Prefeito eleito de Iguatu, Roberto Filho (PSDB) assumirá o maior município do Centro-Sul cearense em janeiro de 2025, após uma disputa polarizada na cidade que passou por turbulências políticas ao longo dos últimos anos. O futuro gestor é filho do ex-prefeito de Iguatu Roberto Costa, que morreu em 1994 ainda na primeira metade de seu mandato, e assumirá o município 30 anos após a morte do pai.
Iguatu foi uma das duas vitórias do PSDB em 2024 - a outra ocorreu na prefeitura de Massapê -. Ambas as cidades serão geridas por opositores que disputavam contra candidaturas do grupo governista estadual comandado pelo PT, do governador Elmano de Freitas e do ministro Camilo Santana.
Roberto Filho obteve 49,29% dos votos, contra 45,86% de Ilo Neto (PT). O prefeito eleito considera que as urnas deram um recado e projeta uma relação institucional sem problemas com esses e outros atores políticos. Ele também falou ao O POVO sobre suas prioridades e o que projeta para a gestão.
O POVO - O senhor venceu a eleição com uma diferença de pouco mais de 2 mil votos. Qual o significado político e o tamanho dessa vitória registrada nas urnas em 2024?
Roberto Filho - A pré-campanha se iniciou com muitos candidatos e alguns acabaram desistindo ao longo do tempo. O que a gente conseguiu mostrar é que representamos a verdadeira mudança que Iguatu ansiava. A força trazida pelo candidato Ilo Neto, do PT, vinha do pai dele, o deputado Agenor, e com toda a estrutura de apoio do governo estadual de outros políticos da região. Mas a gente mostrou que nesse momento a política precisa trazer novos ares, novas ideias, pessoas com alguma experiência para mostrar que dá para fazer diferente. No Iguatu a gente vinha de 20 anos de gestões ou muito pesadas, que faziam perseguições a pessoas ou desunião. Ou gestões como a de agora, uma administração que deixou a cidade abandonada, por problemas relacionados a questões judiciais. Nossa população estava querendo mudança, nem queria o passado de perseguição, nem o presente de abandono. E nós viemos como uma verdadeira terceira via. Contra o candidato do prefeito, contra o candidato do governo (do Estado) e a partir dos projetos a população entendeu que nós seríamos a melhor opção para o Iguatu.
OP - Seu principal adversário na eleição, Ilo Neto, é filho do deputado estadual Agenor Neto. Há ainda outros grupos políticos disputando espaço. Como governar, de forma eficiente, mas com diferentes interesses que podem gerar conflito?
Roberto - Minha intenção desde o início é acabar com essas picuinhas políticas e desarmar os palanques. Iguatu sofreu muito porque sempre após a eleição os palanques continuaram armados e as pessoas disputando e atrapalhando umas às outras. O que pretendo fazer é um momento de tranquilidade, união. Hoje fomos eleitos contra o candidato do Governo do Estado, mas isso não significa que o governo não vai apoiar o Iguatu. Tenham certeza que vamos demandar junto ao governo e que seremos atendidos. Meu trabalho vai ser esse, de trazer desenvolvimento com o apoio de todos que querem trazer isso para o Iguatu. Tanto do Governo do Estado, quanto do Governo Federal e de quem tirou voto. Além disso, o deputado Danilo Forte, com quem estive em Brasília, já garantiu alguns recursos que virão já empenhados esse ano para serem repassados no ano que vem. Dessa forma, desmontando palanques e conclamando todos que querem o bem.
OP - Como projeta a relação com o governo estadual, comandado pelo PT, e com outros atores políticos? É possível que haja parceria com atores ou espera dificuldades?
Roberto - Espero que sim, que não haja dificuldades. As urnas e a população deram algum tipo de recado ao Governo do Estado. As urnas deram um recado para o governador, para o ministro Camilo, que eles precisam se abrir um pouco mais, não ficar fechados nos seus próprios apoiadores e precisam escutar, um pouco mais, de forma geral, a população. Mas tenho certeza que, diante disso, seremos bem recebidos e os recursos que buscaremos para o Iguatu. O governo irá nos receber e nos atender.
