, com aprovação abaixo de 50% pela primeira vez. Mas, agora estaria havendo uma recuperação, depois do pior momento até aqui. Vale observar que, no começo do ano, o Atlas trazia o presidente com 3 pontos a menos do que aparecia na MDA.
No MDA, apenas com os números de janeiro e maio, não é possível responder ao que aconteceu entre um momento e outro, e se Lula já esteve de fato pior, como indica a Atlas. As próximas pesquisas permitirão observar se há tendência de recuperação, se haverá estabilidade ou se a queda irá continuar.
Já o instituto Quaest realizou as mais recentes pesquisas em dezembro, fevereiro e novamente agora. Os números mostram que a queda ocorreu entre dezembro e fevereiro. Agora, o cenário é estável, embora ainda com oscilação negativa dentro da margem de erro.
Os três institutos convergem, portanto, no fato de que a avaliação de Lula piorou desde o início do ano. A questão é se a queda prossegue, como o MDA pode indicar, ou se é o fato de haver uma pesquisa a menos que faz com que não esteja captado o movimento de recuperação ou estabilização, observado em Atlas e Quaest, respectivamente. De todo modo, os números atuais não retornam aos patamares observados até janeiro.
Quando os números são observados isoladamente, os resultados são muito próximos. MDA e Atlas mostram Lula com 51% de aprovação. Quaest, com 50%.
Na desaprovação, a pesquisa MDA é a única que apresenta variação fora da margem de erro. O crescimento é de quatro pontos percentuais. Mas, o índice de 44% é numericamente o menor entre os três institutos.
Na pesquisa Atlas, a desaprovação do presidente oscila de 46% para 45%. Na Quaest, há o caminho inverso, de 46% para 47%. Considerando que a variação na Quaest considera o intervalo entre fevereiro e maio. Na Atlas, entre março e maio.
A pesquisa MDA foi realizada entre 1º e 5 de maio e ouviu 2.002 pessoas. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos.
A pesquisa Atlas foi realizada de 3 a 6 de maio, com 1.904 entrevistados. A margem de erro é 2 pontos percentuais.
O Quaest foi a campo entre 2 e 6 de maio e ouviu 2.045 pessoas. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos.
Para onde caminha a avaliação do governo Lula
Com a publicação das três pesquisas nesta semana, dos institutos MDA, Atlas e Quaest, qual a síntese e a leitura que se pode extrair quanto à piora ou a melhora no quadro geral da avaliação do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT)?
O cientista político e desenvolvedor de pesquisas qualitativas e quantitativas de Opinião Pública, Adriano Oliveira, destacou em entrevista ao O POVO que as perguntas dos institutos são diferentes, portanto, geram resultados distintos.
O Quaest pergunta aos entrevistados sobre o trabalho de Lula, que é aprovado por 50% da população. Já Atlas e MDA indagam sobre o desempenho da gestão — ambos apresentam resultado de 51%.
Adriano explica que as avaliações de governo são conjunturais. Ele cita o caso da tragédia vivida no Rio Grande do Sul, durante as fortes chuvas, e que isso pode contribuir negativamente ou positivamente para Lula. Ele aponta ainda que o julgamento positivo passará por entregas na área da economia, onde o impacto para a população é atualmente negativo.
"A inflação de alimentos pesa contra o governo Lula neste instante. Ao declinar, podemos ter a variação positiva da popularidade. A tragédia do Rio Grande do Sul pode contribuir negativamente ou positivamente", disse Adriano, colunista do O POVO.
"Se a inflação de alimentos aumentar, contribuirá negativamente. Caso não, Lula poderá ser visto com um líder que ajudou o Estado (Rio Grande do Sul) diante da tragédia. O governo precisa fazer entregas econômicas para aumentar a sua popularidade", acrescentou.
Felipe Nunes, diretor da Quaest, destacou que, na pesquisa do instituto, a aprovação (50%) e a desaprovação (47%) de Lula apresentaram um empate técnico pela primeira vez. Ele comentou o levantamento na rede social X, antigo Twitter.
