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Violência na campanha: candidatos denunciam ameaças do crime organizado
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Violência na campanha: candidatos denunciam ameaças do crime organizado

Candidatos a prefeito e vereador em diversos pontos do Estado tem relatado intimidações a partir da atuação de grupos criminosos
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Candidatos nas eleições de 2024 relatam ameaças de supostos membros de facções criminosas (Foto: JÚLIO CAESAR)
Foto: JÚLIO CAESAR Candidatos nas eleições de 2024 relatam ameaças de supostos membros de facções criminosas

A violência, rotineira no cotidiano da população nos municípios cearenses, afeta também a campanha eleitoral deste ano e tem os políticos como alvos de ataques ou ameaças até em algumas das cidades mais importantes do Estado. Autoridades são mobilizadas para apurar denúncias de ocorrências e ameaças concretas sofridas por candidatos aos cargos eletivos (prefeito e vereador) em 2024.

Caucaia

Um dos locais onde a situação é mais crítica é Caucaia, maior município do Ceará depois da Capital. Dos quatro candidatos a prefeito, três denunciaram casos de violência nesta campanha: Emília Pessoa (PSDB), Naumi Amorim (PSD) e Waldemir Catanho (PT). A situação é investigada pelas autoridades e já teve resultados práticos, como prisões de suspeitos.

O episódio mais recente foi nesta terça-feira, 17. A campanha de Catanho relatou que disparo de arma de fogo atingiu veículo que estava a serviço da candidatura.

O carro era usado pela equipe que colocava bandeiras no calçadão da Lagoa do Tabapuá. Logo ao deixarem o local, com o carro parado no semáforo, os ocupantes ouviram o barulho de cerca de cinco disparos. Na traseira do veículo, encontraram uma marca de bala.

Em nota, a equipe do candidato afirmou que ninguém se feriu na ocorrência e que o fato foi rapidamente comunicado à Polícia. A equipe ainda considerou o ato como uma “tentativa de intimidação” e aguarda a “apuração dos fatos e punição dos culpados”.

A campanha de Emília Pessoa já denunciou ter sido alvo de três ameaças nesta eleição. A mais recente, a pichação de um muro da cidade onde constava a frase "bala na Emília".

Em agosto, a candidata relatou disparos de arma de fogo em frente à residência dela, enquanto participava de reunião com líderes políticos. O POVO mostrou que a facção criminosa Massa Carcerária seria autora da ação criminosa.

Outra tentativa de intimidação contra a tucana ocorreu já em setembro, na agência de marketing que presta serviços para a campanha da deputada, onde um equipamento de energia elétrica foi arrancado "brutalmente", o que gerou a queda de energia no local e na vizinhança.

A campanha de Naumi Amorim denunciou que uma caminhada com apoiadores foi alvo de disparos de arma de fogo, no último dia 4, no bairro Planalto Caucaia. Ninguém ficou ferido.

As ações, segundo investigações, partem de grupos criminosos que atuam sob suspeita de extorquir campanhas pelo Ceará. Operação da Polícia Civil prendeu 25 pessoas suspeitas dessas e de outras práticas criminosas contra candidaturas pelo Estado. O número total de mandados de prisão era de 34, mas nove pessoas já eram presidiárias.

Candidato a vereador faz BO após ameaça de facção na Capital

Marcio Cruz (PCdoB), ex-vereador de Fortaleza e atual candidato a retornar à Câmara, denunciou ter sofrido ameaças por parte de supostos integrantes de uma facção criminosa que atua na Capital.

Em agosto, Cruz fez Boletim de Ocorrência no qual relata que supostos membros da facção Comando Vermelho teriam lhe abordado durante atividade de campanha e informado que ele não poderia fazer campanha em determinados bairros, pois apenas outro candidato estaria “autorizado” a atuar naquelas localidades. Os bairros mencionados são Padre Andrade, Jardim Iracema, Quintino Cunha e adjacências.

