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Qual é o peso do Nordeste nos poderes da política brasileira?
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Qual é o peso do Nordeste nos poderes da política brasileira?

Região que historicamente ocupou menos espaço nos principais polos no Brasil, tem destaque e protagonismo inédito
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O momento político brasileiro, como de costume, é bastante intenso, principalmente no Congresso Nacional. O cenário está longe de escapar da polarização que dominou as últimas eleições e neste contexto, a disputa na Câmara dos Deputados e Senado Federal é complexa.

Com a conjuntura posta, o Nordeste tem um peso talvez nunca visto na República brasileira, tanto no Executivo como no Legislativo, tendo personagens da região atuando como protagonistas em pontos cruciais.

Dos quatro comandantes dos três poderes, dois nasceram no Nordeste: Lula, nascido em Caetés (PE) e Arthur Lira, natural de Maceió (AL). Os outros dois, Rodrigo Pacheco, embora nascido em Rondônia tem carreira política em Minas Gerais, e Luís Roberto Barroso, de Vassouras, no Rio de Janeiro.

Nordeste decisivo para Lula em 2022:

Para entender o peso político da região é necessário analisar como o Nordeste foi decisivo nas eleições de 2022 para a formação do atual Parlamento e do próprio governo. Em uma votação histórica, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) venceu por menos de 3 milhões de votos o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

A única região em que o petista teve vantagem foi justamente o Nordeste, e foi a maior entre eles. Lula 69,34% dos votos válidos no segundo turno contra 30,66% de Bolsonaro. Foram mais de 12 milhões de votantes nordestinos de margem.

Os principais estados que garantiram esta decisiva diferença foram Piauí com 76,83% dos votos, Bahia (72,11%) e Maranhão (70,93%). O Ceará aparece na sequência, com 69,97% para Lula e 30,03% para Bolsonaro.

Quem manda no Parlamento?

A entender que a bancada nordestina é de cerca de 30% do Congresso, uma vez que cada região elege uma quantidade de parlamentares a partir de sua população, mas são congressistas que estão na linha de frente para liderar um projeto nacional.

O presidente Lula é natural de Pernambuco, embora tenha feito sua carreira política em São Paulo. E os líderes de seu Governo, também são da região.

Lula confiou a dois nordestinos o papel de liderarem a Câmara dos Deputados e o Senado Federal. O deputado federal cearense, José Guimarães (PT) é líder do Governo em um parlamento de 513 deputados. Câmara dos Deputados, inclusive presidida por Arthur Lira (PP), nascido em Alagoas. Já na Câmara Alta, é o baiano Jaques Wagner (PT) quem encabeça a função.

Além de Guimarães, a Casa Baixa conta com André Figueiredo (PDT-CE), líder da maioria que engloba um bloco formado por 16 partidos, que juntos somam 397 parlamentares. Waldemar Oliveira (Avante-PE), Isnaldo Bulhões (MDB-AL), Elmar Nascimento (União Brasil-BA) e Antônio Brito (PSD-BA) são outros deputados federais considerados "mandachuvas".

Já no Senado, dominância. Seis dos 7 líderes de blocos partidários são nordestinos: Eliziane Gama (PSD-MA), Efraim Filho (União Brasil-PB) do Bloco Parlamentar Democracia; Styvenson Valentim (PP-RN) do bloco Independência; Ciro Nogueira (PP-PI) da Minoria; Laércio Oliveira (PP-SE) do Aliança; e Renan Calheiros (MDB-AL) da Maioria. Entre os opositores, o maior expoente é o senador potiguar Rogério Marinho (PL-RN).

Nas comissões parlamentares, o Nordeste também tem destaque em colegiados importantes. Na de Desenvolvimento Econômico (CDE), de muito interesse do Governo Federal e Congresso em si, o presidente é o deputado federal do Ceará, Danilo Forte (União Brasil).

Eunício Oliveira (MDB-CE), presidente da Comissão de Desenvolvimento Urbano, Waldemar Oliveira (Avante-PE), de Administração e Serviço Público e Júlio Arcoverde (PP-PI), Mista de Orçamento, são outros deputados federais nordestinos que comandam comissões.

No Senado Federal, são três comissões presididas por parlamentares da região. Assuntos Sociais, por Humberto Costa (PT-PE), Desenvolvimento Regional, Marcelo Castro (MDB-PI) e Relações Exteriores, chefiado por Renan Calheiros (MDB-AL).

Ministério tem a maior representação nordestina da história

A equipe de ministros de Lula tem atualmente 39 membros, destes o Nordeste ocupa 15 pastas, cerca de 38%, o maior número da história. Em certo momento, inclusive, a região se igualou na Esplanada com o Sudeste em número de representantes. Desde a redemocratização, o Nordeste nunca foi tão representado.

