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Qual é o peso de Lula e Bolsonaro na disputa eleitoral pelas capitais do Nordeste?
Politica

Qual é o peso de Lula e Bolsonaro na disputa eleitoral pelas capitais do Nordeste?

Especialistas apontam que nacionalização da disputa nas capitais pode ganhar força, contudo, contexto local tem mais peso. Resultado pode influenciar próxima corrida eleitoral, em 2026
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PRESIDENTE Lula (PT) e ex-presidente Bolsonaro (PL) despendem forças para conquistar prefeituras nas eleições de 2024 (Foto: Valter Campanato / Agência Brasil e FCO FONTENELE)
Foto: Valter Campanato / Agência Brasil e FCO FONTENELE PRESIDENTE Lula (PT) e ex-presidente Bolsonaro (PL) despendem forças para conquistar prefeituras nas eleições de 2024

"Lula e Bolsonaro são as duas principais forças da política brasileira e eles entendem o potencial do Nordeste", isso é o que aponta o cientista político do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia, da Universidade Federal do Ceará (Lepem-UFC), Cleyton Monte.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) escolheu o Nordeste para abrir a agenda de viagens pelo Brasil em 2024. Em janeiro, após ida ao Exterior, o mandatário fez um giro pela Região, visitando as capitais da Bahia, de Pernambuco e do Ceará. Não é à toa que esta parte do País foi priorizada nesse primeiro roteiro.

A Região foi a que mais deu votos ao petista no pleito que o elegeu para o terceiro mandato, em 2022, quando alcançou 69,34%. Lula ganhou em todos os estados do Nordeste. O Ceará, por exemplo, foi o quarto estado com maior votação, com 69,97% de votos. A frente ficaram Piauí, com 76,83%; Bahia, com 72,11%; e Maranhão, com 70,93%.

Em novembro de 2023, o presidente já havia antecipado dedicação em realizar viagens pelo País com o intuito de visitar obras em andamento. Na primeira série de passagens, ele participou da cerimônia de assinatura do acordo de parceria para implantação do Parque Tecnológico Aeroespacial, em Salvador, em 18 de janeiro.

Na manhã do dia seguinte, 19 de janeiro, ele participou da cerimônia de transmissão de cargo do Comando Militar do Nordeste (CMNE) e assinou o termo de compromisso que autoriza a instalação da Escola de Sargentos das Armas (ESA), ambas solenidades em Recife.

Na mesma data, Lula fez a primeira viagem deste ano ao Ceará. Na oportunidade, ele lançou a pedra fundamental do Campus Fortaleza do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA).

Todas as atividades, de fato, relativas a anúncios ou entregas presidenciais. No entanto, em ano eleitoral, as passagens também reforçam apoios políticos. Essas visitas servem como termômetro para medir endossos em torno das postulações, mas transcendem esse espaço.

"Quando Bolsonaro vem a Fortaleza, ele busca verificar como é que está o nível de apoio das candidaturas ligadas a ele. E isso não é apenas a prefeito e vereador ou aos partidos. Ele quer entender como é que está a força dele na cidade. E Lula, além do termômetro de ajudar os seus candidatos que estão nessas cidades, ele vem também para buscar uma agenda positiva de gestão. E a ideia é que essa agenda positiva possa influenciar o crescimento dos respectivos candidatos", considera Monte.

Na capital cearense, Lula esteve duas vezes neste 2024. Em Fortaleza, o nome que desponta como postulante petista é do deputado estadual que preside a Assembleia Legislativa do Ceará (Alece), Evandro Leitão (PT). Bolsonaro esteve na capital cearense em abril para lançar seu postulante, o deputado federal André Fernandes (PL).

Antônio Fernandes, cientista político formado pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), pondera que, a princípio, o que pesa para o eleitor é a avaliação da gestão de quem está no comando da Prefeitura. "A polarização entre Lula e Bolsonaro pode até se repetir em alguma capital e grandes cidades, principalmente no segundo turno, mas a administração local tem mais peso", avalia.

