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Paulo Mindello e a Igreja contrária à "polarização"
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Paulo Mindello e a Igreja contrária à "polarização"

Para o ex-vereador de Fortaleza, Paulo Mindello, a Igreja precisa ter uma ação política, mas focada em ações sociais
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FORTALEZA-CE BRASIL, 0-06-2024 Entrega da Medalha Boticário Ferreira ao sr. Paulo Mindêllo na Câmara (4)  (Foto Joao Filho Tavares O Povo) (Foto: João Filho Tavares)
Foto: João Filho Tavares FORTALEZA-CE BRASIL, 0-06-2024 Entrega da Medalha Boticário Ferreira ao sr. Paulo Mindêllo na Câmara (4) (Foto Joao Filho Tavares O Povo)

O debate religioso e o político são visivelmente interligados. Nas paredes de espaços institucionais de Estado brasileiras, não é raro constatar cruzes fixadas. Em parlamentos país afora, as bancadas evangélicas e católicas dividem espaço. Nos discursos, chamados e ações “em nome de Deus". Os dogmas cristãos não apenas permeiam o Congresso, por exemplo, mas pautam o debate público.

Para o ex-vereador de Fortaleza, Paulo Mindello, a Igreja precisa ter uma ação política, mas focada em ações sociais. Ele critica a representação cristã no Parlamento e defende a dita “Doutrina Social da Igreja”. A teoria católica foi promulgada em 1891 por meio da publicação do texto "Rerum Novarum", pelo papa Leão XIII. O intuito era firmar uma posição da Igreja, em contraposição às grandes correntes políticas e econômicas do século XIX: o liberalismo e o marxismo.

OP - Como se dá esse contraponto da Doutrina Social da Igreja com o marxismo e o liberalismo?

Paulo Mindello - No século XIX, o marxismo surge como forma de combate à exploração do operário, que trabalhava 16 horas por dia, sem descanso. A Igreja era contra a exploração, mas também não concordava com a com as propostas que Marx tinha para superar esse problema, como a coletivização dos meios de produção. Já o liberalismo prega o Estado mínimo, que não deve mexer na sociedade, não deve intervir. Isso favorece a exploração dos mais fracos pelos mais fortes. Se o estado não intervir e não existir na economia, ela vai ficar atrofiada, defendendo os mais ricos.

OP - Então, onde, ideologicamente, encontra-se a doutrina?

Mindello - A doutrina defende que a propriedade seja uma coisa produtiva, que os meios de produção sejam geridos através de cooperativas. Propõe um estado forte, que intervenha na sociedade, porque o mercado não é algo absoluto, tem imperfeições. O acervo da doutrina traz colaborações de diversos papas ao longo das décadas. O papa João Paulo II, por exemplo, propôs o Laborem Exercens, que preconizava, dentre outras coisas, que o trabalhador deveria ter acesso aos lucros e à gestão das empresas. O acervo também propõe sindicatos fortes, a busca dos direitos dos trabalhadores, o direito de se reunir e até o direito de greve, em determinadas situações. Além disso, a Igreja é contra a guerrilha, mas em casos extremos, quando há uma grande exploração, uma grande opressão, é admitido, mas são casos extremos.

OP - De que maneira a teoria, que critica essas duas correntes, consegue conversar com o meio político?

Mindello - Ela não chega a falar muito sobre polarização, por exemplo, mas traz justamente essa condenação aos sistemas opostos. A doutrina é um massivo reformado desse acervo, de anos, e já contribuiu com avanços. Por exemplo, o imposto progressivo sobre o solo urbano tem muitas ideias da doutrina. Ele significa que, se você tem um solo urbano ou rural, mas não o utiliza de maneira produtiva, o poder público pode agir, aumentar a alíquota. Além disso, hoje a doutrina mantém-se por meio de diálogos entre as representatividades católicas como os bispos e o próprio papa Francisco. Também temos representantes católicos no Congresso, mas vou dizer, acho que muitos dos nossos nomes pregam uma doutrina social capenga.

OP - Como o senhor enxerga as representações cristãs na política e a utilização do nome de Deus nas pautas?

Mindello - É uma ideia minha, mas acho que nossa bancada católica é crítica ao comunismo e esquece do liberalismo, que é o maior perigo do Brasil hoje. O liberalismo produz essa má distribuição de renda no Brasil, essa pobreza, miséria e fome. Eu defendo que exista uma bancada católica, uma bancada evangélica. Agora, você não pode usar o nome de Deus em vão. Não faz sentido boa parte da bancada evangélica, por exemplo, apoiar um candidato de extrema direita como o ex-presidente Jair Bolsonaro, liberal, que defende a violência, a ditadura e faz apologia à pena de morte, à execução sumária. Poderiam ter uma postura mais crítica.

OP - O senhor acredita que esta postura de “extremismos” tende a seguir no meio político?

Mindello - É um meio complicado e paradoxal. Porque é como se só existisse a extrema direita e a extrema esquerda. Sendo que, muitas vezes, nem extrema a esquerda é, na realidade tem posições até de direita. É um ping pong ideológico, que pode levar ao extremismo como aconteceu no Brasil e na Argentina, por exemplo. Na minha visão, existem bons exemplos de “bem-estar social”, em países escandinavos como Noruega, Suécia e Dinamarca. Lá os tributos são altos, não tem isso de estado mínimo, mas existe o “dono da empresa e o trabalhador”. Então, é complicado, mas estou com esperança de mudança e eu vou lutar para mudar minha parte, escrevendo e denunciando.

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