A definição de chapas, especialmente nos maiores colégios eleitorais, é um processo que envolve diversos fatores e exige negociação diante dos interesses dos partidos. São citados, pelos dirigentes partidários, aspectos a serem considerados como: o histórico da sigla naquele município e nomes que têm força para despontar na liderança de pesquisas. E é nesse cenário que três principais blocos têm mostrado o desejo de terem candidaturas próprias nestas eleições municipais.
O bloco mais óbvio é o que aglutina os partidos aliados do governador, conhecido como governista ou situacionista. O ex-governador Cid Gomes (PSB) teve destaque ao procurar ampliar a base de partidos apoiaram em suas chapas nas eleições e por conseguir converter isso para sua gestão em uma aplicação de “compartilhamento do poder" com aliados.
Em 2006, a coligação era composta por nove partidos (PSB, PT, PMDB, PP, PCdoB, PV, PRB, PHS, PMN), enquanto, em 2010, foram sete em uma configuração semelhante (PRB, PDT, PT, PMDB, PSC, PSB e PCdoB, com representantes de lideranças partidárias.
O escolhido de Cid para sucedê-lo no Estado também surfou na mesma tendência. Em 2014, a coligação de Camilo Santana (PT) teve 18 partidos (PT, Pros, PRB, PP, PDT, PTB, PSL, PRTB, PHS, PMN, PTC, PV, PEN, PPL, PSD, PCdoB, PTdoB e SD).
Apesar do PT municipal de Fortaleza não seguir com o grupo desde o fim da proximidade entre Luizianne Lins (PT), enquanto prefeita da cidade, e Cid, o bloco conseguiu reproduzir, na Capital, esse variado arco de alianças com Roberto Cláudio e José Sarto, ambos do PDT.
Os tempos agora são outros e o bloco do prefeito, após racha na disputa pelo Palácio da Abolição, em 2022, não é mais o mesmo desse arco de aliança com força de caciques partidários no Estado. PDT e PSDB dialogam e demarcam, nestas eleições municipais, uma aliança, tentando montar um novo bloco.
“É uma intenção que tem por trás disso uma vontade, um desejo, e tem claro também toda uma estratégia de criar um bloco que seja de centro democrático. Tem ali o PSDB, que é um partido de centro-direita, com o PDT, que é um partido de centro-esquerda, para que a gente monte um projeto para o Estado do Ceará”, ressaltou Élcio Batista, presidente estadual do PSDB.
Ele aponta que as eleições municipais são estratégicas para um planejamento em nível estadual. Os partidos vão tentar seguir juntos na maior parte dos casos, embora não seja possível todos os municípios pelas dinâmicas locais. “Por isso que a gente está buscando, o máximo possível, estabelecer parcerias nos municípios do Estado do Ceará, desde os pequenos até os maiores", afirmou.
As lideranças de ambos os partidos têm feito duras críticas ao governador Elmano de Freitas (PT), enquanto também recebem alfinetadas pela gestão da Capital, principal vitrine do bloco.
Mas que as aparências não enganem, apesar de unidos em nível estadual, partidos da base vão lutar entre si em muitos dos municípios do Interior. A tentativa de alianças só tem mostrado sucesso em cidades maiores ou que algum dos partidos entendeu não ter muita viabilidade. PT e PSB saltaram como o maior número de prefeituras, mas o PSD tem planos ambiciosos de correr atrás desses números.
“PSB, PT e PSD são os partidos que mais disputam prefeituras no Estado. Nos municípios que não há possibilidade de aliança, porque não dependem do desejo da cúpula estadual dos partidos, mas sim porque temos respeito às posições locais. Evidentemente, embora tentando, não tem como compor a aliança”, avaliou o presidente do PSD, Domingos Filho, em entrevista à Rádio O POVO CBN.
No campo da direita, duas siglas despontam, União Brasil e PL, que têm demonstrado alinhamento ideológico. No entanto, em ambas as siglas, há o interesse de “aproveitar” filiados e circunstâncias para lançarem candidaturas próprias. O PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro, tem planos de conquistar nacionalmente por volta de 1.500 prefeituras, conforme o presidente da sigla, Valdemar Costa Neto.