Além disso, Cruz relatou ter sofrido ameaças para fechar o comitê localizado na região. O caso está sendo investigado pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco).

Questionado pelo O POVO sobre se havia obtido algum retorno das autoridades, o candidato disse que ainda não e alegou que ações de grupos criminosos estariam ocorrendo em "diversos bairros" da Capital. O ex-parlamentar disse ainda que não fechou o comitê após sofrer as ameaças, mas relatou que a situação prejudica sua campanha.

"Não fechei (o comitê de campanha), porém não estou fazendo o mesmo trabalho. Porque as pessoas tem medo até de colocar um adesivo nosso. O prejuízo é enorme", destacou.

Ameaça a Izolda em Sobral

No início deste mês, um homem de 36 anos foi preso por suspeita de integrar organização criminosa e por ameaçar a ex-governadora do Ceará e candidata à Prefeitura de Sobral, Izolda Cela (PSB). A prisão ocorreu após os policiais receberem denúncia anônima informando que uma pessoa teria feito postagens nas redes sociais com ameaças à candidata.

O suspeito já tinha antecedentes criminais por tráfico de drogas, roubo, furto, crime contra a administração pública e foi autuado por ameaça e por integrar organização criminosa. A Polícia Civil do Estado do Ceará (PCCE) segue as investigações para apurar a participação do alvo em outros crimes.

Por nota, a SSPDS ainda informou que quatro adolescentes foram abordados e identificados por equipes da PMCE por atirarem rojões em pessoas que trabalhavam na campanha eleitoral da ex-governadora. A PCCE também investiga o caso.

Secretário promete atuação conjunta

O secretário de Segurança Pública e Defesa Social do Ceará, Roberto Sá, afirmou, no dia 6 deste mês, haver "esforço conjunto" das forças de segurança estaduais e federais, articuladas com o Ministério Público e o Judiciário, contra a tentativa de interferência das facções criminosas nas eleições municipais.

Durante reunião do secretariado do governador Elmano de Freitas (PT), Sá afirmou que o trabalho entre as forças "está extremamente articulado" para coibir as dinâmicas criminosas. No decorrer de entrevista coletiva, no Palácio da Abolição, o titular da pasta citou as polícias Militar e Civil do Ceará, a Polícia Federal (PF), o Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE), o Ministério Público do Ceará (MPCE), a Procuradoria Regional Eleitoral, a Procuradoria Geral do Estado (PGE) e o Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE).

"Nossa troca de informação com a Policia Federal é permanente. Eu determinei, reforcei e disse para nossas forças estaduais: independentemente de quem seja a atribuição, chegou a denúncia de crime eleitoral - principalmente nessa fase, que a gente precisa garantir esse pleito justo, livre, garantir o direito de ir e vir de todos, de eleitores, de candidatos - vamos atuar imediatamente com a Polícia Militar para saturar, reforçar o patrulhamento e prover a segurança das pessoas que estão na campanha", afirmou Sá.

Candidatos a vereador denunciam ameaças de facção em Fortaleza

A Polícia Civil investiga supostas ameaças que teriam sido feitas por uma facção criminosa a candidatos a vereador em bairros da região Oeste de Fortaleza. O POVO apurou que os candidatos denunciaram à Delegacia de Combate às Ações Criminosas Organizadas (Draco) que os criminosos disseram que somente uma pessoa poderia fazer campanha na área.

Em agosto, o candidato a vereador Márcio Cruz (PCdoB) registrou Boletim de Ocorrência (BO) em que relatou ter sido abordado por uma dupla que dizia integrar a facção Comando Vermelho (CV). Conforme seu depoimento, Cruz estava em uma atividade de campanha quando a dupla disse que ele não poderia atuar na região.

De acordo com o candidato, os homens aparentavam estar armados e tinham adesivos de um outro candidato. Em outra ocasião, também em agosto e durante uma atividade de campanha, um terceiro homem procurou Cruz, dizendo que ele teria de mudar o endereço de seu comitê de campanha — o que não fez, embora relate ter aumentado sua segurança pessoal.

