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Campanha de Biden vira de ponta-cabeça após atentado contra Trump
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Campanha de Biden vira de ponta-cabeça após atentado contra Trump

Estratégia do democrata de atacar o republicano teve de ser repensada. Em 1º comício após ataque, Biden criticou Trump por histórico, ao mesmo tempo em que pediu calma ao país
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BIDEN fez ontem em Las Vegas primeiro comício após atentado contra Trump (Foto: SAMUEL CORUM/AFP)
Foto: SAMUEL CORUM/AFP BIDEN fez ontem em Las Vegas primeiro comício após atentado contra Trump

O ataque contra Donald Trump virou de cabeça para baixo a campanha de Joe Biden, obrigando o presidente inicialmente a reduzir a intensidade de seus ataques. O apelo do presidente dos Estados Unidos para "baixar a temperatura" após o atentado privou sua estratégia de atacar seu antecessor e tratá-lo como uma ameaça para a democracia americana.

Tudo isso poucos dias depois de Biden tentar focar sua campanha em Trump, após semanas de agitação dentro do Partido Democrata em relação à sua idade e saúde e após um desempenho desastroso em um debate contra o republicano.

Em um discurso no Salão Oval focado na união, Biden, de 81 anos, insinuou que em breve voltará a criticar o republicano. "Continuarei a falar com firmeza em defesa de nossa democracia, defendendo nossa Constituição e o estado de direito, pedindo ação nas urnas e que não haja violência em nossas ruas", declarou Biden no domingo.

O presidente americano afirmou que será "criticado" na Convenção Nacional Republicana, que ocorre até esta quinta-feira, 18, no Wisconsin, mas ainda assim viajará "nesta semana" para defender o programa democrata. Apesar de cancelar uma ida ao Texas, Biden prossegue com uma visita planejada ao estado decisivo de Nevada.

Na noite de ontem, Biden realizou primeiro ato de campanha após a tentativa de assassinato contra Trump, a quem criticou por seu histórico e comentários, ao mesmo tempo em que pediu calma ao país.

Em encontro organizado em Las Vegas (oeste) pela NAACP, a principal associação de direitos civis dos Estados Unidos, o líder democrata, de 81 anos, clamou pela redução da temperatura no país, que está em suspense após o ataque de sábado contra Trump.

Biden também pediu a proibição do tipo de arma utilizada para tentar assassinar o recém-nomeado candidato presidencial republicano, que ficou ferido na orelha direita. "Me ajudem a livrar as ruas dos Estados Unidos dessas armas de guerra. Nos disparos contra Donald Trump foi utilizado um AR-15... É hora de se desfazer delas", instou o presidente.

O presidente disse que estava "aliviado" por seu rival no pleito de novembro estar bem após a tentativa de assassinato, ocorrida durante um comício na Pensilvânia. No entanto, Biden criticou a trajetória do ex-presidente de 78 anos como um "inferno para os afro-americanos", um eleitorado do qual busca apoio para defender sua candidatura vacilante.

Retomando assim seus ataques após alguns dias de contenção pelo incidente de sábado, criticou também a referência de Trump aos "empregos dos negros" durante seu debate no final de junho, no qual o presidente teve uma atuação desastrosa, com dificuldade para se expressar com clareza.

Em um artigo no Washington Post, a colunista Karen Tumulty escreveu que "dificilmente poderia haver um momento pior para Biden ser forçado a redesenhar sua estratégia contra Trump". Os republicanos acusaram Biden de criar as condições políticas que levaram ao atentado contra Trump, omitindo o fato de que o magnata é suspeito de ter incitado violência no passado. Mencionam declarações recentes de Biden  que tentaram "colocar Trump na mira", para evitar que se falasse da crise do debate.

 

"Louco demais" e "velho demais"

Os tiros contra Trump, no entanto, poderiam ajudar Biden na luta por sua própria sobrevivência política. "Obviamente, isso muda os cálculos para aqueles que pedem que Biden se retire da disputa", explicou à reportagem Peter Loge, cientista político da Universidade George Washington. "Isso lhe dá tempo".