Fortaleza
O cenário de Fortaleza explicita o racha das eleições de 2022 entre PDT e PT e, agora, “inaugura” a remontagem das forças no Estado. Antes, o PDT seguia junto do bloco governista, sendo a articulação de José Sarto (PDT) parte da influência do variado arco de aliança que seguia Camilo Santana (PT), então governador. Nem metade dos partidos que fizeram parte da coligação vai compor o bloco do prefeito este ano.
PP, PSB e PSD migraram para o lado do PT e devem apoiar Evandro Leitão (PT), representante do bloco governista do Estado na disputa. Há uma ressalva quanto ao PSD, que deixou a gestão Sarto e entregou os cargos para, logo em seguida, assumir uma secretaria no governo de Elmano de Freitas (PT), num intervalo de dias.
Com desempenho considerável nas pesquisas, o deputado federal Célio Studart (PSD) destacava que o partido tinha apresentar candidatura própria e minimizou a indicação de uma vice para a chapa petista. Mesmo não descartando a intenção do deputado, o presidente estadual da sigla, Domingos Filho apontava para o compartilhamento de “poder” e destacava, quando entrou na base do governo estadual ainda em 2023, que o PT já tinha batido o martelo para a candidatura própria em encabeçar a chapa em Fortaleza. Acabou que Célio não foi lançado e o partido indicou Gabriella Aguiar, filha de Domingos, como vice.
Com o afastamento de outras duas siglas, o Democratas que se tornou União Brasil, e o PL que passou por uma guinada ideológica com a chegada de Jair Bolsonaro e seus aliados, o grupo de Sarto abraçou de vez o PSDB, federado com o Cidadania. O grupo conseguiu atrair: Agir, Avante, Cidadania, DC, Mobiliza, PRTB, PMB e PRD.
No campo da direita, o caminho foi de fragmentação, apesar das tentativas de acordo. O senador Eduardo Girão (Novo) confirmou seu nome na disputa, com "puxões" de que teria uma "dívida com Wagner", como dito pelo coordenador da campanha do candidato do União Brasil, o deputado federal Danilo Forte (União Brasil).
Dirigentes nacionais do União Brasil e do PL se reuniram para sondar a supressão da candidatura de André Fernandes (PL) em troca do apoio em outras cidades, especialmente do Sudeste e Sul, que o partido vê mais chances. As negociações eram no sentido de reproduzir a união de 2022, na disputa pelo Governo do Ceará, quando Wagner foi cabeça de chapa e o PL indicou a vice. Como mostrou O POVO, Fernandes recorreu a Bolsonaro para manter a candidatura.
Até o último momento, houve a tentativa de composição, mas, no fim, os três partidos da direita (União Brasil, PL e Novo) conseguiram formar chapas puras sem grandes alianças.
No campo da esquerda, Zé Batista (PSTU) e Chico Malta (PCB) seguem na mesma toada de chapa única. Confirmado, Técio Nunes (Psol) terá o Rede, com sua vice, Cindy Carvalho, e o apoio da União Popular.
Caucaia
Por mais próximo que o PSD esteja do bloco governista, a sigla apresentou o nome do ex-prefeito Naumi Amorim (PSD), como candidato em Caucaia, segundo maior colégio eleitoral do Estado, e único, além de Fortaleza, onde pode haver segundo turno,
O ponto é que Waldemir Catanho (PT), ex-secretário de Articulação do Estado, é o nome da base governista e concentra a maior parte dos apoios de partidos. Em suas peças de pré-candidatura, o petista confirma: PCdoB, PV, Agir, PSB, PMB, Republicanos, Psol, Rede, Solidariedade e PRTB.