"Não fechei (o comitê de campanha), porém, não estou fazendo o mesmo trabalho", afirmou o candidato. "Porque as pessoas têm medo até de colocar um adesivo nosso. O prejuízo é enorme". Questionado pelo O POVO sobre se havia obtido algum retorno das autoridades, o candidato disse que ainda não e alegou que ações de grupos criminosos estariam ocorrendo em "diversos bairros" da Capital.

O POVO opta por não divulgar quem seria o candidato supostamente apoiado pelo CV, nem quais foram os bairros onde as ameaças teriam ocorrido porque as investigações ainda estão em andamento, sem suspeitos presos.

Na mesma investigação, um outro candidato, Loiola Rodrigues (DC), foi ouvido sobre ameaças de criminosos. A assessoria do candidato informou que, diferentemente do informado anteriormente pelo O POVO, Loiola, morador da região, não sofreu ameaças de criminosos. Ele procurou a reportagem e informou que foi surpreendido ao ser intimado a prestar depoimento. Mas, disse ao O POVO que não relatou nenhuma situação, por não ter conhecimento. A candidatura informou ainda que a mudança de endereço do comitê não teve qualquer relação com ameaças de facções.

Rumores de ameaças de faccionados a candidatos em Fortaleza têm sido comuns nestas eleições municipais. Procurada para informar quantos inquéritos estão em andamento para apurar esses relatos, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) não respondeu.

A pasta afirmou apenas que as ameaças contra Márcio Cruz e Loiola Rodrigues estão sendo apuradas em inquérito policial que corre sob sigilo e que, portanto, "detalhes da investigação em andamento não podem ser revelados".

Nessa terça-feira, 17, a Polícia Civil deflagrou em Santa Quitéria (Sertão dos Crateús) operação que mirou suspeitos de ameaçar eleitores de um candidato a prefeito do município. Foram cumpridos 23 mandados de busca e apreensão, naquela que foi a 10ª fase da operação Demote.

No último dia 5 de setembro, pichações, que eram acompanhadas da sigla do CV, foram feitas em muros da cidade. "Si apoia o Tomás (Figueiredo, do MDB), vai entrar no problema com a Tropa do Paulinho Maluco" (sic), dizia uma delas.

A ação dessa terça foi coordenada pela Draco, com apoio do Departamento de Polícia Judiciária do Interior Norte (DPJI-Norte) e do Departamento de Polícia Judiciária Especializada (DPJE), além da Polícia Federal.

"Conforme informações policiais, os alvos são investigados por integrar grupos criminosos e promover atos criminosos na região", divulgou a SSPDS. "Todos os celulares apreendidos foram levados para uma unidade policial e serão periciados". (colaborou Vitor Magalhães)

FORTALEZA, CEARÁ, 13-09-2024: Formação de policiais militares. O evento contou com a presença do Governador do Estado do Ceará, Elmano de Freitas, o Secretário de Segurança, Roberto Sá, e o Coronel Comandante-Geral da Polícia Militar do Ceará, Klênio Savyo.  (Foto: Fernanda Barros / O Povo)
FORTALEZA, CEARÁ, 13-09-2024: Formação de policiais militares. O evento contou com a presença do Governador do Estado do Ceará, Elmano de Freitas, o Secretário de Segurança, Roberto Sá, e o Coronel Comandante-Geral da Polícia Militar do Ceará, Klênio Savyo. (Foto: Fernanda Barros / O Povo)

Projeto do Governo para destinar recursos de "lavagem" de dinheiro para à Segurança é aprovado

A Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece) aprovou nessa terça-feira, 17, o projeto de lei 106/2024 de autoria do Governo Executivo que destina às Forças de Segurança Estadual bens, direitos e valores resultantes dos crimes de lavagem de dinheiro e ocultação de materiais.