Segundo ele, no eventual segundo turno, "a nacionalização da disputa pode ganhar mais espaço". Monte também pontua que as capitais são redutos que “condensam as forças políticas do Estado”, ou seja, elas "são pequenas representações” que indicam como é importante o investimento de Lula e Bolsonaro.

“Os candidatos dessas capitais, muitos deles, buscam se alinhar ao que está acontecendo nacionalmente, ou a Lula ou a Bolsonaro, justamente porque aguardam o impacto da nacionalização das campanhas. A tendência histórica é que as campanhas municipais reflitam os problemas locais, não necessariamente sejam representações da disputa nacional, mas o que a gente vê, depois da polarização Lula-Bolsonaro, é que o cenário nacional impacta no municipal. Então, os candidatos acabam se posicionando nesse embate entre eles”, acrescenta o pesquisador do Lepem.

O peso da força de Lula e Bolsonaro nas capitais também deve considerar a rejeição que esses nomes carregam. Após o início da campanha eleitoral, os contornos serão melhor desenhados, prevê Monte.

"Grandes figuras que têm forte apoio, muitas vezes, também têm forte rejeição. Dependendo da correlação de forças da disputa, muitas vezes aquele candidato que, no início da campanha associa o nome dele a um padrinho político, às vezes, pode até se afastar disso devido à rejeição. Então, vai depender muito da percepção do eleitor no decorrer da campanha. E, nesse momento, o eleitor ainda não embarcou completamente no cotidiano da campanha. Ela ainda não chegou para ele, até porque a campanha eleitoral não começou”, finaliza.

Como está a corrida eleitoral nas capitais do Nordeste?

Das nove capitais do Nordeste, apenas em São Luís, no Maranhão, não foi identificado apoio de Lula e Bolsonaro e nem pesquisa mais recente registrada junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Nas demais cidades, este levantamento considerou pesquisas do Real Time Big Data, do Datafolha, do Atlas Intel e dos institutos Datavox, Paraná Pesquisas, Ranking Brasil Inteligência e Datamax.

Ao todo, O PT de Lula tem candidatura própria em seis capitais do Nordeste e apoia outras duas postulações. Já o PL de Bolsonaro tem cinco nomes disponíveis e um apoio em outro município.

Os candidatos de Lula lideram em duas capitais: Recife e Teresina. Já os de Bolsonaro estão na frente em Aracaju, Maceió e Salvador. Nas cidades onde não assumem o topo das intenções de voto, às postulações do petista ficam na frente nas cidades de João Pessoa e Natal. Enquanto as bolsonaristas despontam em Fortaleza, se comparadas às petistas.

O desenho das capitais nordestinas também impacta nas eleições que se sucedem: a de 2026, quando serão eleitos presidente da República, governadores, senadores e deputados. Apesar de serem disputas diferentes, o mapa que sairá das urnas no final de 2024 apontará as tendências para 2026.

“Caso as candidaturas alinhadas ao Bolsonaro consigam a maior parte de vitórias, isso vai fortalecer o grupo do Bolsonaro. O mesmo se o resultado for melhor para Lula. Por isso, interessa aos dois as eleições deste ano”, explica o cientista político Cleyton Monte, do Lepem-UFC.

Antônio Fernandes, da UFPE, reforço o cenário. Segundo ele, a mobilização de apoiadores agora costura alianças futuras. “As eleições de 2026 também passam pelo pleito atual e tanto Lula como Bolsonaro possuem papel de destaque em seus partidos nessas costuras, buscando fortalecer as suas legendas”. Apesar disso, ele lembra que o PT não tem nenhum prefeito de capital no Nordeste, enquanto o PL tem João Henrique Caldas, em Maceió.

Entre as capitais do Nordeste, a de Alagoas se destaca por ser única em que Bolsonaro venceu as eleições de 2022. Enquanto Recife é a cidade com o candidato, apoiado pelo petista, mais bem colocado entre todas as capitais. Na última pesquisa Datafolha, realizada entre os dias 2 e 4 de julho, o atual prefeito João Campos (PSB), despontou com 75% das intenções de voto.

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