Silvio Almeida foi demitido do cargo de ministro dos Direitos Humanos e Cidadania ontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), após virem à tona denúncias de assédio sexual feitas à ONG Me Too Brasil. E também a informação de que a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, teria sido um dos alvos do assédio.
O agora ex-ministro negou todas as acusações. A secretária executiva da pasta, Rita Cristina de Oliveira, da equipe de Almeida, entregou o cargo. A ministra Esther Dweck (Gestão) será ministra interina dos Direitos Humanos, acumulando as funções.
"Diante das graves denúncias contra o ministro Silvio Almeida e depois de convocá-lo para uma conversa no Palácio do Planalto, o presidente Lula decidiu pela demissão do titular da pasta de Direitos Humanos e Cidadania", diz nota da Presidência. "O presidente considera insustentável a manutenção do ministro no cargo considerando a natureza das acusações de assédio sexual."
Anielle Franco foi ouvida por ministros do governo, em reunião. Antes da decisão, Lula afirmou, em entrevista, que "alguém que pratica assédio não vai ficar no governo". A declaração foi feita à Rádio Difusora, em Goiânia (GO).
Depois do anúncio da exoneração de Almeida, Anielle Franco se manifestou e destacou a "ação contundente" de Lula. "Peço que respeitem meu espaço e meu direito à privacidade. Contribuirei com as apurações. Não é aceitável relativizar ou diminuir episódios de violência", disse a ministra.
À noite, Silvio Almeida se manifestou nas redes sociais e afirmou ter pedido ao presidente Lula que o demitisse. "Nesta sexta-feira, 6, em conversa com o Presidente Lula, pedi para que ele me demitisse a fim de conceder liberdade e isenção às apurações, que deverão ser realizadas com o rigor necessário e que possam respaldar e acolher toda e qualquer vítima de violência. Será uma oportunidade para que eu prove a minha inocência e me reconstrua", afirmou na postagem, dizendo ainda ser o "maior interessado em provar minha inocência".
Sem citar nomes, Almeida voltou a endossar que é alvo de um complô de inimigos políticos que o derrubaram do cargo. "A luta histórica do povo brasileiro e sua libertação são maiores que as aspirações e necessidades individuais", afirmou o ex-ministro.
O ex-secretário nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, pasta ligada ao Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, Ariel de Castro Alves, afirmou à reportagem que "o governo sabia desde janeiro" sobre a acusação feita por Anielle.
Ele já havia deixado o ministério em maio do ano passado, mas relatou que recebeu os relatos de colegas sobre o assédio e das denúncias contra o agora ex-ministro depois de sua exoneração. A reportagem entrou em contato com o Ministério dos Direitos Humanos e com o governo, mas não obteve resposta sobre a afirmação do ex-secretário.
Alves disse que, após o caso envolvendo Anielle, surgiram outras denúncias de assédio moral na pasta, envolvendo Almeida e assessoras diretas dele. Ele também relatou nomes de outros servidores que teriam deixado a pasta em razão de episódios de assédio moral, que a reportagem não publicará por não ter conseguido contato com elas.
Candidata a vereadora em São Paulo, a professora Isabel Rodrigues (PSB) relatou um episódio de assédio envolvendo Almeida. Ela publicou um vídeo na tarde dessa sexta-feira, 6, em seu Instagram afirmando que o episódio ocorreu em agosto de 2019, segundo ela, anos antes de ele assumir o Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania.
O ex-secretário disse que "mais de 50" pessoas deixaram o MDHC "chateados e frustrados" com as atitudes de Almeida e de suas principais assessoras. Ele foi exonerado da Secretaria dos Direitos da Criança em maio.
"Ele (Almeida) e alguns assessores dele justificaram que eu não teria competência e que era insubordinado, porque não aceitava ordens de um ministro negro, dando a entender que eu seria racista", afirmou.
Lula, que viajara para Goiânia ontem, retornou a Brasília no início da tarde e chamou ao Planalto os ministros Ricardo Lewandowski (Justiça), Jorge Messias (Advocacia-Geral da União), Vinicius Carvalho (Controladoria-Geral da União), Esther Dweck (Gestão) e Cida Gonçalves (Mulher).
Na quinta-feira, após a publicação de notícia pelo site Metrópoles relatando que Almeida fora acusado por assédio, a ONG Me Too Brasil, que combate o abuso contra mulheres, divulgou nota afirmando ter o consentimento das vítimas para expor o assunto, mas que omitiria o nome sob o argumento de que era preciso protegê-las.
Após o caso vir a público, Almeida divulgou nota e vídeo se declarando alvo de denúncias sem prova. Ele também acionou a Justiça para que a ONG preste esclarecimentos sobre as denúncias de assédio que recebeu contra ele. Almeida pediu à Justiça que a organização apresente esclarecimentos no prazo de 48 horas. O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, informou que a PF abriria inquérito.
