Com a proximidade das eleições e definições de alianças e chapas oficializadas para a disputa nas urnas, o debate eleitoral começa a afunilar em Fortaleza. Em 2024, a Capital apresenta nove candidatos a prefeito. Todas as chapas são encabeçadas por homens, enquanto mulheres são candidatas a vice em sete delas.
Os cabeças de chapa apresentam valências distintas, que variam entre experiência em gestão pública e experiência política, passando ainda pelo peso de aliados e alianças de seus respectivos grupos e pelo desempenho em pesquisas eleitorais recentes (ver quadro).
Nas pesquisas de intenção de voto mais recentes, quatro nomes despontam: André Fernandes (PL), Capitão Wagner (União Brasil); Evandro Leitão (PT) e José Sarto (PDT). A reportagem ouviu especialistas em Ciência Política sobre os principais alicerces que sustentam estes e outros postulantes ao Palácio do Bispo e sobre seus pontos de melhor desempenho.
Paula Vieira, professora universitária e pesquisadora vinculada ao Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem-UFC), elenca os pontos fortes dos principais pré-candidatos. Wagner é o nome da oposição com maior recall, vindo de três eleições seguidas disputando cargos no Executivo, duas para prefeito (2016 e 2020) e uma para governador (2022), é quem larga na frente em pesquisas recentes.
A professora cita Wagner como um contraponto à questão dos padrinhos políticos, fator recorrente entre outros pré-candidatos neste ano e nos anteriores. “Wagner não investe energia em fazer de apoiadores e padrinhos um capital eleitoral, embora esteja num partido com expressão para fazer essas alianças. Ele está muito bem nas pesquisas, porém a gente não sabe se ele tem margem para crescer ou se atingiu um teto e vai perder apoiadores no decorrer do pleito”, avalia.
Em junho, pesquisa Datafolha contratada pelo O POVO mostrou Wagner à frente, com 32% das intenções de votos, 13 pontos a acima do segundo colocado, o prefeito José Sarto. O pedetista, por sua vez, tem a máquina pública à disposição e larga bem em quesitos de experiência política e administrativa. Além disso, conta com nomes de peso, como Roberto Cláudio (PDT) e Ciro Gomes (PDT), na retaguarda da campanha.
No caso do prefeito, Vieira cita a experiência política e na administração pública como pesos “a favor” do atual gestor. “Já no desempenho em pesquisas é algo que tanto pode piorar, pelo viés de cobrança que todo gestor sofre, como melhorar por eventuais entregas realizadas”, destaca.
Evandro Leitão disputará pela primeira vez um cargo no Executivo, mas conta com experiência política de dois mandatos como presidente da Assembleia Legislativa (Alece) e, sobretudo, um amplo arco de alianças para ampliar o alcance da candidatura. Os petistas Camilo Santana, Elmano de Freitas e Lula são alguns dos atores que devem atuar para aumentar essa expressão na Capital.
Especialistas citam a experiência política, com alianças e boa circulação para acordos e negociações, como fator de peso para o petista. “Embora esteja no PT, ele vem de outro partido (PDT) em que há possibilidade de construção de alianças futuras. O ponto forte do Evandro são seus apoiadores e as alianças partidárias. Já no desempenho das pesquisas, começa baixo, mas de acordo com a campanha há possibilidade real de crescer”, destaca Vieira.
Do lado oposto do espectro político, André Fernandes deve se apegar à figura do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para manter o eleitorado mobilizado. Sendo um dos mais novos na disputa, tem margem de crescimento segundo especialistas.
“Fernandes representa um segmento de ‘influenciadores’, que constroem eleitorado a partir de seguidores. É uma experiência política recente. Ele vem como um outsider que tenta construir essa carreira a partir do peso dos seus apoiadores e padrinhos. No caso dele, é o que tende a fortalecê-lo”, diz Paula.
A professora considera que Fernandes tem desempenho relevante nas pesquisas iniciais, para um nome de primeira viagem. “Não apenas por ele aparecer bem, mas porque tem um potencial de crescimento a partir de migração de votos de outros candidatos. O cenário para André ainda está em construção em termos de Executivo”, conclui.