Nada disso impedirá a investida do PSD. “Em Caucaia, (esse acordo com o PT), não vai existir, porque o Catanho é candidato a prefeito, apoiado pelo prefeito Vitor Valim (PSB), e o PSD, liderado pelo Naumi Amorim, faz oposição. Estamos em campos políticos distintos. Embora tenhamos a convergência na base do governador Elmano, lá no município, realmente haverá disputa”, ressaltou Domingos Filho, líder do PSD. O ex-prefeito tirou ainda o MDB e o Avante da base de Catanho.
A "surpresa" foi o consenso entre três partidos e lideranças que tentavam se colocar na disputa. O União Brasil tinha o vice-prefeito Deuzinho Filho, o PDT apresentava como pré-candidato o ex-prefeito Zé Gerardo Arruda, enquanto o PSDB depositava suas fichas na deputada Emília Pessoa. Ao fim de semanas de negociações, prevaleceu a tucana, indicada em uma chapa com a vice sendo a mãe de Deuzinho, Célia Oliveira (PP).
O destaque é o posicionamento do PP, que cedeu a filiada para o cargo. Em Fortaleza, mesmo com a reviravolta da destituição de Zezinho Albuquerque (PP) da presidência do partido, retirado pelo filho o deputado AJ Albuquerque (PP), o partido seguiu com o governismo, mas, em Caucaia, irá com um dos principais adversários do grupo.
Emília agradeceu ao deputado no dia de sua convenção partidária. "Agradecer ao PP que me colocou nas mãos, através do AJ Albuquerque, um tesouro para poder dizer, dona Célia, que as mulheres estão prontas", ressaltou. A montagem do bloco uniu no mesmo palanque nomes críticos ao prefeito Vitor Valim, tido como "traidor" por ter mudado de lado após vencer a eleição de 2020.
Wagner disse que foi “enganado” em menção a Valim. “O Danilo foi muito feliz (quando disse), infelizmente, nós fomos enganados em 2020. No primeiro momento de governo do atual prefeito, todos nós fomos traídos. Foram traídos os políticos que apoiaram o prefeito, mas o mais traído foi o povo de Caucaia que esperava um prefeito que trabalhasse pelo município”, disse ainda.
O PL é o único que seguirá com candidatura própria, com Capitão Aginaldo tendo já sigo registrado na Justiça Eleitoral e nome mais ligado ao bolsonarismo. Ele é casado com a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP).
Maracanaú
O xadrez em Maracanaú ultrapassa questões ideológicas e locais. A grande aposta é a tentativa de reeleição de Roberto Pessoa (União Brasil), em busca do quarto mandato. O PT do município decidiu apoiar o prefeito, descartando a pré-candidatura do deputado Júlio César Filho, o Julinho, filiado ao PT. A sigla, inclusive, faz parte do governo de Pessoa.
Julinho recorreu à instância nacional para tentar reverter o apoio do PT de Maracanaú ao prefeito. Não deu certo. E, segundo ele, após conversas com Elmano de Freitas e Camilo Santana, decidiu declarar apoio a Pessoa.
“Por conta da aproximação política do grupo ligado ao prefeito Roberto Pessoa, houve uma ampliação da base do Governo Elmano e do apoio ao Governo Federal. Com isso, por orientação dos líderes desse grande projeto político, Camilo e Elmano, e a convite do prefeito Roberto Pessoa, manifesto apoio ao atual prefeito no próximo pleito municipal de 2024”, ressaltou em nota.
O prefeito fez movimentos de, apesar de ter sido eleito em uma sigla de oposição ao governismo estadual, se aproximar da gestão de Elmano, com a saída de Camilo do governo. Pessoa é o líder do grupo que está gerindo a cidade desde 2005.
A candidatura de Pessoa engoliu ainda as pretensões de Bruno da Madeireira (PSD). O empresário chegou a reagir ao anúncio de que Julinho ia apoiar Pessoa. Ele apontou que recebeu o movimento com “surpresa”, ainda mais que a decisão passou pelo aval do vereador, Júlio César Costa Lima (PSD), pai de Julinho. No fim, o PSD decidiu oficialmente apoiar o prefeito e o empresário ficou sem legenda.
Ainda na disputa, os deputados estaduais Dra. Silvana (PL) e Lucinildo Frota (PDT). O pedetista será apoiado pelo PSDB que ficará com a vice, enquanto Silvana terá chapa pura.