OP - Quando o candidato ligado ao atual prefeito retirou-se do pleito, pessoas ligadas à gestão lhe apoiaram. Como o senhor se coloca em relação a esses outros projetos que disputavam em Iguatu, do grupo do Agenor e do atual prefeito Ednaldo Lavor? O senhor teve apoio do atual prefeito?
Roberto - Não tive acordo ou conversa nesse sentido com o atual gestor. A gente vinha fazendo, dentro das propostas, um movimento de mudança e as pessoas da gestão após a desistência do candidato apoiado pelo prefeito, não queriam voltar àquela realidade de anos atrás. Foi um movimento natural das pessoas que atuavam na atual gestão, acreditando nesse projeto de nova liderança, com responsabilidade, tranquilidade e trabalho.
OP - Iguatu tem vivido uma sequência de turbulências políticas, inclusive com prefeito afastado por um ano. Quais as primeiras medidas que o senhor tomará quando assumir a prefeitura, a fim de garantir um nível de estabilidade?
Roberto - Montei minha equipe de transição. A partir da semana que vem começaremos a ter a interação com a atual gestão para entender a situação atual, em termos de gestão, financeiros. A partir daí montamos nosso primeiro projeto estabelecendo metas e prioridades. que já adianto que serão a saúde e a infraestrutura. Em termos de estabilidade, vamos mostrar para os servidores que o município precisa deles. Trazendo diálogo e transparência. Esse será nosso principal diálogo para dar uma guinada nas questões dos serviços. Estarei, claro, transparente na relação com a população e com a Câmara.
OP - Seu partido, o PSDB, elegeu apenas dois prefeitos no Ceará, mas foram vitórias simbólicas pelos contextos de disputa locais (Iguatu e Massapê). Quais as perspectivas do partido a partir dessas prefeituras? O senhor recebeu convites de outros partidos após a vitória?
Roberto - Quero aproveitar para parabenizar o Ozires Pontes, pela vitória em Massapê e que fará lá o que queremos fazer aqui no Iguatu, que é mostrar uma gestão diferente. O PSDB teve duas vitórias, mas com prefeituras relevantes que mostram o novo momento do partido aqui no Ceará. Élcio e Tasso me convidaram para ser candidato pelo partido, sempre me apoiaram bastante e os agradeço. Sigo no PSDB, mas questões partidárias, a gente claro tem amigos em outros partidos, recebe às vezes, não convites diretamente, mas conversas sobre assuntos do futuro. Mas não estou pensando nisso agora e vou dialogar e continuarei dialogando com diversos atores políticos, buscando sempre o melhor para a cidade. Se políticos de outros partidos puderem ajudar, vou aceitar com tranquilidade.
OP - Seu pai, Roberto Costa, morreu em um acidente de carro na metade do mandato e agora você chega ao poder no mesmo município, 30 anos depois. Como se sente continuando a trajetória?
Roberto - Meu pai tem uma história política. Foi vereador, vice-prefeito, deputado e depois prefeito. Ele foi prefeito de 1993 até novembro de 1994. Essa tragédia que ocorreu com ele, balança a gente ainda hoje. É um pouco de algo que ficou por fazer. Então ficou meio que uma missão de vida que achei que precisava completar, depois de crescer e amadurecer, de ser um executivo numa empresa com atuação nacional. Achei que já estava num momento em que poderia ajudar Iguatu e o nome dele, a forma de gestão que imprimiu lá atrás. Foi algo que até surpreendeu a gente, o quanto isso ainda é forte, completam-se 30 anos agora em novembro da morte dele. Confesso que até fiquei surpreso do quantos as pessoas ainda lembram dele. Isso traz mais responsabilidade para honrar esse legado.