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Vereadores: os tipos e as formas de se eleger e de atuar
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Vereadores: os tipos e as formas de se eleger e de atuar

Parlamentares tem perfis diferenciados, que incluem atuação mais geográfica, em bairros, nas redes sociais, em grupos sociais, categorias profissionais, essas tipologias não se excluem, pelo contrário, muitas vezes são complementares
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FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL,09.04.2024:  1° Sessão da Câmara Municipal após a janela partidária. CMFor (Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL,09.04.2024: 1° Sessão da Câmara Municipal após a janela partidária. CMFor

As câmaras municipais abrigam vereadores de diferentes perfis, atuações e formas de se relacionar com os eleitores e buscarem votos. Essas vagas estarão em disputa nas eleições de 2024. Além dos que lá já estão e buscarão a recondução, há muita gente fora de olho na conquista de uma das vagas legislativas.

Em Fortaleza, entre as 43 vagas, distinguem-se vários desses estilos. (ver arte). Entre as principais tipologias estão os chamados vereadores de bairro, que têm ligação intrínseca ou muito próxima com bairros da Capital, seja porque residem e têm ligação afetiva ou por dedicarem a atuação parlamentar; vereadores de opinião, mais ligados à defesa de pautas ideológicas ou mais próximas de um espectro político.

Há ainda vereadores oriundos da máquina pública, que ganharam projeção política a partir de cargos para os quais foram indicados pela administração pública. Vereadores de categoria, ou seja, ligados a segmentos de trabalhadores. Vereadores vinculados a movimentos religiosos, que exercem suas lideranças localmente em igrejas e comunidades religiosas. Vereadores de rede social, que se destacam pela atuação nas plataformas digitais, dentre outros. Essas tipologias não se excluem, pelo contrário, muitas vezes são complementares.

Cleyton Monte, professor e pesquisador vinculado ao Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídias (Lepem-UFC), destaca as transformações ocorridas ao longo do tempo no perfil de vereadores e candidatos à Câmara.

“Há 20 ou 30 anos, o vereador e candidato mais típicos eram as lideranças do bairro. Hoje, temos outros perfis chegando com força. Há presença mais consolidada do voto religioso; do voto ligado a forças de segurança; daqueles candidatos ligados às redes sociais, que têm relações mais diretas com eleitorados e pautas mais específicas, como causa animal, meio ambiente”, pontua.

Dentro dos perfis de vereadores, Monte observa certa vantagem para o chamado vereador de máquina pública. “O candidato da máquina é constante e tem mais vantagem, ao meu ver, porque o vínculo com o serviço público gera recursos. Imagine, por exemplo, um secretário da Educação, da Saúde, ele já opera dentro de uma rede institucional. Mesmo quando sai do cargo para concorrer, esse ex-secretário continua com acesso a essa rede e garante vantagem. A gente vê a força da máquina quando olha para as últimas legislaturas”.

O professor Raulino Pessoa, doutor em Ciência Política pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), reforça a importância da eleição para vereador para o cotidiano da população. A primeira é o efeito direto na vida das pessoas. “A partir da percepção de questões do dia a dia. Temas de saúde, melhoria de asfalto, de creches, como estão as unidades de saúde etc. Eles (vereadores) ficam muito próximos das demandas da população”.

Sobre os perfis de vereadores, Raulino destaca as lideranças territoriais (de bairro) como atores que se mantêm relevantes na esfera política, mesmo com os avanços tecnológicos. “Esse tipo de liderança ainda é muito forte, mesmo com as redes sociais. Não tem nada de atrasada, tem relevância e bem comum. São pessoas que atuam em bairros periféricos, em que o Estado está ausente em alguma medida, fazendo a intermediação entre o cidadão comum e o ente municipal. Eles têm um papel central nessa articulação”, destaca.

Referindo-se ao perfil como “vereador de representação geográfica”, Pessoa diz que a categoria mescla com os chamados vereadores ligados ao poder público. “Esse vereador da máquina, seria uma carreira política possibilitada pela ocupação de algum cargo burocrático no Executivo municipal. Isso também ocorre quando um líder local vai entrar na arena política. Ou no caso de fortalecer determinadas lideranças localmente”, explica.

Já sobre os vereadores de opinião, o pesquisador diz que se apegam a um “eleitor solto”. Uma parcela mais influenciada por outro tipo de campanha. “É um eleitor que não é movido pela questão territorial, mas por motivos de adesão ideológica ou de categoria profissional, ou mesmo por pautas de minorias sociais e questões étnicas e raciais”.

Cleyton Monte destaca que embora os vereadores tenham mais proximidade com uma dessas tipologias, na maioria dos casos não se resumem a apenas uma frente de atuação.

"A Câmara é muito heterogênea, assim como a cidade. O que vejo na CMFor, é que mesmo aqueles ligados à categorias, mesclam o trabalho com bases locais. Somente o trabalho junto às categorias/segmentos não é suficiente. Há trabalhos em diferentes frentes”, aponta.