A crise democrata sobre a idade de Biden após o debate dominou a campanha nas últimas semanas, mas com os tiros de sábado, a revolta sobre sua candidatura ficou silenciosa abruptamente.

O congressista Dean Phillips, ex-candidato sem sucesso nas primárias, declarou à Axios que seria "antipatriótico e sem princípios" levantar o assunto agora. Biden também tentou dar um tom presidencial ao atentado, reagindo rapidamente no sábado e dirigindo-se à nação no domingo em um terceiro discurso no Salão Oval durante sua presidência.

A mensagem de união em aparições como essa não foi direcionada apenas aos republicanos, mas também um sinal para os democratas de que devem apoiá-lo como líder em um momento de crise. O atentado pode unir os democratas, mas também pode condenar a candidatura à reeleição de Biden, já que ele está em desvantagem na maioria das pesquisas.

As icônicas imagens de um Trump ensanguentado levantando o punho após ser alvo de tiros aumentam as esperanças republicanas de uma vitória esmagadora em novembro. No entanto, Loge diz acreditar que o efeito pode ser limitado porque "muitos eleitores veem Trump como louco demais e Biden como velho demais, e um atentado não muda isso".

O cientista político acrescentou que focar no impacto imediato do ataque a tiros nas campanhas é um erro. "Se transformarmos a violência política em parte da estratégia de uma campanha, perdemos o sentido da violência política e acabamos a normalizando", afirmou. (AFP)

 

O ex-presidente dos EUA e candidato presidencial republicano de 2024, Donald Trump, caminha até seu assento ao chegar durante o primeiro dia da Convenção Nacional Republicana de 2024 no Fórum Fiserv em Milwaukee, Wisconsin, 15 de julho de 2024
O ex-presidente dos EUA e candidato presidencial republicano de 2024, Donald Trump, caminha até seu assento ao chegar durante o primeiro dia da Convenção Nacional Republicana de 2024 no Fórum Fiserv em Milwaukee, Wisconsin, 15 de julho de 2024

Trump receberá apoio de antigos rivais, em demonstração de unidade republicana

Outrora humilhados e menosprezados por Donald Trump, seus ex-rivais nas primárias republicanas saem para cerrar fileiras e mostrar unidade em torno de seu candidato, que sobreviveu a uma tentativa de assassinato. O ex-presidente reapareceu em público na noite de segunda-feira, na Convenção Nacional Republicana de Milwaukee, após o ataque de sábado.

Trump estava com um curativo na orelha direita, ferida pelo disparo de um atirador durante um comício na Pensilvânia. Após ser proclamado oficialmente como candidato presidencial do partido para enfrentar o democrata Joe Biden em novembro, o ex-presidente foi recebido como um messias em meio a mensagens de unidade em torno de sua figura.

Houve orações por ele, e latinos e afro-americanos mostraram apoio, embora o magnata repetidamente se refira pejorativamente às minorias e aos migrantes. E se o senador J.D. Vance, que foi um de seus principais críticos, apagou todas as publicações que fez contra ele e hoje é um leal aliado e companheiro de chapa, a pergunta é: por que não fariam a mesma coisa aqueles que enfrentaram Trump nas primárias republicanas?

Antes humilhados, agora convidados

Já recuperado do susto, Trump retomará as atividades de campanha no sábado, com um comício em Michigan. Antes disso, em um discurso na quinta-feira, ele deve aceitar sua nomeação como candidato na convenção.

Previamente, em Milwaukee, seus antigos adversários vão desfilar em uma demonstração de unidade, apesar dos confrontos ácidos do passado. Trump, filho de imigrantes, zombou do nome de batismo de Nikki Haley, Nimarata Nikki Randhawa, e de suas raízes indianas. Inclusive, atreveu-se a dizer falsamente que ela não poderia se candidatar porque não era filha de pais americanos.

Depois, ele a derrotou nas primárias e, ao final, a ex-governadora da Carolina do Sul anunciou que votaria em Trump, apesar das afirmações anteriores de que uma nova vitória do magnata seria um "caos".