Anielle se manifesta após denúncia de assédio e diz que combate à violência é compromisso
A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, se manifestou pela primeira vez na noite desta sexta-feira, 6, desde que veio a público a denúncia de que ela teria sido assediada sexualmente pelo agora ex-ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida.
Anielle pediu respeito à privacidade e disse que ajudará nas investigações abertas contra Almeida. Também defendeu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e disse que "o enfrentamento a toda e qualquer prática de violência é um compromisso permanente deste governo".
Em nota divulgada em suas redes sociais, Anielle disse que "não é aceitável relativizar ou diminuir episódios de violência". "Reconhecer a gravidade dessa prática e agir imediatamente é o procedimento correto, por isso ressalto a ação contundente do presidente Lula e agradeço a todas as manifestações de apoio e solidariedade que recebi", afirmou.
A ministra afirmou que "tentativas de culpabilizar, desqualificar, constranger, ou pressionar vítimas a falar em momentos de dor e vulnerabilidade também não cabem, pois só alimentam o ciclo de violência". "Peço que respeitem meu espaço e meu direito à privacidade. contribuirei com as apurações, sempre que acionada", completou.
Desde que vieram à tona as denúncias de assédio sexual contra Silvio Almeida, o agora ex-ministro as negou categoricamente e disse que elas eram "ilações absurdas" com o único intuito de me prejudicar, apagar nossas lutas e histórias, e bloquear o nosso futuro". Almeida também criticou o Me Too, responsável por receber denúncias de mulheres que disseram ter sido assediadas sexualmente pelo ex-ministro e por confirmar a existência dessas acusações.
"Sabemos o quanto mulheres e meninas sofrem todos os dias com assédios em seus trabalhos, nos transportes, nas escolas, dentro de casa. E posso afirmar até aqui que o enfrentamento a toda e qualquer prática de violência é um compromisso permanente deste governo", disse a ministra.
Anielle se reuniu com o presidente Lula na tarde desta sexta-feira, 6, para explicar as denúncias que vieram a público contra Silvio Almeida. O agora ex-ministro também foi ouvido pelo presidente, em encontro que culminou em sua demissão do Ministério dos Direitos Humanos.
'Pedi para Lula me demitir', afirma Almeida, que se declara inocente de acusação de assédio
O ex-ministro dos Direitos Humanos Silvio Almeida, que foi exonerado nesta sexta-feira, 6, após virem à tona denúncias de assédio sexual, disse que pediu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que o demitisse. Almeida afirmou ainda que o afastamento do governo será importante para provar a inocência dele perante as acusações.
"Em conversa com o presidente Lula, pedi para que ele me demitisse a fim de conceder liberdade e isenção às apurações, que deverão ser realizadas com o rigor necessário e que possam respaldar e acolher toda e qualquer vítima de violência. Será uma oportunidade para que eu prove a minha inocência e me reconstrua", disse Almeida.
Na primeira declaração depois de deixar a Esplanada, o ex-ministro fez um balanço do período que esteve no governo. Ele disse que, ao longo de 1 ano e oito meses, reconstruiu "a política de direitos humanos no Brasil". "Acumulamos vitórias e conquistas durante essa jornada que jamais serão apagadas", declarou.
Sem citar nomes, Almeida voltou a endossar que é alvo de um complô de inimigos políticos que o derrubaram do cargo. "A luta histórica do povo brasileiro e sua libertação são maiores que as aspirações e necessidades individuais", afirmou o ex-ministro.
Lula decidiu demitir Silvio Almeida ao entender que a permanência do ministro no governo era insustentável. A exoneração ocorreu um dia depois da ONG Me Too afirmar, em nota, que ele foi denunciado por assédio sexual por pessoas ligadas ao governo federal. A organização omitiu o nome das denunciantes sob o argumento de que era preciso protegê-las, mas assegurou ter o consentimento das vítimas para expor o assunto.
Uma das mulheres que supostamente sofreram abusos cometidos por Almeida seria a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco. Em nota publicada após a exoneração do ex-ministro, Anielle criticou tentativas de "pressionar vítimas a falar em momentos de dor e vulnerabilidade". Ela também disse que vai colaborar com investigações quando for acionada.
Silvio Almeida afirmou que vai apoiar a realização de "criteriosas investigações" sobre as denúncias em que é alvo. Ele voltou a cobrar provas dos supostos assédios para poder se defender das acusações.
"Em razão da minha luta e dos compromissos que permeiam minha trajetória, declaro que incentivarei indistintamente a realização de criteriosas investigações. Os esforços empreendidos para que tenhamos um país mais justo e igualitário são frutos de lutas coletivas e não podem sucumbir a desejos individuais. Sou o maior interessado em provar a minha inocência Que os fatos sejam postos para que eu possa me defender dentro do processo legal", afirmou.
Ministros
Silvio Almeida é o 4º ministro do governo Lula a cair desde o início do mandato. Ele e o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Gonçalves Dias são os únicos demitidos por conta de denúncias veiculadas na imprensa