Ele disse que, embora a variação entre os meses de fevereiro e maio esteja dentro da margem de erro, é o menor saldo de aprovação já registrado pelo presidente Lula. Na região Sul, a aprovação parou de cair, mas, de acordo com Felipe, é cedo para afirmar se é reflexo das ações do governo em relação à tragédia.
Já o CEO da Atlas/Intel, Andrei Roman, pontua que os dados do instituto não são destoantes dos da MDA. Ele explicou que a maior queda da aprovação do governo Lula ocorreu em março, enquanto a última pesquisa MDA foi divulgada em janeiro.
Os números da avaliação positiva, inclusive, tanto da Atlas como da MDA ficaram em 51%. A diferença está nos dados anteriores. No Atlas representou uma alta, visto que na última pesquisa, em março estava em 47%, enquanto a MDA uma queda, pois em janeiro, data da última avaliação, pontuava 55%.
Quase metade das pesquisas é financiada com recursos dos próprios institutos
Levantamento feito pela Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep) na base de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) verificou que das 943 pesquisas de intenção de voto oficialmente registradas na Justiça Eleitoral entre 1º de janeiro e 14 de abril, 432 foram pagas com "recursos próprios".
Em termos proporcionais, significa que quase a metade dos levantamentos (45,85%) sobre a intenção de votos nas eleições municipais foram feitos, na prática, gratuitamente por empresas que a rigor são contratadas para prestar o serviço. Em menos de quatro meses, essas empresas deixaram de faturar R$ 3,3 milhões em pesquisas com nomes de pré-candidatos a prefeito e a vereador.
"Nos parece que alguma coisa não está muito correta, tendo em vista que uma empresa de pesquisa, como qualquer outra, vive da venda dos seus serviços. Uma empresa de pesquisa vende serviços e cobra por eles", diz o cientista político João Francisco Meira sócio-diretor do instituto Vox Populi e membro do conselho superior da Abep. "O volume que esse tipo de prática atingiu é um verdadeiro escândalo nacional", alerta.
A realização de pesquisas autofinanciadas não é ilegal e está prevista em resolução baixada em fevereiro pelo TSE. Nesses casos, as empresas deverão informar valor e origem dos recursos e apresentar demonstrativo de resultado financeiro no ano anterior às eleições.
Os dados da planilha da Abep também são coletados pelo Ministério Público Eleitoral (MPE), ligado à Procuradoria-Geral da República. Segundo a Justiça Eleitoral, o MPE é "uma das partes legitimadas a fiscalizar e dar andamento às denúncias de pesquisa eleitoral irregular."
O MPE confirmou à reportagem que o autofinanciamento de pesquisas por si só não constitui irregularidade se não houver outros indícios da prática de ilícitos. "A arquitetura de nossa base de dados não permite um levantamento consolidado de procedimentos sobre supostas fraudes cometidas em pesquisas autofinanciadas", diz em nota encaminhada à redação.
Em 2020, após a realização das eleições municipais, o MPE pediu às procuradorias regionais eleitorais que fizessem a apuração de "potenciais irregularidades" nas pesquisas pagas com recursos próprios, conforme denunciado na época pela própria Abep .
As pesquisas autocusteadas entre o início de janeiro e meados de abril deste ano tiveram custo menor do que os levantamentos com contratantes. De acordo com planilha elaborada pela Abep, o valor médio das pesquisas pagas por contratantes foi de R$ 9 mil, as pesquisas pagas com recursos próprios custavam 14% a menos, R$ 7,8 mil. Em regra, o valor da pesquisa depende da logística, determinada pela metodologia (presencial ou remota), tamanho da amostra e volume do questionário.
Nove em cada dez pesquisas eleitorais pagas com recursos próprios das empresas foram feitas em cidades do interior. Goiás teve o maior número de pesquisas desse tipo: 82, acima inclusive de São Paulo (com 79 levantamentos). Conforme a planilha, o único estado em que não se verificou pesquisas autocusteadas no período foi o Amapá.