Inicialmente, não estava previsto que Haley participasse da Convenção Nacional Republicana. Mas, após o tiroteio, tudo mudou e era aguardado que a ex-embaixadora dos Estados Unidos na ONU fizesse um discurso. "Acho que ela estará em nosso time porque temos muitas das mesmas ideias, os mesmos pensamentos", disse Trump em maio, após tê-la atacado de forma racista e sexista.

Também estava previsto um discurso do governador da Flórida, Ron DeSantis, de quem Trump afirma ter recebido um pedido "de joelhos" por apoio durante a campanha. O bilionário sugeriu que DeSantis usava salto alto e até disse que, ao final da disputa, ele acabaria "correndo para sua mãe". Apesar disso, o governador também saiu em seu apoio.

Outro de seus rivais nas primárias, Vivek Ramaswamy, já está na convenção e expressou publicamente apoio ao ex-presidente.

'Você pode me ajudar a ganhar'

Trump teve a estratégia ou as armas para converter seus críticos. Assim o fez com o agora indicado para o cargo de vice-presidente, o senador J.D. Vance. "Ele me disse: 'Olha, acho que temos que salvar este país'. Acho que você é a pessoa que pode me ajudar da melhor maneira. Você pode me ajudar a governar. Você pode me ajudar a ganhar", contou Vance sobre o chamado de Trump, durante uma entrevista à Fox News.

Em busca de mais aliados

O magnata também propôs esta semana ganhar votos fora de seu partido. Convidou o candidato independente Robert Kennedy Jr. a abandonar a corrida pela Casa Branca para apoiá-lo contra Joe Biden. O ativista antivacina, sobrinho do presidente assassinado John F. Kennedy, recusou.

Um vídeo da conversa entre os dois vazou nas redes sociais na manhã desta terça-feira. Nele, Kennedy Jr. mantém um diálogo com Trump através do viva-voz de seu celular.

Trump contou a Kennedy como foi a situação que viveu no sábado na Pensilvânia. O bilionário disse ter sentido a bala que atingiu sua orelha como "o maior mosquito do mundo", segundo o candidato independente.

Biden volta a dizer que Kamala "seria uma ótima presidente"

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, voltou a dizer hoje que sua vice-presidente, Kamala Harris, "seria uma ótima presidente", e destacou seu "ótimo trabalho" ao longo do mandato democrata. Os elogios vêm em meio à pressão para que ele desista da corrida eleitoral devido a preocupações de apoiadores com sua idade avançada.

Durante o Congresso Nacional da Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor (NAACP, na sigla em inglês), Biden também reforçou que é preciso diminuir a tensão política no país após a tentativa de assassinato contra o republicano Donald Trump no último sábado, 13. Mesmo assim, ele disse que Trump também deve se esforçar para que isso aconteça.

O ato de Biden em Las Vegas acontece em um ambiente tenso entre os democratas, em meio aos planos do partido de antecipar a nomeação de Biden como candidato oficial antes de sua convenção nacional marcada para agosto.

Alguns, preocupados com a saúde de Biden e sua capacidade para conseguir um novo mandato, pedem que a convenção seja adiada. (Agência Estado)

 

Poderá J.D. Vance ajudar Trump a ganhar as eleições?

Donald Trump escolheu J.D. Vance como companheiro de chapa para as eleições de novembro. O senador por Ohio, estado localizado numa região industrial em declínio, passou de crítico feroz a colaborador leal e agora é a esperança para que o magnata vença Joe Biden.

Um candidato à Casa Branca frequentemente escolhe um companheiro de chapa para a vice-presidência que possa atrair novas categorias de eleitores ou compensar fraquezas reconhecidas em termos de imagem ou política. Trump, no entanto, escolheu alguém parecido com ele: um homem branco, conservador e nascido em um estado como Ohio, onde o magnata já tem todas as possibilidades de ganhar.