Na proposição assinada pelo governador Elmano de Freitas (PT), o texto cita que a intenção é empregar os recursos decorrentes dos delitos para a estruturação dos órgãos de segurança estaduais e o combate aos crimes.

No PL consta que os bens, direitos e valores serão convertidos em dinheiro e destinados ao Fundo de Segurança Pública e Defesa Social (FSPDS). A conversão poderá ser substituída pelo aproveitamento e a incorporação do bem ao patrimônio mobiliário ou imobiliário de um órgão vinculado à segurança pública, definido por comissão especificamente criada para os casos na Polícia Civil.

A proposta recebeu duas emendas do deputado estadual Sargento Reginauro, líder do União Brasil na Casa. A primeira, acrescenta que o orçamento do Poder Executivo do Ceará deverá conter fonte de recursos específica para identificação da procedência e a destinação legal dos valores que compõem a receita a partir dos bens e valores.

Na segunda emenda, fica autorizada a destinação dos recursos apreendidos de lavagem de dinheiro e ocultação de bens para treinar, armar e equipar as Guardas Municipais de municípios cearenses que apresentarem os maiores indicativos de criminalidade no Estado, com base em critérios estabelecidos pela própria Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS).

FORTALEZA, CEARÁ, 12-09-2024: Lançamento Painel Dinâmico de Monitoramento de Crimes Contra Povos Indígenas. Na foto, o Secretário de Segurança, Roberto Sá. (Foto: Fernanda Barros / O Povo)
FORTALEZA, CEARÁ, 12-09-2024: Lançamento Painel Dinâmico de Monitoramento de Crimes Contra Povos Indígenas. Na foto, o Secretário de Segurança, Roberto Sá. (Foto: Fernanda Barros / O Povo)

Secretário promete atuação conjunta

O secretário de Segurança Pública e Defesa Social do Ceará, Roberto Sá, afirmou, em entrevista no dia 6 de setembro, haver "esforço conjunto" das forças de segurança estaduais e federais, articuladas com o Ministério Público e o Judiciário, contra a tentativa de interferência das facções criminosas nas eleições municipais.

Durante reunião do secretariado do governador Elmano de Freitas (PT), Sá afirmou que o trabalho entre as forças "está extremamente articulado" para coibir as dinâmicas criminosas. No decorrer de entrevista coletiva, no Palácio da Abolição, o titular da pasta citou as polícias Militar e Civil do Ceará, a Polícia Federal (PF), o Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE), o Ministério Público do Ceará (MPCE), a Procuradoria Regional Eleitoral, a Procuradoria Geral do Estado (PGE) e o Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE).

"Nossa troca de informação com a Policia Federal é permanente. Eu determinei, reforcei e disse para nossas forças estaduais: independentemente de quem seja a atribuição, chegou a denúncia de crime eleitoral - principalmente nessa fase, que a gente precisa garantir esse pleito justo, livre, garantir o direito de ir e vir de todos, de eleitores, de candidatos - vamos atuar imediatamente com a Polícia Militar para saturar, reforçar o patrulhamento e prover a segurança das pessoas que estão na campanha", afirmou Sá na ocasião.

Em análise sobre casos concretos, como o impedimento de candidaturas de entrar em áreas gerenciadas pelo crime organizado ou prática de extorsão contra políticos ou eleitores, Roberto afirmou que a Polícia Militar deverá garantir o trânsito livre das campanhas com o reforço do patrulhamento. De modo paralelo, o secretário afirmou que a Polícia Civil será abastecida de informações para realizar investigações que poderão se traduzir em operações.

"A gente tem relatado para os candidatos: nos ajudem, denunciem, prestem depoimento ou até passem informação para o disque denúncia, o 181. Se alguém tiver algum receio de se identificar, faça no anonimato. Nós vamos conferir todas as denúncias que chegarem ao Disque Denúncia", pediu o secretário.

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