Juazeiro do Norte
A terra de Padre Cícero, conhecida por não reeleger prefeitos, é o desenho claro das forças que atuam no Estado. Juazeiro do Norte terá ainda um tempero especial: partidos da direita vão estar no mesmo lado de PSDB e PDT contra o bloco governista em quase toda sua totalidade.
Glêdson Bezerra (Podemos) vai tentar vencer tanto a tradição do município de não reeleger prefeitos quanto o fortalecimento do PT, que trabalhou para diminuir os candidatos do mesmo campo político. O deputado estadual Davi de Raimundão (MDB) e o vice-prefeito Giovanni Sampaio (PSB) retiraram-se como cabeças de chapa para apoiar o deputado estadual Fernando Santana (PT).
O prefeito fez sua convenção e confirmou oito partidos ao seu lado, com destaque para o PL e o PDT, atuantes em campos ideológicos distintos. Ele aponta ainda o apoio do PP, que, assim como em Caucaia, indicou a vice. O lançamento de sua candidatura teve projeção nacional, quando Ciro Gomes (PDT) e Carmelo Neto, presidente do PL no Estado, compartilharam o mesmo palanque.
A união de ex-adversários é estruturada em uma clara oposição ao PT. “Uma simbologia impressionante e importante para a gente mostrar que é possível fazer política com P maiúsculo olhando para frente. São pessoas que em algum momento mostraram certo antagonismo de ideias e foram adversários em palanques distintos, mas mostra a força do Cariri, de Juazeiro", disse Gledson.
"Temos um projeto que está dando certo, não é uma aventura, e quando apresentamos essas realizações conseguimos convencer Ciro Gomes, Wagner, Girão, Carmelo, Figueiredo, RC, Tasso", completou.
Santana não fica atrás com o número de alianças e impactou a definição de quem foi indicado na vice: a assistente social Maricele Macedo, do MDB, ex-primeira-dama do município, esposa do ex-prefeito Raimundão. Além de partidos, ele recebe diversos apoios locais como os do presidente da Câmara Municipal, Capitão Vieira (MDB), do ex-prefeito Arnon Bezerra, do deputado federal Yury do Paredão (MDB) e do empresário Gilmar Bender.
Sobral
Após meses de incertezas de quem seria o indicado à sucessão do prefeito Ivo Gomes (PSB), a ex-governadora Izolda Cela (PSB) foi anunciada candidata do bloco governista. Mesmo quando o senador Cid Gomes, hoje no PSB, ainda estava no PDT, nomes petistas ressaltavam o desejo de manter a aliança histórica com a família Ferreira Gomes. O clã está no poder da cidade desde 1996.
A vice-prefeita Christianne Coelho (PT) chegou a ensaiar uma pré-candidatura, um dos motivos de rusgas com Ivo, mas não conseguiu se viabilizar. O nome escolhido pelo grupo era quase unânime pelo bloco, tendo sido Izolda considerada a "escolha natural" para a eleição de 2022. O processo que escolheu Roberto Cláudio para a disputa estadual, e não ela, acabou por rachar o PDT e o PT.
Movimentações de Izolda conseguiram atrair o apoio do Agir, que lançou Pedro Aurélio, como pré-candidato. "Entendemos e acreditamos que o projeto de administração apresentado pela pré-candidata se concilia com os propósitos do nosso partido".
Na oposição, está o principal adversário, o deputado estadual Oscar Rodrigues (União Brasil). Ele volta ao pleito, tendo já sido candidato na eleição de 2020, na mesma estrutura da eleição anterior: apenas o candidato governista e o da oposição.
O PL tinha pretensões de lançar candidatura, mas, na convenção deu apoio a Oscar. "E, neste momento, retirar a candidatura própria do PL para se unir e derrotar a oligarquia", ressaltou Carmelo Neto, presidente estadual da legenda.
O PDT não irá lançar candidatura e vai focar apenas em tentar eleger vereadores, sem nenhum atualmente.