André Fernandes (PL)
Experiência administração pública: 1 estrela
Experiência Política: 3 estrelas
Apoiadores/Padrinhos: 4 estrelas
Alianças (partidos): 1 estrelas
Desempenho em Pesquisas: 3 estrelas
Capitão Wagner (União Brasil)
Experiência administração pública: 2 estrelas
Experiência Política: 4 estrelas
Apoiadores/Padrinhos: 1 estrela
Alianças (partidos): 1 estrela
Desempenho em Pesquisas: 4 estrelas
Chico Malta (PCB)
Experiência administração pública: 1 estrela
Experiência Política: 3 estrelas
Apoiadores/Padrinhos: 1 estrela
Alianças (partidos): 1 estrela
Desempenho em Pesquisas: 1 estrela
Eduardo Girão (Novo)
Experiência administração pública: 1 estrela
Experiência Política: 3 estrelas
Apoiadores/Padrinhos: 1 estrela
Alianças (partidos): 1 estrela
Desempenho em Pesquisas: 1 estrela
Evandro Leitão (PT)
Experiência administração pública: 3 estrelas
Experiência Política: 4 estrelas
Apoiadores/Padrinhos: 5 estrelas
Alianças (partidos): 5 estrelas
Desempenho em Pesquisas: 3 estrelas
George Lima (Solidariedade)
Experiência administração pública: 1 estrela
Experiência Política: 2 estrelas
Apoiadores/Padrinhos: 1 estrela
Alianças (partidos): 1 estrela
Desempenho em Pesquisas: 1 estrela
José Sarto (PDT)
Experiência administração pública: 5 estrelas
Experiência Política: 5 estrelas
Apoiadores/Padrinhos: 3 estrelas
Alianças (partidos): 4 estrelas
Desempenho em Pesquisas: 3 estrelas
Técio Nunes (PSOL)
Experiência administração pública: 1 estrela
Experiência Política: 1 estrela
Apoiadores/Padrinhos: 1 estrela
Alianças (partidos): 1 estrela
Desempenho em Pesquisas: 1 estrela
Zé Batista (PSTU)
Experiência administração pública: 1 estrela
Experiência Política: 2 estrelas
Apoiadores/Padrinhos: 1 estrela
Alianças (partidos): 1 estrela
Desempenho em Pesquisas: 1 estrela
Por: Emanuel Freitas, professor de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece)
Eleições compõem o imaginário e a regularidade das democracias modernas. É nesses períodos em que o suposto “poder do povo” se materializa na escolha daqueles que governarão o conjunto inteiro de uma coletividade: a nação, o estado ou a cidade. Por isso mesmo, a existência da eleição, livre e periódica, é um dos indícios de saúde de uma democracia. Por isso mesmo, parte considerável da vida social, da agenda política, dos afetos e do espaço público de discussão se voltam para aquilo que se desenrola como num enredo, que ao final contará a história de perdedores e vencedores.
A preço de hoje, a capital cearense deverá ter cinco candidaturas importantes, desconsiderando as ditas “nanicas”. Pela centro-esquerda/governismo, Evandro e Sarto, que disputa a reeleição. Pela direita, Wagner; e pela extrema direita, André e Girão. Todos candidatos “estabelecidos” no poder; nenhum “de fora” do jogo institucional (podendo aí incluir Wagner, ex-secretário de saúde e cônjuge de uma deputada federal, que ocupa a “sua” vaga na Câmara).
As imagens dos candidatos, que são projetadas tendo em vista a opinião pública, começam a circular: o tocador de obras e “descolado-zoeiro prefeito” (Sarto); o pacificador institucional, moderado, homem de confiança e incluído no “projeto popular de poder” (Evandro); o direitista “sem padrinho” e, agora, “com experiência” para além da segurança (Wagner); o representante-raiz da política disruptiva (André) e seu concorrente direto (Girão).
As pesquisas assinalam um segundo turno inevitável. As forças de direita, que são também oposição em todos os níveis (municipal, estadual e federal), deverão levar a disputa para o enfretamento do “eles” que há tempos governam Fortaleza e o Ceará e produziram o quadro que está aí, ampliando de modo considerável o “copo meio vazio”. A eles caberá o confortável lugar da “pedra” atirada, em especial pela onda de violência que campeia a Cidade e o Estado.
Uma força de centro-esquerda, que deverá mostrar-se como o nome oportuno para alinhar as três esferas (algo que deu certo lá atrás, em 2008, com Luizianne, do mesmo partido), mas que também colherá as já muitas insatisfações com relação a Lula e a Elmano (e sem a defesa aguerrida da “lôra” e de seu grupo – nessa frente, como atuará o PSOL?).
Em meio a tudo isso, o prefeito, que flerta abertamente com os conservadores da cidade, tentará a reeleição, não contando mais com os feitos de Roberto Cláudio como sua vitrine (até porque seu slogan “pela primeira vez, foi a prefs que fez” põe Roberto no lugar de não-realizador). Agora, será Sarto, seus (não-)feitos e os opositores.