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Ex-secretário de Luizianne cobra "choque" na campanha de Evandro: "Se permanecer a mesmice vamos perder"
Politica

Ex-secretário de Luizianne cobra "choque" na campanha de Evandro: "Se permanecer a mesmice vamos perder"

Em entrevista à Rádio O POVO CBN, o sociólogo Geraldo Accioly que é figura histórica do petismo fez críticas a postura de parte dos correligionários e cobrou união dentro da legenda
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Entrevista de Geraldo Accioly, petista histórico, à Rádio O POVO CBN (Foto: Reprodução / Youtube / O POVO)
Foto: Reprodução / Youtube / O POVO Entrevista de Geraldo Accioly, petista histórico, à Rádio O POVO CBN

O sociólogo e petista histórico Geraldo Accioly fez uma análise da postura política do PT em Fortaleza e projetou o que é necessário para que o partido consiga a eleição em Fortaleza no segundo turno, que será disputado no próximo dia 27 entre Evandro Leitão (PT) e André Fernandes (PL).

Accioly fez ainda críticas a postura de parte dos correligionários e ao formato que a campanha de Evandro tem tomado. Ele cobrou ainda unidade entre alas e figuras de peso do petismo, como o ministro Camilo Santana (Educação) e a ex-prefeita de Fortaleza e atual deputada federal Luizianne Lins. Accioly já foi secretário nas gestões da petista, sendo coordenador de Projetos Especiais.

As declarações foram dadas nesta quinta-feira, 10, em entrevista aos jornalistas Jocélio Leal e Juliana Matos Brito da Rádio O POVO CBN. O registro das falas de Accioly seguem abaixo.

O POVO - O que cabe ao candidato do PT, neste momento, fazer para reverter o quadro do primeiro turno?

Geraldo Accioly - “O cenário não é fácil e o PT internamente tem que fazer análises sólidas. Não adianta fazer análises ufanistas. Nosso resultado no Ceará, como um todo... O pessoal fica com mania de analisar quem foi vitorioso pelo número de prefeituras, isso é uma grande bobagem e não significa nada. Aqui no Ceará, o Cid, do PSB, tem mais prefeituras com 65, mas vai governar 21% da população. O PT fez 46 e vai governar 15% da população (...) Afunilou agora para Fortaleza e Caucaia, que são simplesmente 30% 32% da população. A decisão de quem venceu ou vai vencer no Ceará está agora no dia 27. E nós não saímos bem, há um crescimento da direita bolsonarista no Estado. O Ceará deu votações fantásticas a Lula, Camilo e Elmano, mas a única coisa eterna é a mudança, então tudo está mudando sempre. Se nós não nos reinventarmos vamos começar a sofrer revezes”.

Eu acho que a campanha do Evandro tem que mudar radicalmente. Ela vive um passado, das campanhas do Tasso, aquela plasticidade, filmagem de cima, coisas caríssimas, depois oito anos do Cid, oito anos do Camilo e um e meio do Elmano e há uma repetição nesse tipo de programa eleitoral, a mesma plasticidade. E tem uma coisa que eu acho muito grave, sempre lutei contra isso. Em campanha eleitoral o marketing tem que se submeter a política e não o contrário. Acho que há uma inversão nesse momento.

Outra coisa, me botaram num grupo do PT e não aguentei ficar. Todo pessoal fala mal do André Fernandes para nós mesmos. Isso não existe, tem que ir para a rua, atingir outras pessoas. Temos que avançar isso e ter propostas. O PT não funciona, ele é analógico ainda, falo de direções e da militância. Não basta receber convite por WhatsApp, tem que fazer plenária. Tem que afagar a militância para ela se sentir motivada e ir para rua”.

OP - André venceu em 14 zonas da Cidade e Evandro em três; há um problema de comunicação do PT e da esquerda com as pessoas?

Accioly - "O PT tem uma questão crônica, apesar de ter fundação e um monte de coisa, fazer pesquisa, nós nunca fizemos nem entramos de cabeça nas mídias digitais. É difícil, foi difícil para o PT durante os 40 anos de vida. Nossos filhos nem sempre são petistas, porque encaravam o PT como uma forma de afastamento da família. ‘Pai, já vai para uma reunião de novo?’. Essas coisas aí, nós não trabalhamos isso. Muitas pessoas não tem aquela coisa digital, mas isso tem que ser feito. Um amigo meu diz que a filha dele diz que não gosta do André Fernandes, mas que a música dele fica o tempo todo na sua cabeça. Então temos que pensar o que está acontecendo. É algo que sempre tivemos dificuldade.