Na configuração atual os sudestinos lideram com 17, em seguida o Nordeste com 15, 4 do Norte, 2 do Centro-Oeste e um da região Sul.

O Pernambuco é o estado nordestino que possui mais ministros com seis; são eles, André de Paula, José Múcio, Jorge Messias, Laércio Portela, que substituiu Paulo Pimenta interinamente, Luciana Santos, Silvio Costa Filho.

Em seguida, aparecem a Bahia e o Maranhão empatados com três representantes. O Maranhão, porém, teve quatro indicados desde o início da gestão Lula, mas Flávio Dino assumiu como ministro do Supremo Tribunal Federal.

Alagoas, Ceará e Piauí possuem um comandante de ministério cada. Rio Grande do Norte, Paraíba e Sergipe são os estados do Nordeste que não têm nenhum representante na Esplanada do Governo Lula.

Confira os nordestinos em posições de destaque:

  • Presidente da República

Luiz Inácio Lula da Silva (PT), nasceu em Caetés, Pernambuco, embora tenha feito carreira política em São Paulo.

  • Presidente da Câmara dos Deputados

Arthur Lira (PP), é de Maceió, no estado de Alagoas

  • Ministros por Estado

Alagoas: Renan Filho (Transportes)

Bahia: Rui Costa (Casa Civil), Margareth Menezes (Cultura), Márcio Macêdo (Secretária-Geral da Presidência)

Ceará: Camilo Santana (Educação)

Pernambuco: André de Paula (Pesca), José Múcio (Defesa), Jorge Messias (Advogado-geral), Laércio Portela (Comunicação Social), Luciana Santos (Ciência) e Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos).

Piauí: Wellington Dias (Desenvolvimento Social)

Maranhão: Flávio Dino (Justiça e foi para o STF), Sônia Guajajara (Povos Originários), André Fufuca (Esportes), Juscelino Filho (Comunicações)

Câmara dos Deputados

  • Líder do Governo Lula na Câmara dos Deputados

José Guimarães (PT-Ceará)

  • Líder da Maioria (PDT, União Brasil, Progressistas (PP), Avante, Solidariedade, PRD, MDB, PSD, Republicanos, Podemos, PT, PCdoB, PV, PSB, PSOL e Rede)

André Figueiredo (PDT-Ceará)

  • Líder do Bloco Parlamentar União Brasil, PP, Federação PSDB Cidadania, PDT, Avante, Solidariedade, PRD

Waldemar Oliveira (Avante-Pernambuco)

  • Líder do Bloco Parlamentar MDB, PSD, Republicanos, Podemos

Isnaldo Bulhões (MDB-Alagoas)

Senado Federal

  • Líder do Governo Lula no Senado Federal

Jacques Wagner (PT-Bahia)

  • Líder da Maioria

Renan Calheiros (MDB-Alagoas)

  • Líder da Minoria

Ciro Nogueira (PP-Piauí)

  • Líder da Oposição

Rogerio Marinho (PL-Rio Grande do Norte)

  • Líder do Bloco Parlamentar Resistência Democrática (PSD, PT, PSB)

Eliziane Gama (PSD-Maranhão)

  • Líder do Bloco Parlamentar Democracia (MDB, União Brasil)

Efraim Filho (União-Paraíba)

  • Líder do Bloco Parlamentar Independência (Podemos, PSDB, PDT)

Styvenson Valentim (Podemos-Rio Grande do Norte)

  • Líder do Bloco Parlamentar Aliança (PP, Republicanos)

Laércio Oliveira (PP-Sergipe) 

Peso na esplanada é "prêmio" ao Nordeste

Essa grande representatividade do Nordeste na Esplanada tem duas principais explicações, de acordo com o cientista político Eduardo Grin. Ele aponta que os ministros da região são uma “premiação” do governo do PT a quem garantiu a sua vitória em 2022.

“Explica-se pelo fato do PT ter deixado de ter uma influência maior na região Sul e Sudeste, que passou a ser majoritariamente apoiadora do Bolsonaro, e os estados do Nordeste têm há muitos anos mantido um cinturão vermelho de apoio ao PT”, disse.

“Esse apoio que a esquerda, e o PT especialmente, no Nordeste é premiado com a indicação de ministros. Não fosse o Nordeste, Lula não teria sido eleito em 2023. Então o reconhecimento de hoje para a região mais influente que o PT tem no Brasil”, completou Eduardo.

O cientista político também lembra que os que não são do PT, são do centrão que dialoga com o partido, tendo assim mais fácil acesso com o governo, não por alinhamento ideológico, mas de captação de recursos. Os ministros “estariam à esquerda do centrão”, classificou.

“O centrão sabe que se tiver ministros favoráveis e que o PT os apoia, poderá conseguir mais emendas, que é só o que o centrão quer. Nenhuma possibilidade ideológica. Então isso explica a ascensão de ministros do centrão dentro do governo do PT”, finalizou Eduardo.

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