Somente pesquisas registradas na Justiça Eleitoral podem ser divulgadas pelos partidos, candidatos e meios de comunicação. Há desconfiança entre empresas filiadas à Abep de que as pesquisas autofinanciadas trazem resultados que são peças de publicidade política para promover pré-candidatos ou inviabilizar concorrentes antes das convenções partidárias que devem ocorrer até 5 de agosto.
É o que pensa, por exemplo, o administrador Mario Rodrigues Filho, fundador do Instituto Grupom com sede em Goiânia. Ele desistiu de publicar pesquisa eleitoral este ano para não expor a imagem do instituto. "Querem usar a nossa marca, o nosso nome, uma empresa que tem 52 anos de atividade com pesquisas de mercado e política. Precisam de marca para fazer sua divulgação."
Rodrigues Filho acrescenta que "grande parte" das novas empresas que apareceram no mercado oferecendo pesquisas eleitorais de feitio promocional "não têm no seu portfólio e nem no seu registro de contrato social a realização de pesquisa de mercado ou de opinião." O administrador ressalta que algumas empresas têm capital social inferior aos valores dos levantamentos que declaram autofinanciamento.
Segundo João Francisco Meira, da Abep, entre as empresas que declaram ter feito pesquisas entre janeiro e meados de abril há prestadores de serviços a prefeituras, como agências de publicidade do interior e até mesmo empresas de coleta de lixo.
Ele chama a atenção para o fato de que, além da desinformação na divulgação das pesquisas autofinanciadas, as empresas criam nomes assemelhados a institutos mais conhecidos pela população para confundir eleitores. Conforme Meira, "Inventar uma empresa de pesquisa cujo nome soa muito parecido com outras mais conhecidas representa contrafação [imitação ilegal] e é burla cognitiva."
No fim de maio, a Abep deverá fechar nova planilha com dados sobre as pesquisas eleitorais registradas na Justiça Eleitoral.
Promessas não estão sendo cumpridas para 63% dos ouvidos na Quaest
Na pesquisa do instituto Quaest, divulgada na última quarta-feira, 63% dos brasileiros afirmam que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não está cumprindo o que prometeu na campanha presidencial de 2022. O estudo aponta ainda que 32% acham que o petista está entregando o que se comprometeu a fazer no comando do País.
A Quaest ouviu 2.045 eleitores presencialmente em 120 municípios, entre os dias 2 e 6 de maio. A margem de erro é 2,2 pontos porcentuais e o nível de confiança é de 95%.
Os brasileiros que vivem no Sudeste são os que mais acreditam que Lula não está conseguindo cumprir o que prometeu durante a campanha (74%). Os que vivem no Nordeste, reduto petista, são os que mais consideram que ele está entregando o que garantiu que faria na disputa contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), 50%.
Há dois meses, quando pesquisas de avaliação atestaram uma queda da popularidade do petista, Lula admitiu que não estava cumprindo aquilo que prometeu na campanha eleitoral. "Eu falei: 'Tudo bem'. É porque eu estou aquém do que o povo esperava que eu estivesse (fazendo), não estou cumprindo aquilo que eu prometi. E eu tenho consciência que não estou cumprindo", disse o presidente, durante um evento realizado no Rio Grande do Sul em 15 de março.
Lula justificou que o não cumprimento daquilo que prometeu na campanha presidencial se dá pelo pouco tempo de mandato. "Quando eu planto um pé de jabuticaba, eu não chupo a jabuticaba no dia seguinte. Tenho que esperar ela crescer, ela brotar", afirmou.
A Quaest também perguntou aos entrevistados se eles acham que Lula governa para o Brasil inteiro. Mais da metade (52%) das pessoas diz acreditar que ele está fazendo um governo que busca atender às necessidades de todos os brasileiros. Outros 35% acham que o petista está trabalhando apenas para quem votou nele em 2022. Outros 13% não souberam responder.