"Ele simplesmente disse: Olha, acho que temos que salvar este país. Acho que você é a pessoa que pode me ajudar da melhor maneira. Você pode me ajudar a governar. Você pode me ajudar a ganhar", contou Vance à Fox News, sobre sua conversa com Trump. Mas o plano do ex-presidente funcionará?

O octogenário Joe Biden sofre críticas pela idade avançada e por sua lucidez para continuar na corrida. Mas Trump tem 78 anos. Vance tem a metade de sua idade e é o primeiro millennial a integrar uma chapa de um partido importante dos EUA.

Ele pode ser um contrapeso à imagem mais jovem que a vice-presidente de Biden, Kamala Harris, de 59 anos, oferece. Se o presidente democrata se retirar da campanha, como alguns membros de seu partido lhe pedem que faça, a atenção poderia se voltar para a idade de Trump.

Conhecida como "cinturão da ferrugem", a região manufatureira do nordeste e meio-oeste dos EUA é marcada pela decadência industrial desde o final do século XX. Ohio, que faz parte desta região, tem se deslocado constantemente para a direita e, em teoria, Trump ganharia lá.

Mas o bilionário aposta que Vance poderá ajudá-lo a ganhar em estados vizinhos como Michigan e Pensilvânia, além de Wisconsin. Os três são cruciais para inclinar a balança em 5 de novembro. As memórias de Vance, no livro "Hillbilly Elegy", de 2016, foram elogiadas em alguns setores por mostrar como são as vidas e os problemas da classe trabalhadora branca. Vance "encarna Pensilvânia, Michigan e Wisconsin, esses estados do meio-oeste", afirma o delegado de Ohio, Charlie Frye. O senador "teve uma educação operária no meio-oeste, o que acho realmente poderoso", acrescentou. (AFP)

 

X vira amplificador de teorias conspiratórias

A rede social X, cujo proprietário, Elon Musk, apoia o candidato à presidência dos Estados Unidos Donald Trump, permitiu que florescessem teorias da conspiração sobre o atentado sofrido pelo republicano, segundo um relatório de uma ONG publicado nesta terça-feira, 16.

Desde o último sábado, 13, após o ex-presidente americano ter sido baleado na orelha durante um comício na Pensilvânia, no leste no país, esse tipo de publicações chegou a alcançar mais de 215 milhões de visualizações na rede social, segundo o Centro de Combate ao Ódio On-line (CCHR).

A ONG chegou a esta conclusão depois de procurar no X as 100 publicações mais populares que continham os termos "encenação", "ataque falso" ou "Estado profundo" vinculadas à tentativa de assassinato de Trump. O X etiquetou apenas "cinco dessas publicações" para alertar que continham informações falsas, disse a CCHR em comunicado.

Entre as teorias mais populares se destaca uma que afirma que a tentativa de assassinato "veio de dentro". O post acusa em particular o Serviços Secreto, encarregado de proteger as personalidades políticas, e conta com quase 50 milhões de visualizações.

Outra publicação, que afirma que o ataque foi uma tentativa de criar histeria e ganhar apoio, foi vista mais de 10 milhões de vezes.

Além disso, cinco publicações, com uma audiência combinada de mais de 8,8 milhões de visualizações, associaram a comunidade judaica à tentativa de assassinato, baseando-se no fato de um dos atiradores do Serviço Secreto, acusado de hesitar antes de disparar, estar supostamente usando um fino cordão vermelho, considerado um talismã contra o mau-olhado na tradição popular judaica.

Uma pessoa morreu e duas outras ficaram gravemente feridas no ataque contra Donald Trump durante o comício. O evento foi o último antes da convenção republicana em que, na última segunda-feira, o ex-presidente foi oficialmente nomeado candidato do Partido Republicano para as eleições de 5 de novembro.

No último sábado, pouco depois do atentado, Elon Musk declarou publicamente o seu apoio ex-presidente. De acordo com o Wall Street Journal, o bilionário planeja doar cerca de 45 milhões de dólares (245 milhões de reais, na cotação atual) por mês a um grupo de apoio à campanha de Trump, para o qual contribuem também outras figuras da indústria tecnológica.

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