A outra coisa é que não estamos conseguindo nos mobilizar de forma tradicional (...) Terminamos uma campanha, nossos queridos presidentes do PT de Fortaleza, Guilherme (Sampaio), e do Ceará, Conin (Antônio Alves Filho), tinham que chamar plenárias imediatamente. O PT terceirizou suas presidências, as grandes lideranças é que comandam. Adoro o Conin e vou dizer isso para ele, ‘Conin tu parece estar na clandestinidade’, quem é que sabe que o presidente do PT Ceará se chama Conin? O PT sofre hoje e por isso vou bater aqui, estou criticando para mudar, quebrar estruturas, porque se permanecer a mesmice vamos perder. Temos que quebrar a ditadura das personalidades, a ditadura dos parlamentares, dos grandes cargos comissionados dentro do PT (...) Fazer reuniões paralelas, colocar militância em cada praça, dividir a cidade, fazer a mobilização como foi feito na campanha do Lula".

OP - Isso não é reflexo de um partido que chegou ao poder e ficou por longo tempo?

Accioly - "O poder gera sedentarismo e calcificação óssea que não quebra, não raspa. Esse é o problema que sentimos agora. O problema é que a gente não discute isso antes da campanha. Esse resultado no Ceará foi ruim nacionalmente e o nacional também foi ruim. Perdemos forças nas cidades médias, tínhamos quatro prefeituras com mais de 200 mil habitantes, ganhamos duas e estamos com algumas no segundo turno. (...) Mas esses problemas vem, mas não dá para discutir tudo isso agora. As pessoas se acostumaram a tentar não fazer campanha e achar que colocando três nomes na frente, é uma vez mais Lula, uma vez mais Camilo, mais Elmano, há um cansaço disso. As pessoas de uma capital como Fortaleza são pragmáticas. Por que vou votar no Evandro? Quero saber em termos concretos. Quais as propostas e as marcas de campanha? (...) Tem que haver nesse momento união, todo mundo na rua".

OP - O PT está desunido no Ceará? Onde anda Luizianne? Como é essa união que você fala?

Accioly - "O problema é mais grave, Luizianne está em Caucaia fazendo a campanha. Há um problema grave de relação dela com o Camilo, todo mundo sabe e todo mundo fecha os olhos. O Camilo fez um ato em Caucaia e pediu pra ela não ir. É uma bobagem isso. Até pouco tempo atrás ele declarou que não apoia mais o Sarto, significa dizer que apoiou o Sarto na campanha passada, cujo o PT tinha candidato. Defendo parar com essas bobagens de vaidade aí, nem o Camilo é a rainha da Inglaterra, nem a Luzianne a rainha das galáxias. Tem que se juntar se quiserem o instinto de sobrevivência. Se continuar com esse modelito trágico, nós vamos para o buraco".

OP - O PT se acomodou tendo o Elmao ganhado em primeiro turno, achando que poderia repetir esse ano o que fez em 2022?

Accioly: "É normal, né. Quando o time de futebol vai ganhando você diz, está bom demais, e se acomoda. Não há dúvida. E nós também temos problemas estruturais. E nós somos vitoriosos, porque temos um governo nacional que se pegar todo mundo e espremer numa situação em que tentassem um impeachment o Lula teria no máximo 150 pessoas (...) Nacionalmente temos um excelente exemplo que é o do Lula, que conversa, dialoga, humilde, o Haddad faz reunião com 10 a 15 pessoas. São obrigados a discutir com todos os partidos. O exemplo do Lula precisa ser seguido no Ceará nesse aspecto. Aí acontece que tem um governo com maioria na Alece, é normal. Mas o Lula como não tem o instinto de sobrevivência fala mais alto. Cada aprovação em Brasília aqui é um sufoco.

OP - Lula vem a Fortaleza, o que ele agrega nesse momento e o que espera que ele fale?

Accioly - "Espero que ele dê um puxão de orelha no PT aí, chame todo mundo, faça a agenda pública. Porque tem que botar esse povo dentro de uma sala. Camilo, Luizianne, Elmano, Evandro tudo e a campanha do PT tem que ser feita pelo PT, não pode ficar recebendo ordem do André Barbosa, do Leo Couto, esses personagens que na imagem do PT, o pessoal tem muita raiva deles, porque a campanha do RC foi feita por eles, foram eles que amarelaram Fortaleza quando derrotaram a gente. A campanha tem que ser forjada pelo PT, mas tem que se abrir, conversar e a partir daí organizar a campanha. Ninguém organiza campanha em gabinete e marqueteiro tem que ser capilarizado pelas informações que vêm da rua, se não fica dentro do ar-condicionado falando: ‘pesquisa qualitativa, olha o trekking, o trokk, o trukk’ e não resolve nada. É isso, tem que ter um choque nessa campanha agora”.

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