Os tipos de vereador

Vereador de bairro

É um tipo de parlamentar com atuação mais focada no âmbito territorial/geográfico. Tem ligação intrínseca com um bairro ou um conjunto de bairros próximos, muitas vezes porque reside nas adjacências ou por ter ligação afetiva com o local. Costuma dedicar a atuação parlamentar a questões desta sua região.

Neste grupo pode-se citar o vereador Adail Jr (PDT), ex-vice-presidente da Câmara, com base e atuação forte na região do Antônio Bezerra, e outros parlamentares que adotam, inclusive, o nome do bairro em suas identificações no dia a dia, caso da vereadora Ana Aracapé (Avante).

Vereador de opinião

É um tipo de parlamentar que está mais ligado à defesa de pautas ideológicas ou mais próximas e específicas de um espectro político. Na atual composição da Câmara, a vereadora Priscila Costa (PL) é um dos exemplos deste segmento pela sua atuação ligada a pautas conservadoras. A ex-vereadora Larissa Gaspar e o vereador licenciado Guilherme Sampaio, ambos do PT e atuando como deputados hoje, são outros exemplos de parlamentares ligados a pautas ideológicas, nesse caso no campo da esquerda.

Vereador de máquina

É um tipo de parlamentar que galgou projeção política a partir da sua atuação na máquina pública. Geralmente indicado para cargos em secretarias e entidades da administração pública. Neste grupo é possível citar parlamentares como Lúcio Bruno (PDT) e Júlio Brizzi (PT).

Bruno atuou na Secretaria de Desenvolvimento Econômico e coordenador de articulação política da Prefeitura por quase oito anos na gestão RC. Brizzi, por sua vez, atuou como secretário de Juventude na Coordenadoria Especial de Políticas Públicas de Juventude de Fortaleza (2015-2020) e se elegeu vereador. Embora seja um tipo de parlamentar que se projeta a partir da máquina, não está amarrado a ela; o que ocorreu no caso de Brizzi, hoje compondo a oposição à gestão do PDT.

Muitas vezes, o vereador que vem de cargos na gestão tem foco eleitoral em alguns bairros, redutos designados pelas articulações palacianas. Embora possa ser uma votação sem que, em princípio, o parlamentar tenha vínculo propriamente com a região.

Vereador de categoria

É um parlamentar que traz como bandeira a representação de uma ou mais categorias profissionais ou ainda de uma área de atuação como saúde, segurança ou educação por exemplo.

Dentro da Câmara Municipal de Fortaleza, estão presentes nomes como a Enfermeira Ana Paula (PSB), representando a categoria da enfermagem e Moura Taxista (Avante), representante do sindicato de taxistas do Ceará e suplente que chegou a assumir mandato na Câmara.

Vereador de movimento religioso

É um tipo de parlamentar com atuação mais próxima a comunidades religiosas. Pode ser um líder religioso, de fato, ou uma voz que defende pautas ligadas ao grupo religioso do qual faz parte.

Dentro da Câmara é possível citar o vereador Jorge Pinheiro (PSDB), membro da Comunidade Católica Shalom e defensor da pauta contra o aborto e bandeiras de apoio à família e combate à “ideologia de gênero”. Outro nome é o vereador Ronaldo Martins (Republicanos), ligado à igreja Universal, que tem bandeiras como a livre pregação do Evangelho, e foi autor da lei que tornou igrejas e templos atividades essenciais durante o período da pandemia de Covid-19.

Vereador de redes sociais

Tipo de parlamentar que utiliza das plataformas digitais, sobretudo as redes sociais para atingir seu público alvo. Geralmente são pessoas mais jovens, com mais propriedade na utilização das linguagens de redes sociais. Geralmente estão vinculados a pautas específicas, podendo ter teor ideológico forte ou mesmo a defesa de “pauta única” (atuação voltada a um tema).

Exemplos recentes são Carmelo Neto (PL), eleito em 2020 e hoje deputado estadual; Gabriel Biologia (Psol), vereador com presença nas mídias sociais e ligado à pautas de defesa do meio ambiente. Célio Studart, vereador entre 2017 e 2020 e hoje deputado federal, que tem atuação ligada à causa animal.

Vereador com perfil misto

Parlamentares que agregam um ou mais perfis de atuação. Pode englobar, inclusive, vereadores que buscam diversificar uma atuação já consolidada.

Dentre os nomes que se enquadram pode-se citar Inspetor Alberto (PL), pois agrega característica de viés ideológico (mais à direita) e a defesa de pautas da categoria da segurança.

Professora Adriana Almeida (PT), com atuação que engloba o viés ideológico do partido (mais à esquerda) e a categoria dos profissionais da educação. Outro nome é Cônsul do Povo (PSD), que tem proximidade com categorias da área da segurança e atuação territorial em comunidades na região do Porto das Dunas.

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